segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O papel da economia política



Com os artigos que fiz  sobre a ideologia alemã,mostrando que a idéia do comunismo é bem simples,podemos dizer que o estudo da “ anatomia” da sociedade não se dissocia daquelas afirmações do jovem Marx.
Existe sim um jovem e um velho Marx,na medida em que ele centra mais fogo na ciência do que nas especulações filosóficas de sua juventude.Contudo eu disse também que Marx publicou aquilo que  ele considerava deveras importante e foram predominantemente os estudos sobre a “ anatomia” da sociedade capitalista os publicados,o que induziu a todos a descartar ou entender errado o abandono dos textos primeiros,para criar e aceitar esta dicotomia entre um “ primeiro” Marx e um “ segundo “ Marx.
Não quer dizer que porque não publicou  não tem importância na obra posterior dele.Apenas o modo de resolver o problema colocado por ele no passado adquiriu prioridade óbvia.
A focalização da dicotomia alienação/fetichismo da mercadoria,ensejou as discussões sobre o “ corte epistemológico” que faz  nascer o “ Marx cientista”,deixando para trás o iniciante,o amador,não sei como definir.
Mas nos textos que eu li aqui com os senhores sobre a revolução na Rússia,fica claro que a não publicação não significa abandono de idéias.
Também jogou um terrível papel nesta confusão a questão das idéias.Por aí nós podemos efetivamente opor um velho Marx ao novo,porque é claro que ele atribui muito mais importância ao conhecimento da economia como elemento de ajuda às armas reais que farão à revolução,do que ao convencimento intelectual.
Mas assim como não se deve seguir tudo o que um autor diz dogmaticamente,a hermenêutica se aplica a qualquer autor e principalmente a Marx,que deve ser lido,às vezes,e não raro,contra ele próprio.
As idéias não são opostas à materialidade,à economia,à ciência.Ele,Marx,não pode compreender melhor a  autonomia das idéias e por isto a questão de resolver o problema da subsistência pareceu levar de roldão as necessidades culturais deste ser alienado sob o capitalismo.
Então eu não me preocupo a mínima em seguir e repetir os textos de Marx,mas os interpreto e os atualizo:existe uma dicotomia não na ciência mas na priorização pura e simples dos objetivos intelectuais de Marx,mas não existe na medida em que as idéias podem e deve ser incorporadas ao processo(contra ele[talvez])
A libertação do fetichismo leva de roldão a alienação.Isto é discutível aos olhos de hoje,mas não há abandono da alienação em Marx,no velho Marx, e não há substituição da especulação juvenil em nome da ciência,um erro do cientificismo moderno,cristalizado no citado “ corte” e que será assunto do próximo artigo,bem como  a  questão da alienação.
O que eu quero dizer aqui é que a luta para desenvolver a humanidade não é só no plano das condições de existência,mas  na formação de um novo cidadão ou homem e não é esta formação mero reflexo objetivo e ela se dá não pelo que a economia diz  ,mas pelo que deve dizer à economia a ação politica,senão inverteríamos o problema:o objeto gera o sujeito,o que não há como se depreender de Marx ,nem lhe associar como pensamento básico.
Não é porque as crises no capitalismo acontecem que o comunismo virá,mas virá se os processos de controle do capitalismo e que geram estas crises forem aplicados.
Se o estado intervier;se a acumulação primitiva e a criação do exército industrial de reserva forem evitados pelos sindicatos;se o consumismo for combatido dentro do equilíbrio entre as carências culturais e de sobrevivência,porque não se admite controle ao consumo cultural,mas há uma via para legitimar este controle,outro assunto,para outro e próximo artigo.

domingo, 18 de setembro de 2016

Porque o comunismo tem que ser rápido ou A dialética do revolucionário e da revolução



Alcançadas as pré-condições objetivas e subjetivas do comunismo é  só a  superação do Estado como representante de uma classe o que resta destruir,fazendo a  maioria predominar sobre a minoria exploradora.
Eu já falei em outro artigo que este esquema está ultrapassado  com  a concepção ampliada do estado de Gramsci ,mas de um modo geral se ainda pensamos que numa sociedade futura é possível elevar tanto as forças produtivas,com trabalhadores altamente conscientes(cidadãos) ,num mundo homogêneo e solidário,é possível fazer com  que o Estado adquira ,na sua função administrativa pura e simples aquilo que é a sua destinação impossível  de realizar até agora,por causa da sociedade de classes:representar a todos.
Como Engels demonstrou, isto só será possível quando ele exercer apenas estas funções  meramente administrativas.
De outro lado,como corolário disto,não há necessidade de vanguardas garantidoras deste processo novo.As vanguardas revolucionárias ,quando se perpetuam se totalitarizam inevitavelmente.
É condição,como notara Trotski,de uma sociedade sem classes , comunista,humana geral,que a vanguarda se dilua,porque aí o que predominam são as formas velhas de política,notadamente o despotismo esclarecido.Era assim que  Stanislavski via a figura de Stálin e é assim que Stalin  construiu o seu regime ,como um protetor declarado das artes,às claras ,e um massacrador contumaz,às escondidas(seguindo Maquiavel no capitulo VIII de  “ O Princípe”).
O revolucionário acaba quando o comunismo se estabelece,quando a revolução triunfa de fato.A dialética do revolucionário e da revolução é bem “ estranha”.