domingo, 12 de maio de 2019

A partir de kruschev

Aqueles que leram o meu artigo sobre Kruschev e o debate da cozinha,leiam de novo,porque vão entender melhor o que vou dizer aqui.
O que significou Kruschev ,em última instância,foi a derrota do projeto bolchevique.A URSS não tinha nada a oferecer aos seus cidadãos após a morte de Stalin.Faltava,como sempre,comida,itens básicos de vida,tudo dentro do projeto stalinista de garantir a URSS enquanto a revolução mundial não vinha.
O degelo ,no entanto,veio acompanhado da constatação de que o povo soviético não aguentaria mais a situação de repressão aliada à escassez.As decisões fundamentais de Kruschev foram feitas com a corda no pescoço.Kruschev liberalizou o regime ,em termos,e lançou a “ coexistência pacifica”,pela quê cada partido comunista ,no ocidente, usaria os meios da democracia para chegar ao poder,sem interferência da URSS.
A ideia de que se poderia chegar ao socialismo através da democracia,se deu por causa deste acuamento,derivado do vicio de origem que era( e é)fazer a revolução comunista num país atrasado.
Aqueles que lêem os meus artigos sabem que ,para mim ,esta experiência do socialismo real está definitivamente acabada.Eu faço perguntas do tipo: haveria possibilidade de salvar o sistema no governo Kruschev ou no de Gorbachev,não para salvar o movimento comunista e o socialismo real,mas para salvar a ideia de uma utopia?
A minha incorporação da geopolitica ao problema da Utopia,se deu exatamente no âmbito das minhas reflexões sobre o governo Kruschev.A questão do socialismo na URSS não é senão o do papel geopolitico da Rússia e do hemisfério norte na mudança desejada no resto do planeta.
Se houvesse um Partido Comunista forte e enraizado nos Estados Unidos,em 1929,a História do mundo e do século XX seria outra,mas não necessariamente, e isto é bom,no sentido de uma confrontação como a que vimos na Guerra-Fria.A URSS não ficaria isolada na Europa ,provavelmente, e o socialismo,mais democrático,se espalharia pelo continente inteiro.Quer dizer, o totalitarismo da URSS ,causado por este isolamento,não ocorreria.
A abertura de Kruschev imposta a ele pelos fatos mostra que o socialismo tinha fracassado lá e que o reatamento das relações comerciais com o” grande inimigo” marcava o reconhecimento deste fracasso.A “ coexistência pacifica” era um termo de compromisso para esperar a vitória do comunismo no ocidente,mas expressava o fracasso.Se a revolução não viesse, e não veio, a tendência inevitável era o colapso do sistema que se instalaria,inclusive por causa do comércio com os EUA,porque a população russa ficaria(como ficou) mais e mais interessada em consumir,destruindo a conformação criada por Stalin,na década de 30,com os planos quiquenais.
Se lembrarmos direitinho Stalin garantiu a permanência econômica(que é o que podia mantê-la)do país,privilegiando as grandes obras,a produção em grande escala, em detrimento do consumo.O contato com os EUA diluiu progressivamente este modelo.E levou de roldão o socialismo.
As questões que giram em torno de Kruschev não se resumem nele,mas no problema geral geopolitico da mudança global,que não existe se não começar ou pelo menos se fixar lá,no hemisfério norte.
Eu sou ,ainda,terceiro-mundista.Não vou tratar agora deste assunto,mas devo dizer que ainda que uma revolução do terceiro mundista venha a ocorrer,sem adesão do primeiro mundo não se completa,no minimo.
Na minha opinião,a partir destas reflexões e de Kruschev,se quisermos apressar um pouco a utopia temos que considerar este rerferencial geopolitico,subjacente ao movimento comunista.E se entendemos bem o significado do comércio EUA/URSS,a inclusão do primeiro país na conexão entre geopolitica e utopia evitará o surgimento do imenso poder autoritário stalinista da URSS,mas ,eventualmente,ajudará na versão liberal do último Kruschev(1964),que pretendia um regime multipartidário ou um regime deste jaez ,humano,como o de Dubcek,na Techoeslováquia.O crescimento do socialismo nos eua anuncia uma grande possibilidade.