quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Marx( e Engels) é que nem Ptolomeu

Costuma-se culpar Engels por ter desvirtuado o pensamento de Marx,depois da morte deste,ao reunir sem muita lógica os dois volumes após o primeiro,de “ O Capital”.E não só em relação a este livro,mas tambem quanto ao Anti-Durinhg,o qual resume a concepção de ciência dos dois amigos autores.
Este último texto foi feito por Engels e apresentado a Marx,que com tudo concordou.
Contudo,no que tange ao Capital,a situação é diferente.Marx só completou em vida o primeiro volume ,dividido em dois tomos.Os segundo e terceiro volumes foram compilados por Engels,seu efetivo testamenteiro.E o quarto,sobre as teorias da mais-valia,por Kautsky,já que Engels havia morrido.
Este contexto todo impôs uma série de consequencias futuras graves até certo ponto,pois Engels foi acusado de desvirtuar Marx.
Esta discussão é muito extensa e eu a colocarei em outros artigos.Mas ela serve para discutir a relação entre estes dois pensadores e a interpretação que caiu sobre eles por parte dos seus seguidores.
Tanto no caso do Anti-Durinhg como no do Capital o problema central é o da concepção de ciência de ambos,aparentemente divergente.Engels teria enfatizado,contra Marx,o papel da ciência,em detrimento da História.Os marxistas se dividiram teoricamente entre os historicistas e os “ estruturalistas”:no primeiro os gramscianos e no segundo Althusser e Poulantzas.
Um capítulo famoso de “ Ler o Capital”,intitula-se “ O marxismo não é um historicismo”.
O modo-de-produção capitalista indica a justeza deste título,mas,no fundo não é possível separar uma estrutura de seus condicionantes histórico-temporais.
O tempo e o tempo histórico se fazem de determinados modos.Marx estuda o modo de ser do capitalismo,então estuda um modo de manifestação da História.O que é um modo,uma estrutura?Uma organização formal mais durável no tempo.Como o Ser e o devir,o Ser é o modo pelo qual o que existe se manifesta,segundo essências,conteúdos,substâncias e assim por diante.
Mas como disse Jean Wahl do Ser,se pode dizer o mesmo do modo e do tempo:o modo é extático ,é durável,mas não intocado pelo tempo.
Pertence ao cientificismo a convicção de que a estrutura,o modo de organização do real ,não se imbrica com o tempo histórico.São apenas durabilidades distintas,marcadas por mediações especificas.
A principal acusação a Engels é de que pelo uso cientificista da dialética(dialética objetiva)ele separou o amigo da História,mas isso,como vimos é impossível.
Contudo ,em Marx e Engels a concepção objetiva da dialética(conjuminada no Anti-Durinhg)pôs este problema na medida em que cria a ilusão de que o movimento dialético real altera o tempo histórico de maneira constante e definitiva.O tempo seria inelutavelmente dialético.
Muito embora Marx tenha se distinguido de Quesnay,em “ Salário,Preço e Lucro”,não aceitando o caráter fechado do sistema capitalista(conforme o “ Tableau Economique” deste fisiocrata),voltou ao erro pela aplicação da dialética.
Toda a questão da transformação dos preços de custo ,preços de produção em preços de venda,matéria do terceiro volume ,é distorcida por esta aplicação.
Engels não modificou nada em seu favor,ao organizar estes volumes,apenas deu seguimento a este erro.Do ponto vista editorial manteve-se o mais próximo de Marx,o que é o certo obviamente,mas não é culpa dele os problemas da dialética nos livros finais de O Capital,é culpa da dialética.Da dialética deles.
Neste sentido é que faz sentido o titulo deste artigo:como Ptolomeu formulou a teoria geocêntrica,por não ter elementos que lhe mostrassem a verdade,Marx e Engels foram induzidos a erros por entenderem a veracidade objetiva da dialética o que a ciência da natureza não confirma e não baseia.