domingo, 24 de abril de 2022

Marx nunca autorizou a Revolução na Rússia II

 

Continuando e completando as análises deste artigo importantíssimo na história da utopia,devo dizer que Marx escreveu um texto muito simples,mas para chegar a esta simplicidade fez quatro rascunhos descobertos e reunidos por Riazanov,o editor famoso das obras de Marx e Engels(e de outros autores também).

O que se depreende destes rascunhos é a necessidade de mostrar a Vera Sazulitch que o que caracteriza a base capitalista da revolução comunista é que os produtores são expropriados de seus meios de trabalho totalmente.

Como Marx afirmou inúmeras vezes ,é preciso que as cadeias ,as limitações do passado à produção capitalista sejam quebradas para que o comunismo seja “ implantado”.

A comuna russa ,o centro das relações de Marx com os populistas,só teria esta condição de emancipação dos produtores se houvesse,primeiro,um desenvolvimento capitalista que a permitisse crescer.

E também não quer dizer que o modelo coletivista fosse o objetivo final do comunismo,o uso coletivo dos meios de produção individualmente considerados.Quando Marx fala em meios de produção do trabalhador,se refere às suas ferramentas.Que estão nas mãos das grandes empresas.Lógico que expropriando os expropriadores estas empresas passam para os trabalhadores em coletivo.

No entanto não tem sentido expropriar os capitalistas para o socialismo e o comunismo expropriarem de novo.É para devolver.

A base sócio-econômica da Revolução é o operariado.O termo proletário é anti-cientifico,porque deriva de um preconceito dos capitalistas que atribuíam a origem da miséria ao descontrole de natalidade supostamente tipico da classe oeprária,mas que é fruto do sistema econômico capitalista.

Fazer uma revolução deste tipo num país camponês não estava nos planos de Marx.O desenvolvimento da Comuna ,dos zemstvos,só seria possível quando as barreiras do passado fossem superadas.

Não verifiquei em lugar nenhum (se alguém tiver esta informação me passe)se Lênin leu este texto.Lênin se comunicou sempre com os populistas,de modo muito critico.Lênin não respeitava os populistas senão pelo principio da vontade,comum ao marxismo.Marx afirmava que era por uma vontade consciente que deveria ser feita a revolução: pela vontade do operário.O momento da consciência de exploração levaria à revolução.

Levando em conta que estes textos,estas cartas entre Marx e os populistas só foram reunidos por Riázanov,é mais provável que ele não tivesse conhecido,mas em termos teóricos a teoria do “ elo mais fraco” não tem fundamento em Marx,não sendo,como diz o marxismo-leninismo um “ acréscimo” legitimo.

É uma teoria leninista somente,levando em conta a situação revolucionária da Russia,país convulsionado por 500 anos e diante de um cataclismo nunca visto,como a 1 ª Guerra Mundial.Lênin soube usar estas duas colunas a favor do socialismo e do marxismo,mas a sua base era nenhuma.

Uma revolução especificamente camponesa não tem como prosperar e como se viu do impulso que a Revolução Russa proporcionou, todas as revoluções socialistas foram expropriadoras,foram regressivas(reacionárias),porque usaram os mesmos métodos para os mesmos objetivos de formação do estado nacional ocidental.A coletivização não foi mais do que isto,mas eu vou tratar dela no próximo artigo.

Para os que puderam ver o documentário “Bom Povo Português”,em pleno ocidente e em plena revolução portuguesa este erro de fundamento teve consequencias funestas:em 1975,quando os comunistas portugueses tinham aparente hegemonia,se deu uma tentativa de coletivizar o atrasado campesinato português,com a coletivização das enxadas e pás.Mas os camponeses não aceitaram isto aí e a Revolução entrou em outra fase...

Uma inserção da visão leninista no ocidente,que não tinha como dar certo.