No processo do ter e o haver do marxismo avulta em
importância a questão da alienação(que se imbrica por sua vez com
a do comunismo),que acho que permanece.
Já tenho tratado deste tema e não vou me repetir
aqui,mas vai parecer a quem lê este artigo que eu já tratei do
problema.Mas não é bem assim:novas luzes se me apresentaram.
A minha dúvida é que a consciência da alienação,no
plano da cultura,pode ser condição suficiente para
desalienar.Conforme eu já disse em outro artigo,seguindo o livro “
Marxismo e Alienação” de Leandro Konder ,Marx nunca substituiu o
conceito de alienação pelo de fetichismo da mercadoria,apenas
afirmou que só é possível desalienar o homem pela mudança do modo
de produção capitalista para o comunista.
Esta é uma das provas de que havia um certo quê de
inevitabilidade na concepção de Marx:o comunismo é uma
inevitabilidade necessária.Como todos os outros
pensadores,utópicos,desde o século XVIII,considerava o comunismo a
destinação da humanidade.
Sendo o capitalismo um sistema não só objetivo,mas
cultural e subjetivo,onde a consciência também joga um papel para
além das relações econômicas,a consciência das distorções
contidas nestas relações,é meio sim de desalienação.
Eu sempre escrevo artigos para que todos entendam e para
isto exemplos são fundamentais.Nesta questão eu sempre apresento
uma questão cultural do Brasil:Anitta e seu corpo.
Se por um lado há uma certa objetalização no uso do
corpo,por outro a sua exposição ,a exposição da mulher sem
repressão,ajuda na liberdade do gênero feminino.O capitalismo
apresenta estes dois lados.Ele é em grande parte hegeliano,no
sentido de que a contradição dialética se resolve em parte.Se
resolve em parte porque realmente persiste um problema,qual seja :de
que o corpo de Anitta cria um modelo de mulher,de beleza a ser
seguido,imposto pelo mercado.Mas isto é superável se se construir
outros modelos,através da cultura,modelos válidos e
principalmente para o mercado.
O principio de todo mercado ,e o do capitalismo está
incluido,é que qualquer pessoa pode entrar.Ele é como a
religião,que não pergunta por suas qualificações para entrar.
O fato de determinados “produtos” ofertados pelo
capitalismo serem menos procurados não significa que sejam objeto de
discriminação e exclusão.
No Brasil o modelo da mulher branca,loura, é imposto
sem dúvida e as barreiras para mulher negra são muitas,mas não
está dito que não é possível mudar isto no âmbito do mercado
capitalista.Não é culpa do capitalismo,mas de certos grupos e
ideias que o dominam,que constróem um nicho.Qualquer inovação
ameaça estes nichos.
É verdade que no interior da exploração a mulher tem
um salário menor para consagrar a baixa no custo do valor trabalho e
garantir os lucros do capitalista.Mas por outro lado ela tem
conseguido entrar no mercado de trabalho,porque tem capacidade de
consumir,o que agrada ao sistema.
Parece-me que não é tudo responsabilidade do
capitalismo e do mercado,mas do uso que se faz dele por parte de
certos interesses culturais e históricos,que se conectam com o
mercado.Existem outras mediações que Marx não notou.
A minha dúvida no artigo anterior era que no plano da
reificação ainda era necessário esta superação obrigatória do
capitalismo.Mas a resposta foi dada acima:o corpo de Anitta,como o
rosto de Marilyn Monroe em Andy Wharol,expressa um modelo de beleza e
comportamento e a sua imposição mercadológica é reificação,como
o trabalho excessivo que domina a existência do trabalhador em
geral.
Mas é factivel ,e isto já se comprovou, controlar isto
aí.Na maior parte da europa a semana é de 4 dias.
Se é assim não há inevitabilidade do fim do
capitalismo,exceto ,por uma
caracaterística do termo alienação,que é polissêmico:a alienação
está definida entre outros conceitos pelo de
potencialidade humana .O
capitalismo realmente promete ampla liberdade e oportunidades e esta
promessa precisa ser mantida,mas não o faz de fato,não o
efetiva,pelo que dissemos:quando um nicho econômico toma o poder
cria ideologias de justificação de sua permanência.Isto não vai
contra o capitalismo,mas o limita.Outras mediações aparecem,para
além do modo de produção, que o limitam:condições
geográficas,nivel de consciência,história,enfim muitas coisas,mas
que não são dificuldades capitalistas ,mas
da vida humana na sua relação com o meio.
A superação do capitalismo,a luta contra ele se dá
pela ampliação das oportunidades,ampliação total.O capitalismo
luta para garantir isto,mas tem como conseguir?Se outros fatores
,como os citados acima são tão importantes ,o capitalismo é
inocente neste meio?
A questão é que o capitalismo não tem como conseguir
porque ele não é o mais adaptado para usar estas mediações a
favor dele e da humanidade como um todo.
Ele é
dividido,dividido em nações e o mercado não tem como expressar
todas as necessidades e desejos da sociedade.O capitalismo tem a seu
favor o fato de que a liberdade do capitalista de acumular 300
empresas,para seu delirio, é sentida como idêntica por aquele que
tem uma pequena empresa suficiente para sua digna sobrevivência.O
pensar nos outros é,neste caso,odioso.A equação do futuro,no
entanto,é (será)como criar um regime que mantenha esta liberdade
individual que não é prejudicada pelo coletivo e que não prejudica
este último.Assunto para o próximo artigo