domingo, 5 de março de 2017

Em torno ao estado



Com isso eu não quero concordar com os anarquistas ,no sentido de destruir o estado com ações diretas,mas eu apoio a denúncia quanto ao falacioso e místico papel do estado.Desde Rousseau que se  busca a representação no estado,mas isto não acontece ,e de formas complexas(aparelhos ideológicos do estado[midia])as pessoas são mantidas numa inconsciente convicção de representação.
Não se há de negar que de Rousseau para cá,pelo menos esta luta tem se ampliado,mas de forma claramente insuficiente.
O que eu proponho é encarar o estado como inevitabilidade e recuperar uma mediação,problemática,também,mas mais real e capaz de situar o cidadão no seu cotidiano,que é a nação.
É lógico que marxistas tradicionais vão me acusar de querer fazer a conciliação de classe,mas eu expliquei o que significa conciliação de classe e o que significa em termos científicos considerar as classes separadas umas das outras,afrontando sociologia ,que mostra que a classe não existe por si.
Historicamente eu já mostrei também que os movimentos da História não são feitos só de luta de classes,mas de colaboração ou,pelo menos,que o conceito de luta de classes é mais amplo,tendo no seu interior uma realidade complexa de ataque e defesa permanentes de interesses e objetivos.
O Prefácio de 1857 me parece totalmente ultrapassado.O esquema de ruptura entre a forma e o conteúdo por causa do incremento das forças produtivas não tem sentido.
Como encaixar este esquema(teórico) na passagem da antiguidade ao feudalismo,em que as forças produtivas decairam drasticamente.Foi isso que gerou a mudança do mundo antigo até o feudalismo e o senhorio?Que revolução houve no sentido do “ Prefácio”.
Perry Anderson em seu livro “ Passagens da Antiguidade ao feudalismo” mostra como os arranjos entre classes ou grupos(já que o mundo estava em frangalhos)predominava,jogando aí um papel decisivo a Igreja Católica.
No livro que dá continuidade a este, “ Linhagens do estado Absolutista”,o mesmo autor mostra como o estado(-nação) moderno foi feito à base de extorsão das classes menos favorecidas.
E também,ainda me lembro de meu pai stalinista me explicando,citando stalin,a natureza burguesa do conceito de nação.
Lógico que só existira nação,com todos os problemas a que me referi acima,com o capital,mas hoje esta relação burguesia/nação,reconheçamos ,não é tão direta assim e foi assimilada por estas classes menos abonadas que exigem o reconhecimento dos seus direitos.
Estranhamente  os radicais de esquerda,com o Capital de Marx na mão, buscam ,contrariamente às concepções do teórico,trabalhar a relação com o estado porque não suportam o conceito burguês de nação,mas na verdade,inspirados pela URSS e despreparados teoricamente como são,querem as benesses do estado e não as dificuldades do cotidiano nacional,mas eu entendo que é aí que se podem carrear os recursos necessários para uma democracia a mais próxima do ideal.
Se no passado a extorsão dos mais pobres,juntamente com o capital da burguesia,construiu a nação,hoje,há uma alvissareira inversão:as classes trabalhadoras são mais numerosas e fala-se em exigir mais tributos dos ricos.Em alguns países estes tributos sobre os ricos são já realmente altos permitindo uma melhor distribuição de renda.
O esquema burguesia/proletariado já acabou há muito tempo,mas as viúvas do estado soviético continuam no seu misticismo,só vendo a realidade do estado.
O equilibrio entre as classes,média,operária,classes altas,estado e nação é que pode,por homogeneidade,criar as condições de progresso,enquanto a utopia não vem.