domingo, 12 de setembro de 2021

Marxismo, “Filosofia” de nosso tempo

 


Marx e Sartre

Foi Sartre que apontou o marxismo como a “ filosofia” do nosso tempo,mas se ele observasse com cuidado veria que Marx não é propriamente um filósofo.Eu já provei isto aí.Ele é um pensador que trata de muitas coisas inter-relacionadas pela dialética.Tirando a dialética não tem nada ou antes disciplinas mais ou menos conectadas.

Contudo pela preocupação com a transformação,com a mudança,inerentes à admissão do movimento,como parte do saber, a questão da superação de determinados fundamentos do tempo ,conforme Hegel tinha proposto sobre nossa época,passou a ser essencial.A essência se movimenta ,quer dizer, se recoloca permanentemente e aquilo que era, já não é mais.Todo o tempo,toda a época tem os seus fundamentos ,as suas carcaterísticas,que se modificam e formam outro tempo.

Sartre ao afirmar que o marxismo era a filosofia do nosso tempo o condicionava às questões de nosso tempo.Superando este tempo,as questões e problemas do tempo são superadas.

E aí há ou não necessidade do marxismo?O marxismo se vai se os problemas denunciados por ele se vão também?

Esta afirmação sartreana é parcialmente verdade,porque os impasses de nossa época foram abordados por Marx e o marxismo,mas não só por ele.

Ao falar deste modo Sartre aceita a auto-arrogada proposição(pretensão)de Marx e do marxismo de ser o pensamento capaz de abordar o tempo in totum .

Para Marx a sua abordagem era a única científica e por isso única capaz de superar conscientemente aquilo que estava destinado a desaparecer.

O marxismo explicou porque ele tinha esta condição.Se esta premissa proposta está certa,então superado o tempo velho Marx e o marxismo vão com ele.Não porque ele fizesse parte do passado,mas porque o compreendeu bem,acertadamente.Mas analisando aquilo que ele considera passado é passado também ,porque está nele.

De qualquer forma,como fautor do futuro,ele é parte dele,por ter notado no passado e no presente o passo seguinte.Ainda assim,todo o arcabouço explicativo do marxismo desaparece,ficando ele como parte real e prática do futuro,que já não o é somente ,mas presente.

Trotsky,que compreendeu bem o marxismo ,embora não tivesse lido os escritos de juventude o analisara deste jeito num outro aspecto:o sistema socialista criado por Stalin(e por ele Trotsky)não era legitimo porque baseado na hegemonia da classe operária,quando o objetivo era a supressão da sociedade de classes.A vanguarda do operariado,superando a sociedade de classes acaba com a classe operária também e...consigo própria(a vanguarda),num movimento essencial e necessário.

Feito isto o que sobra do marxismo?Há algo que fica do marxismo,que transcenda esta passagem?O que fica do passado e do marxismo?

Proudhon afirmava que ,dentro da concepção da aufhebung,toda a época,todo passado,deixava alguma coisa de positiva no futuro.De certa forma,como explicamos antes,Marx pensava o mesmo,mas vendo no passado o germe do futuro,que o renega totalmente.Proudhon entende que no passado permanecem valores,idéias e tudo o mais,por sua qualidade,por sua legitimidade.

A sociedade escravocrata do passado criou obras de arquitetura,conhecimentos cientificos,que permanecem,apesar do sacrificio de pessoas inocentes.Tenho a impressão de que Marx concordaria aqui com Proudhon e muitos de seus seguidores deveriam saber disto aí...espirito de partido em história é bobagem,é infantilidade.É uma compreensão errada,proveniente da dialética simplificada dos tempos de Stalin,mas que estava ab ovo em Hegel(passando por Engels).

Mas o marxismo só permanece se entender ,se tiver efetivamente algo a ver com o que é transcendente na vida,mas ele é um materialismo,imanente,como todo materialismo. E aí as coisas complicam.