domingo, 22 de maio de 2022

O que distingue um comunista de uma pessoa “comum”

 

Sempre me preocupou ser capaz de definir as coisas.Não acho possível alguém discorrer sobre algo sem antes defini-lo.Muita gente fala sobre comunismo e comunistas sem entender nada.Então é preciso contextualizar as coisas para que ,com o nivel de consciência crescendo, a compreensão melhore.

Este artigo busca desmistificar certas coisas.A suposta identificação dos comunistas(modernos?)com uma suposta ciência,dá-lhes uma suposta priorização e especialidade na vida social.Eles estariam à frente dos outros,supostamente ,no plano da solidariedade,porque detêem uma ciência definitiva que organiza a sociedade solidariamente.

A vida mostrou a falta de fundamento deste delirio,mas isto não acabou com a atitude comunista,o problema comunista.

No meu modo de entender é porque o que define o comunista é outra coisa.

O comunista,além desta característica supra-dita,explicita o engajamento e a solidariedade,não raro o tempo todo.Mas eu pergunto?Acaso não existem pessoas solidárias que não aparecem?Pois é,esta é uma pergunta que define o comunista:ele explicita e faz barulho em torno de seu engajamento,mas existem muitos solidários não-comunistas escondidos e silenciosos.

Neste processo,aparentemente bondoso e abnegado ,existem muitas mediações problemáticas.

Estas mediações problemáticas explicitam muitas questões de ciência politica,história e sociologia,porque existe um consenso na humanidade de que a atitude coletiva é boa,enquanto que o indivíduo,a atitude individual ,é ruim.

Na postura comunista clássica esta contraposição já começa a se desbaratar,porque aquilo que deveria ser coletivo só se manifesta individualmente.O personalismo da tradição comunista do século XX o prova com o culto à personalidade.

A exigência de uma personalidade unificadora do movimento é uma contradição profunda quanto ao desejos dos comunistas de mostrar que não s e faz nada sozinho,mas coletivamente.A luta de massa dos comunistas significa,em última instância ,ir do coletivo para o coletivo,o que de modo nenhum permite construir,pois se os indivíduos todos não estiverem contemplados,não há comunismo.

Isto é por culpa destas mediações todas,objetivas,concretas e subjetivas.

A prática do comunista,como se deu no século passado,é o seu engajamento permanente.Atitude de abnegação,de despojamento quanto ao dinheiro e a propriedade seduzem muitas pessoas,mas na hora do concreto,da realização, estas maneiras ,estes critérios,esbarram nas carências reais da cidadania.

Não é possível distribuir casas a esmo para as pessoas e muito menos retirar dos ricos e entregar pura e simplesmente para os pobres,porque isto não muda o sistema social.

A meu ver a primeira pessoa realmente comunista,no sentido moderno do termo foi Tomaso di Campanella,que aduziu a seu nome a campainha para fazer barulho pelo mundo e mostrar as suas injustiças.Depois ,no século XVI,a Revolução Inglesa de 1640 apresentou outras modalidades de comunismo e de comunistas.

O século XVIII juntou de novo o cristianismo com o comunismo,através das utopias jesuíticas.

Mas em todos eles a abnegação constante e barulhenta ,exposta ,estão presentes.

Contudo esta atitude é vista como suficiente para provar o solidarismo dos militantes.A vida provou também que isto só não é bastante:a abnegação excessiva às vezes e não raro reprime e oprime e é realizada por motivos escusos como estes e outros.

A pura e simples solidarização falseia as diferenças entre os homens e as reprime e oprime.

A pura e simples disposição para ajudar as pessoas depende muito, para não degringolar, de condições históricas ,porque sobram preconceitos do passado,costumes repressivos ,que se fazem sentir no socialismo,como,por exemplo,exigência de comportamento sexual,suprimindo a vida privada.

Assim sendo,um bom começo para reformular o conceito de “ comunista” é partir daquele abnegado silencioso,que realiza sem se locupletar.Talvez mesmo a mudança social tenha que ser feita assim,silenciosa,mas não escondida.