segunda-feira, 21 de novembro de 2022

O pensamento de Lênin I Marx nunca autorizou a revolução na Rússia um ruido



No artigo em que eu demonstro cabalmente a posição de Marx sobre a Revolução na Russia,fica claro que as condições deste país não correspondiam àquilo que Marx e Engels entendiam ser a base de uma revolução comunista que eles esperavam e preconizavam.

Marx respondeu a uma das populistas mais importantes,Vera Sazulitch,que enviara para sua casa em Londres uma carta.

A resposta e os rascunhos que Marx realizou foram descobertos muito depois por Riazanov,que os publicou.

Aparentemente Vera recebeu esta missiva,mas o destino que deu a ela compromete muito o movimento comunista e a revolução na Rússia.

Isto porque ,conforme se vê de alguns autores do marxismo,Vera teria sido a motivadora desta revolução na cabeça de Lênin.

Na verdade,pelos estudos feitos em torno da trajetória de Lênin revela-se que ele nunca pessoalmente se colocou contra esta revolução.E tal se cristaliza em 1903 com a separação entre bolcheviques e mencheviques patrocinada por ele.Retrospectivamente,Lênin era o unico que defendia esta visão no seio do movimento marxista,que se expressava na social-democracia,a qual ele pertencia.

A distinção supra-citada se manteve na social-democracia russa e o bolchevismo era uma parte bastante pequena do movimento.Até 1912 a social-democracia tinha os mesmos compromissos que Lênin pedia quanto à guerra iminente:no congresso de Basileia,o trato era manter a unidade do movimento operário e rejeitá-la.

Como se sabe em 1914 a social-democracia descumpriu com estas promessas deixando Lênin sozinho na posição de contestação do conflito,como algo deletério para o movimento operário.

A direita afirma que a participação dos bolcheviques na guerra era para organizar a derrota da Rússia,o quanto pior melhor como impulsionador da revolução,mas o que Lênin propugnou foi ensinar ao soldado russo o caráter imperialista da guerra e como ela favorecia os interesses das classes altas.

Também,como se sabe,Lênin permaneceu sozinho até a eclosão da revolução de fevereiro.A partir deste fato e de outros supervenientes pode ele por as suas teorias em prática,nem sempre com o leme na mão(em outro artigo eu tratarei disto).

Mas a verdade é que a origem teórica do pensamento revolucionário de Lênin admitindo que a Revolução podia ser na Rússia não contrariava o pensamento de Marx,segundo ele,mas contrariava,porque este último não a autorizou.

Muitas coisas que foram atribuidas a Lênin vieram depois da constatação dos problemas da Revolução Russa,com o stalinismo.Exceto por uma decisão de Lênin,se pode dizer que ele não possuia o conhecimento da visão de Marx:quando apoiou a tese da revolução permamente de Trotsky.

Mas não se sabe a base teórica própria de Lênin,ele apenas seguiu Trotsky.Certamente tinha compreensão de que a revolução comunista era internacionalista,mas isto não o impediu de fazer a revolução na Rússia e mantê-la.

Todas as reflexões são para citar a afirmação de dois autores,Luciano Gruppi e notadamente Deutscher,que dão conta de que Zasulitch “convencera” Lênin da viabilidade da Revolução num país atrasado.Deustcher ,em o “Profeta Armado”,vol. 1,tratando do periodo de formação inicial do partido bolchevique cita Vera Zasulitch como aquela que trouxe Lênin para a revolução na Rússia.

Se foi assim,Vera mentiu para ele e só agora podemos analisar este problema,porque temos as cartas trocadas entre Marx e os populistas e os rascunhos recuperados por Riazanov.

Não há duvida de que Vera recebeu a resposta e não s e sabe se passou para Lênin.Uma pesquisa a fazer.O que podemos pensar é que ela não passou e que esta narrativa é um pouco construida pelos pósteros e se tornou um chavão para fundamentar a legitimidade de 17:toda a vez que se coloca a ilegitimidade alguém cita a discussão com os populistas,mas a verdade é que Marx não aceitou estas condições.

O máximo de proximidade que se tem com esta opinião de Marx se vê no trabalho de Michel Lowy “ As Lutas de Classe na Rússia”,mas lá não tem o texto responsivo de Marx,não sei por que causa.

Até ao presente momento não há prova de que Lênin tenha lido este texto,o que o separa de Marx.


sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Kruschev ,o relatório secreto e a reparação

 

Aqui começa  uma primeira especificação dos massacrados,uma sub-série.Pela primeira vez quero colocar o problema da violência do socialismo real contra pessoas inocentes.Eu sou o primeiro ,oriundo do comunismo ,a se pronunciar em favor disto aí ,em termos de reconhecimento autocrítico dos crimes cometidos pelo referido socialismo real.

Alguns amigos meus publicaram um livro pelo instituto Astrojildo Pereira sobre Kruschev e o relatório secreto.Ainda não li o livro,mas o que importa para mim é  que este é o ponto de partida do reconhecimento da necessidade de reparação financeira e juridica dos atingidos pelo totalitarismo soviético:se um dos seus realizadores,que é o secretário geral, reconheceu os crimes ,porque não fundamentar nisto a natureza da transgressão ocorrida nestes tempos?Porque não caracterizar estes atos como crimes,crimes contra os direitos humanos de cidadãos soviéticos?Porque não fundamentar neste (auto)-reconhecimento a reparação devida?

Esta reparação é uma reabilitação politica e financeira,como aconteceu aqui no Brasil.

A partir de Gorbachev muitas pessoas já foram reabilitadas,mas diante da quantidade,ainda falta muito.Putin ,no inicio de seu governo interminável,instituiu a comissão Iakovlev  para identificar as responsabilidades de Stalin nos crimes e concluiu pela sua inocência.

Já disse e vou dizer de novo:o regime atual na Rússia não é de orientação comunista,mas ele sofre com as mazelas do regime anterior e com os descaminhos da transição provocada em grande parte,na sua pressa,pelos Estados Unidos e Inglaterra.Putin nasceu e cresceu dentro deste sistema  e ele,por conseguinte,não tem como atentar contra o contexto em que ele foi formado.Senão, obviamente,ele mesmo é atingido.

Toda esta crise que atinge a Ucrânia tem a ver sim com a exigência da oposição em reparar os crimes da URSS.Quando Putin aplicou mais 15 anos de prisão para o maior oposicionista do país ele  o fez porque sentiu a sua base politica ruir.Então usou um diversionismo histórico conhecido:com a  guerra na Ucrânia ele retoma parte do apoio do nacionalismo russo tradicional e com uma guerra aparentemente interminável ,cria um perigo externo que cataliza certos outros setores da sociedade russa, aprofunda a ditadura,usando o aparelho repressivo para outros fins ,que não a guerra,ou seja, também no front interno.

Mas o ponto de partida juridico para se instituir comissões da verdade na Rússia é o reconhecimento de Kruschev no relatório.Não adianta vir agora dizer que foi o Instituto Astrojildo Pereira que fez.FUI EU.

 

 

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

O que distingue um comunista de uma pessoa " comum" II

 

Os comunistas estão na voragem do tempo sim

O meu primeiro artigo com este mesmo titulo me causou inúmeros problemas ,principalmente entre os que eu critico,que,como sempre,não contra-argumentaram,nem ponderaram,mas vociferaram e xingaram.

Mas eu continuo,não tem problema...

O que os comunistas fazem de diferente é explicitar a necessidade de mudança,de utopia.Como eu disse, a primeira figura histórica comunista, considero Tommaso de Campanella,que tem este nome porque se considera uma campainha sempre tilintando ,para acordar os homens para este objetivo.É um herdeiro de outro quase  comunista,Diógenes,o que segurava a lanterna.

Contudo,como expliquei no outro artigo, esta auto-arrogada exposição não confere vantagem a ninguém,muito menos certeza e direitos de governo.É só uma atitude,uma voz que se ergue e que mal começou na sua jornada dificílima de afirmação e sucesso.

O comunista(sincero e bom[não são todos])é como uma figura histórica que se levanta ,procura interpretar o seu tempo e dirigir a sociedade para o que ele acha uma finalidade.Mas repito:o sucesso não está pré-dado e esta uma das contradições do missionarismo comunista.

Se o missionário religioso,cristão, tem diante de si a perspectiva da eternidade,na qual confia,o comunista não.

Tal verdade põe problemas que nem sempre ele  sabe resolver,aliás nunca sabe.Porque se tornam problemas de fundo psicológico,coisa que o militante não sabe abordar,uma vez que é guiado pela vontade,pelo esforço físico e do coração.Ele supõe que a utopia está ali na esquina.Precisa psicologicamente acreditar que sim.

E na medida,no entanto,que considera o futuro pré-dado a eventualidade do fracasso não é considerada,a eventualidade da negação idem e quando estas coisas sobrevêm,a frustração é tanta que a psicose se instala,a meta-história se instala e o comunista descobre tardiamente que o tempo é para ele também,que ele não o domina,como disse erradamente Allende,poucos minutos antes de se suicidar.O(a)único(a)comunista que eu vi se preocupar com o tema e conceituá-lo foi a indefectivel Erundina,afirmando que todo sonhador da Terra Prometida dificilmente a vê.

 


sábado, 30 de julho de 2022

Marx nunca apoiou a Revolução na Rússia IV

                     Comparação entre a Revolução Francesa e a Russa


Uma das chaves para compreender o papel essencial das revoluções autênticas da humanidade é que elas são humano-universais.Isto se deu com a Revolução Francesa,com as Revoluções inglesas e naturalmente com a Revolução Russa.

No entanto,num certo sentido as Revoluções Russa e Francesa estão interligadas porque a segunda influenciou muito a primeira,através de Marx e o operariado francês.

Uma revolução como a francesa tem um problema crucial:ela , quer queira quer não,se espraia.Muita gente não entende porque Napoleão fez tantas guerras,porque a “vontade” dele foi esta...

Se existe alguém que desejasse mais a paz e um poder consolidado era ele.As guerras napoleônicas foram feitas contra ele e como decorrência da influência da Revolução,da qual ele era herdeiro.

Quantas tentativas Robespierre fez para que a a Revolução ficasse nos limites da França.E quando Napoleão chegou ao poder ,escreveu uma constituição,com a qual pretendia consolidar as conquistas da Revolução.

Mas o problema é que em outros lugares da Europa,onde ainda havia opressão aristocrática ,muitos povos queriam aderir a ela e a seus principios.Tal desejo desestabilizava o continente e fazia de Paris um irradiador de agitações.Por isso estas guerras.

Stalin,ao defender o socialismo em um país(mas debaixo dos panos açulando internacionalismo),queria o mesmo que Robespierre e Napoleão,sem chance de sucesso.

Bem ou mal a Revolução Russa interessa a determinados setores oprimidos no Ocidente.Apesar dos crimes e violências, parcelas do Ocidente seguiam-na.

No artigo anterior ,em que citei um texto de Engels sobre a Revolução Internacional,apresenta-se a solução destes desequilibrios gerais por causa de centros de agitação como Paris e Moscou:Napoleão não teve como estabilizar a Revolução da qual se beneficiava e garantir o seu poder e a Revolução Russa acabou por se estiolar neste socialismo nacional.Marx e Engels ao pensar numa Revolução primeiro no Ocidente ,sabiam que se esta fosse bem sucedida e pudesse desenvolver os recursos do capitalismo em nivel estratosférico,teria como ajudar aos povos atrasados.

A revolução francesa ,espalhando-se pela Europa através do cavalo de Napoleão,só possuia um jeito de ajudar a liberar poucas pessoas e grupos,mas uma,socialista,se crescesse em força,em dinheiro,em capacidade produtiva ,ajudaria os menos favorecidos de todos lugares numa perspectiva tal que isolaria as elites destes povos mais atrasados.

Imagine uma Europa ocidental forte chegando na Rússia para auxiliar os camponeses?Este é o sentido real de todo internacionalismo bem fundamentado,não aquele que começa com povos atrasados economicamente,mas nos evoluidos e com um senso de solidariedade socialista.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Marx nunca autorizou a revolução na Rússia III

 

Corroborando os artigos anteriores em que desmistifiquei para o público interno aquilo que já era sabido em muitos lugares e por muitos autores,que é o caráter distópico da Revolução Russa,trago um terceiro artigo fundamentando ainda mais com os clássicos do marxismo,esta minha assertiva.

Desta vez exponho afirmações de Engels ainda mais antigas do que as de Marx no final da vida.Trechos de Do socialismo utópico ao científico” confirmam que aquelas afirmações já contidas na Ideologia Alemã e publicadas por mim em A Ponte I,permaneceram como bases teóricas dos dois pensadores a vida deles inteira.Engels diz,num determinado momento:


Quer dizer só com bases objetivas,econômicas ,produtivas,que possibilitem a implantação do comunismo(não socialismo)de maneira rápida e a menos traumática desejável,é que se fará uma revolução.

Na parte de cima da citação de Engels nós vemos a repetição daquele mesmo trecho da Ideologia(parte dedicada ao comunismo)em que Marx se refere ao fato de que uma revolução comunista nacional não tem como prosperar e,fazendo até uma afirmação premonitória,profetiza que uma situação assim levaria a um socialismo místico e religioso(foi o que se viu com as liturgias politicas e com o culto à personalidade).

Engels chega a citar países e regiões que seriam minimante necessários para uma revolução:Inglaterra,America,Alemanha e França.Inglaterra,dizemos nós,pela classe operária mais organizada naquele então;América pela enorme capacidade produtiva(até hoje);a Alemanha,porque tinha o partido mais numeroso e preparado,a vanguarda do operariado;e a França ,porque tinha um pouco de todos eles.

Engels ,como já demonstrei,renunciou bem no final da vida,como tantos outros,aos critérios revolucionários subentendidos neste livro.Em próximo artigo tratarei disto,mas ,com este ou outro método,a revolução(não só em sentido político),de tipo comunista,precisa destas bases econômicas,que no capitalismo,são internacionais e,digo eu,preenchendo uma lacuna do pensamento de Marx e Engels,de bases subjetivas.

Tanto para Marx quanto para Engels,bastava esta base,compreendida pelo operariado(o termo científico,sociológico,é este,não proletariado,que é uma denominação pejorativa dada pela burguesia do século XIX)e a vontade ,depois da tomada de consciência ,de revolucionar a sociedade(se alguém dissesse isto,depois do advento da URSS e seu respectivo cânon,seria tachado de idealista,com as consequencias mais terríveis possíveis).

Mas o fato é que de 1848 até à morte de Engels,ambos nunca se referiram a uma revolução nacional,que é o que se tornou(conforme prova o historiador Ernst Nolte),por sua condição distópica,a revolução russa,que não deveria ,por isto,ter acontecido.



domingo, 22 de maio de 2022

O que distingue um comunista de uma pessoa “comum”

 

Sempre me preocupou ser capaz de definir as coisas.Não acho possível alguém discorrer sobre algo sem antes defini-lo.Muita gente fala sobre comunismo e comunistas sem entender nada.Então é preciso contextualizar as coisas para que ,com o nivel de consciência crescendo, a compreensão melhore.

Este artigo busca desmistificar certas coisas.A suposta identificação dos comunistas(modernos?)com uma suposta ciência,dá-lhes uma suposta priorização e especialidade na vida social.Eles estariam à frente dos outros,supostamente ,no plano da solidariedade,porque detêem uma ciência definitiva que organiza a sociedade solidariamente.

A vida mostrou a falta de fundamento deste delirio,mas isto não acabou com a atitude comunista,o problema comunista.

No meu modo de entender é porque o que define o comunista é outra coisa.

O comunista,além desta característica supra-dita,explicita o engajamento e a solidariedade,não raro o tempo todo.Mas eu pergunto?Acaso não existem pessoas solidárias que não aparecem?Pois é,esta é uma pergunta que define o comunista:ele explicita e faz barulho em torno de seu engajamento,mas existem muitos solidários não-comunistas escondidos e silenciosos.

Neste processo,aparentemente bondoso e abnegado ,existem muitas mediações problemáticas.

Estas mediações problemáticas explicitam muitas questões de ciência politica,história e sociologia,porque existe um consenso na humanidade de que a atitude coletiva é boa,enquanto que o indivíduo,a atitude individual ,é ruim.

Na postura comunista clássica esta contraposição já começa a se desbaratar,porque aquilo que deveria ser coletivo só se manifesta individualmente.O personalismo da tradição comunista do século XX o prova com o culto à personalidade.

A exigência de uma personalidade unificadora do movimento é uma contradição profunda quanto ao desejos dos comunistas de mostrar que não s e faz nada sozinho,mas coletivamente.A luta de massa dos comunistas significa,em última instância ,ir do coletivo para o coletivo,o que de modo nenhum permite construir,pois se os indivíduos todos não estiverem contemplados,não há comunismo.

Isto é por culpa destas mediações todas,objetivas,concretas e subjetivas.

A prática do comunista,como se deu no século passado,é o seu engajamento permanente.Atitude de abnegação,de despojamento quanto ao dinheiro e a propriedade seduzem muitas pessoas,mas na hora do concreto,da realização, estas maneiras ,estes critérios,esbarram nas carências reais da cidadania.

Não é possível distribuir casas a esmo para as pessoas e muito menos retirar dos ricos e entregar pura e simplesmente para os pobres,porque isto não muda o sistema social.

A meu ver a primeira pessoa realmente comunista,no sentido moderno do termo foi Tomaso di Campanella,que aduziu a seu nome a campainha para fazer barulho pelo mundo e mostrar as suas injustiças.Depois ,no século XVI,a Revolução Inglesa de 1640 apresentou outras modalidades de comunismo e de comunistas.

O século XVIII juntou de novo o cristianismo com o comunismo,através das utopias jesuíticas.

Mas em todos eles a abnegação constante e barulhenta ,exposta ,estão presentes.

Contudo esta atitude é vista como suficiente para provar o solidarismo dos militantes.A vida provou também que isto só não é bastante:a abnegação excessiva às vezes e não raro reprime e oprime e é realizada por motivos escusos como estes e outros.

A pura e simples solidarização falseia as diferenças entre os homens e as reprime e oprime.

A pura e simples disposição para ajudar as pessoas depende muito, para não degringolar, de condições históricas ,porque sobram preconceitos do passado,costumes repressivos ,que se fazem sentir no socialismo,como,por exemplo,exigência de comportamento sexual,suprimindo a vida privada.

Assim sendo,um bom começo para reformular o conceito de “ comunista” é partir daquele abnegado silencioso,que realiza sem se locupletar.Talvez mesmo a mudança social tenha que ser feita assim,silenciosa,mas não escondida.


domingo, 24 de abril de 2022

Marx nunca autorizou a Revolução na Rússia II

 

Continuando e completando as análises deste artigo importantíssimo na história da utopia,devo dizer que Marx escreveu um texto muito simples,mas para chegar a esta simplicidade fez quatro rascunhos descobertos e reunidos por Riazanov,o editor famoso das obras de Marx e Engels(e de outros autores também).

O que se depreende destes rascunhos é a necessidade de mostrar a Vera Sazulitch que o que caracteriza a base capitalista da revolução comunista é que os produtores são expropriados de seus meios de trabalho totalmente.

Como Marx afirmou inúmeras vezes ,é preciso que as cadeias ,as limitações do passado à produção capitalista sejam quebradas para que o comunismo seja “ implantado”.

A comuna russa ,o centro das relações de Marx com os populistas,só teria esta condição de emancipação dos produtores se houvesse,primeiro,um desenvolvimento capitalista que a permitisse crescer.

E também não quer dizer que o modelo coletivista fosse o objetivo final do comunismo,o uso coletivo dos meios de produção individualmente considerados.Quando Marx fala em meios de produção do trabalhador,se refere às suas ferramentas.Que estão nas mãos das grandes empresas.Lógico que expropriando os expropriadores estas empresas passam para os trabalhadores em coletivo.

No entanto não tem sentido expropriar os capitalistas para o socialismo e o comunismo expropriarem de novo.É para devolver.

A base sócio-econômica da Revolução é o operariado.O termo proletário é anti-cientifico,porque deriva de um preconceito dos capitalistas que atribuíam a origem da miséria ao descontrole de natalidade supostamente tipico da classe oeprária,mas que é fruto do sistema econômico capitalista.

Fazer uma revolução deste tipo num país camponês não estava nos planos de Marx.O desenvolvimento da Comuna ,dos zemstvos,só seria possível quando as barreiras do passado fossem superadas.

Não verifiquei em lugar nenhum (se alguém tiver esta informação me passe)se Lênin leu este texto.Lênin se comunicou sempre com os populistas,de modo muito critico.Lênin não respeitava os populistas senão pelo principio da vontade,comum ao marxismo.Marx afirmava que era por uma vontade consciente que deveria ser feita a revolução: pela vontade do operário.O momento da consciência de exploração levaria à revolução.

Levando em conta que estes textos,estas cartas entre Marx e os populistas só foram reunidos por Riázanov,é mais provável que ele não tivesse conhecido,mas em termos teóricos a teoria do “ elo mais fraco” não tem fundamento em Marx,não sendo,como diz o marxismo-leninismo um “ acréscimo” legitimo.

É uma teoria leninista somente,levando em conta a situação revolucionária da Russia,país convulsionado por 500 anos e diante de um cataclismo nunca visto,como a 1 ª Guerra Mundial.Lênin soube usar estas duas colunas a favor do socialismo e do marxismo,mas a sua base era nenhuma.

Uma revolução especificamente camponesa não tem como prosperar e como se viu do impulso que a Revolução Russa proporcionou, todas as revoluções socialistas foram expropriadoras,foram regressivas(reacionárias),porque usaram os mesmos métodos para os mesmos objetivos de formação do estado nacional ocidental.A coletivização não foi mais do que isto,mas eu vou tratar dela no próximo artigo.

Para os que puderam ver o documentário “Bom Povo Português”,em pleno ocidente e em plena revolução portuguesa este erro de fundamento teve consequencias funestas:em 1975,quando os comunistas portugueses tinham aparente hegemonia,se deu uma tentativa de coletivizar o atrasado campesinato português,com a coletivização das enxadas e pás.Mas os camponeses não aceitaram isto aí e a Revolução entrou em outra fase...

Uma inserção da visão leninista no ocidente,que não tinha como dar certo.


terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Marxismo e Direito

 

As minhas primeiras elucubrações sobre o direito e sua relação com o marxismo datam de muito tempo.Mas depois de muito tempo também sem refletir,amadureci a minha visão para ser ainda mais crítico.

Na verdade o comunismo,na sua forma conhecida do século XX,reproduziu o pensamento de Lênin sobre a democracia burguesa em “ A doença Infantil do esquerdismo”:usar a democracia burguesa para passar por cima dela.Mas neste caso ele tem o precedente de Marx e Engels mesmo,que consideravam o direito como uma forma ancillar no processo de exploração,uma forma ideológica de sua justificação.

Este ,aliás ,é um dos momentos em que se prova a distinção entre o jovem e o velho Marx:na crítica à filosofia do direito de Hegel Marx ainda considera o direito uma forma autônoma,mas posteriormente a caracteriza como este modelo distorsivo da realidade.Marx a reduz como simples “superestrutura”.

Na minha visão ,em todos os principais clássicos do marxismo,Marx,Engels e Lênin repercutem uma visão que provém da alienação e a questão moderna da alienação provém,por sua vez ,de Rousseau.

Como todos sabemos , em Rousseau a soberania politica do cidadão é exercida por ele mesmo,sendo tudo o que o nega,como o sistema representativo burguês,um fator de alienação da vontade,que é,para Rousseau,inalienável.

A perspectiva de uma revolução comunista regeneradora é para reunir o homem com o homem,removendo as mediações alienantes ,a exploração do homem pelo homem(Lênin).Quer dizer,aquilo que era abstrato em Rousseau tornou-se concreto no marxismo.

Contudo em Rousseau a lei tem um papel ,de expressar evidentemente a vontade geral,o exercicio direto do poder pelo cidadão.

No marxismo ficou sempre o revérbero do Marx velho:como superestrutura o direito também deve ser eliminado para que o homem se desaliene e encontre a sua libertação,mas eu sou kantiano e não existe liberdade,sem direito,sem norma.

sábado, 12 de fevereiro de 2022

Marx não autorizou a revolução na Rússia I

 

Depois de anos de estudos,encontrei o texto que o prova.Toda a vez que este problema é posto para análise se fala naturalmente das cartas trocadas entre Marx e os Populistas russos,conhecidos como narodniks.

Michel Lowy as reuniu num livro importantíssimo publicado aqui no Brasil sob o titulo “As lutas de Classe na Rússia” e lá ele diz que em uma carta Engels teria dito que “só poderia haver uma revolução na Rússia após uma revolução na europa central”.

Mas Theodor Shanin publicou a resposta de Marx à Vera Sazúlitch desautorizando uma revolução naquele país.Vamos por partes:Vera enviou uma carta a Marx perguntando exatamente isto.

Esta é a carta em espanhol:

Vera Zasulich: Carta a Marx
Honorable ciudadano:
16 de febrero de 1881
Ginebra,
Rue de Lausanne, n." 49,
L'Imprimerie polonaise.
No ignora usted que [su]
El Capital goza de gran popularidad en Rusia. Aunque la edición ha sido confiscada, los pocos
ejemplares restantes son leídos y releídos por la masa de gente
más o menos educada de nuestro país; personas serias lo están
estudiando.
Lo que probablemente usted no advierte es el papel que [su] El Capital desempeña en nuestras discusiones acerca de la cuestión agraria en Rusia y sobre nuestra comuna rural. Sabe usted mejor que nadie cuán urgente es este problema
en Rusia. Sabe también lo que Chemyshevski pensaba acerca
de ello. Nuestra literatura progresista -por ejemplo,
Otechestvennye Zapiski- sigue desarrollando sus ideas. Pero, en mi opinión, es sobre todo una cuestión de vida o muerte para nuestro partido socialista. En un sentido o en otro, incluso el destino personal de nuestros socialistas revolucionarios depende
de su respuesta a esta pregunta. Pues hay sólo dos posibilidades. O bien la comuna rural, liberada de la exigencia de impuestos exorbitantes, pagos a la nobleza y a la administración
arbitraria, es capaz de desarrollarse en una dirección socialis-
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ta; es decir, de organizar gradualmente su producción y su distribución sobre una base colectivista, en cuyo caso los socialistas revolucionarios deben dedicar todas sus fuerzas a la liberación y desarrollo de la comuna.
O bien, en cambio, la comuna está destinada a perecer y, entonces, todo lo que resta a los socialistas, como tales, es hacer
cálculos más o menos bien fundados acerca de cuántas décadas tardará la tierra de los campesinos rusos en pasar a manos
de la burguesía y cuántos siglos tardará el capitalismo en Rusia
en alcanzar el nivel de desarrollo ya alcanzado en Europa occidental. Su
tar~a entonces será dirigir su propaganda fundamentalmente a los trabajadores urbanos, quienes, a su vez, se
verán continuamente anegados en la masa campesina que,
como consecuencia de la disolución de la comuna, se arrojarán
a las calles de las grandes ciudades en busca de un salario.
Actualmente escuchamos decir con frecuencia que la comuna rural es una forma arcaica condenada por la historia a perecer, por el socialismo científico y, en resumen, por todo lo
que es indiscutible. Quienes predican ese punto de vista se llaman a sí mismos discípulos suyos
par excellence: "marksistas".
Su argumento más fuerte con frecuencia es: "Marx lo dice".
"¿Pero cómo deducen eso de
El Capital?, objetan otros."
"El no trata la cuestión agraria, y no dice nada sobre Rusia."
"Pero lo hubiera dicho si hubiera tratado sobre Rusia", replican sus discípulos, tal vez con demasiada temeridad. De
modo que usted comprenderá, ciudadano, cuán interesados estamos en su opinión. Nos haría usted un gran favor si expusiera sus ideas acerca del posible destino de nuestra comuna rural
y sobre la teoría de que es históricamente necesario que cada
país del mundo atraviese todas las fases de la producción
capitalista.
En nombre de mis amigos, me tomo la libertad de pedirle
a usted, ciudadano, que nos haga este favor.
Si el tiempo no le permite a usted exponer sus ideas de manera muy detallada,
al menos sea usted tan amable de hacerlo
128
en forma de una carta que nos permita usted traduoir y publicar en Rusia.
Mi dirección es:
Respetuosamente le saluda
Vera Zasulich
lmprimerie Polonaise,
Rue de Lausanne, n.
o49,
Ginebra.

Marx respondeu desta forma:

8 de marzo de 1881
41, Maitland Park Road, Londres, N. W.
Querida ciudadana:
Una dolencia nerviosa que me ha afectado periódicamente
durante los últimos diez años me ha impedido contestarle antes su carta del 16 de febrero. Lamento no poder darle un informe conciso para su publicación sobre la cuestión que me
hizo usted el honor de plantearme. Hace algunos meses, ya prometí un texto sobre el mismo tema al Comité de San Petersburgo20. Sin embargo, espero que unas pocas líneas bastarán
para que no le quede a usted duda alguna acerca de la forma
en que mi supuesta teoría ha sido mal interpretada.
Analizando la génesis de la producción capitalista, dije:
"En el corazón del sistema capitalista, se encuentra una
compleja separación del... productor respecto de los medios de
producción...
la expropiación del productor agrícola es la base
de todo el proceso. Sólo en Inglaterra se ha llevado a cabo de
manera radical...
Pero todos los otros países de Europa occidental están siguiendo el mismo curso. El Capita~ edición francesa, pág. 315"21 •
La "inevitabilidad histórica" de esta evolución, por tanto,
está expresamente limitada a los países de Europa occidental. La
razón de esta restricción se indica en el capítulo XXXII: "La
propiedad privada basada en el tr
abajo personal... es suplantada por la propiedad privada capitalista, que descansa en la explotación del trabajo de otros, el trabajo asalariado". (Loe. cit.,
pág. 340.)22
En el caso occidental, por tanto, una forma de propiedadprivada se transformó en otra forma de propiedad privada. En el
caso de los campesinos rusos, sin embargo
, su propiedad comunal debería ser transformada en propiedad privada.
El análisis de El Capital, por tanto, no aporta razones ni en
pro ni en contra de la vitalidad de la comuna rusa. Sin embargo, el estudio especial que he hecho sobre ella, que incluye una
búsqueda de material original, me ha convencido de que la comuna es el punto de apoyo para la regeneración social de Rusia. Pero, para que pueda funcionar como tal, las influencias da-
ñinas que la asaltan por todos lados deben ser primero eliminadas y luego se le deben garantizar las condiciones normales
para su desarrollo espontáneo.
Tengo el honor, querida ciudadana, de ser su afectísimo y s. s.
Karl Marx
12 /bid.
162
Como se vê Marx não autorizou a Revolução na Rússia.A Revolução deveria começar no Ocidente.Quando eu era militante falava-se muito na Inglaterra ,mas no final da vida de Marx e Engels o centro de gravidade da Revolução era a Alemanha,onde um partido de inspiração marxista,o social-democrático se organziou e adquiriu ampla repercussão nas massas trabalhadoras alemãs.

Então a questão da tese do “ elo mais fraco” de Lênin não tem fundamento em Marx,muito menos a aliança com o campesinato,que acabou sendo a vanguarda da revolução contra Marx,na URSS,na China e no Camboja (e em outros lugares também como no Vietnam...).

Ignoro até agora se Lênin teve contato com este texto.Se alguém pode me contatar aqui,porque eu ainda estou procurando este fato,confirmar este fato.

Mas se leu não deveria ter enveredado por este caminho de precipitação,sob nenhuma justificativa outra que fosse.

Vou analisar as consequencias econômicas e politicas disto tudo.


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Porque incorporei a geopolitica nos estudos sobre o marxismo

 

As pessoas me perguntam porque incluí nos meus artigos sobre o marxismo,que faço aqui no blog A Ponte,a geopolitica.É claro que,em primeiro lugar porque considero válida a geopolitica como teoria explicativa da politica e da história.Não vou por aqui uma discussão(ainda)sobre a sua cientificidade e no inicio do meu contato com a geopolitica eu a entendia como um meio de dominação e conquista dos povos europeus e a sua origem é esta mesmo.Como a antropologia,a sociologia,a geopolitica nasceu de objetivos escusos de dominação e conquista,mas como as duas primeiras modificou-se e serve a propósitos legitimos.

Também não colocarei aqui a historia da geopoitica,coisa que eu já fiz em meu livro “Geopolitica da Utopia”,mas há que lembrar en passent que ela surgiu da necessidade de simplificar processos históricos bélicos,por parte dos povos europeus coloniais.

A oposição de Halford Mckinder entre a massa de terra e as massas de água busca fundamento para a hegemonia inevitável de determinados povos.

Como todo o conhecimento(o vemos na questão nuclear)ele pode ser usado para o bem ou para o mal.Com a geopolitica,que surgiu assim orientada pelo e para o mal,ocorre algo simile:se ela surgiu destes propósitos de dominação,de hegemonia,hoje tem como ser vista como o conhecimento simplificador da utopia.

Quando existia a URSS,a luta pelo comunismo era de todo o mundo ,do terceiro inclusive.Hoje o deslocamento da luta se dá para o primeiro mundo.Se ele não se engajar o resto não vai.

Conforme as analises da terceira internacional ,se houvesse em 1929 uma revolução comunista nos Estados Unidos,todo o resto do mundo a seguiria.

Seguindo este raciocinio eu penso que só os Estados Unidos não seriam suficientes.O primeiro mundo ,o hemisfério norte teria que passar por um processo revolucionário bem sucedido.

Conforme,no entanto,o que eu disse no meu referido livro,as revoluções leninistas e marxistas estão ultrapassadas.O processo terá que ser de tipo reformista e como eu disse lá,se conseguissemos fazer deste hemisfério norte uma imensa Suécia ,a retomada da ideia comunista poderia ser imediata.


sábado, 5 de fevereiro de 2022

alienação de novo.novos vislumbres

 

No processo do ter e o haver do marxismo avulta em importância a questão da alienação(que se imbrica por sua vez com a do comunismo),que acho que permanece.

Já tenho tratado deste tema e não vou me repetir aqui,mas vai parecer a quem lê este artigo que eu já tratei do problema.Mas não é bem assim:novas luzes se me apresentaram.

A minha dúvida é que a consciência da alienação,no plano da cultura,pode ser condição suficiente para desalienar.Conforme eu já disse em outro artigo,seguindo o livro “ Marxismo e Alienação” de Leandro Konder ,Marx nunca substituiu o conceito de alienação pelo de fetichismo da mercadoria,apenas afirmou que só é possível desalienar o homem pela mudança do modo de produção capitalista para o comunista.

Esta é uma das provas de que havia um certo quê de inevitabilidade na concepção de Marx:o comunismo é uma inevitabilidade necessária.Como todos os outros pensadores,utópicos,desde o século XVIII,considerava o comunismo a destinação da humanidade.

Sendo o capitalismo um sistema não só objetivo,mas cultural e subjetivo,onde a consciência também joga um papel para além das relações econômicas,a consciência das distorções contidas nestas relações,é meio sim de desalienação.

Eu sempre escrevo artigos para que todos entendam e para isto exemplos são fundamentais.Nesta questão eu sempre apresento uma questão cultural do Brasil:Anitta e seu corpo.

Se por um lado há uma certa objetalização no uso do corpo,por outro a sua exposição ,a exposição da mulher sem repressão,ajuda na liberdade do gênero feminino.O capitalismo apresenta estes dois lados.Ele é em grande parte hegeliano,no sentido de que a contradição dialética se resolve em parte.Se resolve em parte porque realmente persiste um problema,qual seja :de que o corpo de Anitta cria um modelo de mulher,de beleza a ser seguido,imposto pelo mercado.Mas isto é superável se se construir outros modelos,através da cultura,modelos válidos e principalmente para o mercado.

O principio de todo mercado ,e o do capitalismo está incluido,é que qualquer pessoa pode entrar.Ele é como a religião,que não pergunta por suas qualificações para entrar.

O fato de determinados “produtos” ofertados pelo capitalismo serem menos procurados não significa que sejam objeto de discriminação e exclusão.

No Brasil o modelo da mulher branca,loura, é imposto sem dúvida e as barreiras para mulher negra são muitas,mas não está dito que não é possível mudar isto no âmbito do mercado capitalista.Não é culpa do capitalismo,mas de certos grupos e ideias que o dominam,que constróem um nicho.Qualquer inovação ameaça estes nichos.

É verdade que no interior da exploração a mulher tem um salário menor para consagrar a baixa no custo do valor trabalho e garantir os lucros do capitalista.Mas por outro lado ela tem conseguido entrar no mercado de trabalho,porque tem capacidade de consumir,o que agrada ao sistema.

Parece-me que não é tudo responsabilidade do capitalismo e do mercado,mas do uso que se faz dele por parte de certos interesses culturais e históricos,que se conectam com o mercado.Existem outras mediações que Marx não notou.

A minha dúvida no artigo anterior era que no plano da reificação ainda era necessário esta superação obrigatória do capitalismo.Mas a resposta foi dada acima:o corpo de Anitta,como o rosto de Marilyn Monroe em Andy Wharol,expressa um modelo de beleza e comportamento e a sua imposição mercadológica é reificação,como o trabalho excessivo que domina a existência do trabalhador em geral.

Mas é factivel ,e isto já se comprovou, controlar isto aí.Na maior parte da europa a semana é de 4 dias.

Se é assim não há inevitabilidade do fim do capitalismo,exceto ,por uma caracaterística do termo alienação,que é polissêmico:a alienação está definida entre outros conceitos pelo de potencialidade humana .O capitalismo realmente promete ampla liberdade e oportunidades e esta promessa precisa ser mantida,mas não o faz de fato,não o efetiva,pelo que dissemos:quando um nicho econômico toma o poder cria ideologias de justificação de sua permanência.Isto não vai contra o capitalismo,mas o limita.Outras mediações aparecem,para além do modo de produção, que o limitam:condições geográficas,nivel de consciência,história,enfim muitas coisas,mas que não são dificuldades capitalistas ,mas da vida humana na sua relação com o meio.

A superação do capitalismo,a luta contra ele se dá pela ampliação das oportunidades,ampliação total.O capitalismo luta para garantir isto,mas tem como conseguir?Se outros fatores ,como os citados acima são tão importantes ,o capitalismo é inocente neste meio?

A questão é que o capitalismo não tem como conseguir porque ele não é o mais adaptado para usar estas mediações a favor dele e da humanidade como um todo.

Ele é dividido,dividido em nações e o mercado não tem como expressar todas as necessidades e desejos da sociedade.O capitalismo tem a seu favor o fato de que a liberdade do capitalista de acumular 300 empresas,para seu delirio, é sentida como idêntica por aquele que tem uma pequena empresa suficiente para sua digna sobrevivência.O pensar nos outros é,neste caso,odioso.A equação do futuro,no entanto,é (será)como criar um regime que mantenha esta liberdade individual que não é prejudicada pelo coletivo e que não prejudica este último.Assunto para o próximo artigo


domingo, 16 de janeiro de 2022

Quando falo em social-democracia

 

Quando falo em social democracia recebo pedradas como sempre,dos radicais e todos eles me opõem os inumeráveis “crimes” cometidos pela II internacional,de onde eu parto.

Deixa eu explicar com calma:em primeiro lugar, por mais que a social-democracia tenha cometido erros e crimes ,esstes não chegam nem aos pés de outras tradições ditas socialistas e comunistas.

É verdade sim:foi um erro da II Internacional apoiar a guerra em 14,com consequencias graves para a humanidade e para os trabalhadores.Lênin tem razão em dizer que a II Internacional descumpriu com o que foi acordado no Congresso de Basiléia em 1912:se houvesse uma guerra ,os partidos socialistas se uniriam para evitá-la.

Não procede justificar a mudança de postura ,de 1912 a 1914,alegando as reflexões de Engels ,no século XIX,sobre o perigo russo.

Estas vacilações da II Internacional acabaram por ajudar indiretamente à Revolução Russa e à Lênin,em seu combate radical à guerra imperialista.

Ainda persistem dúvidas sobre se houve intervenção da social-democracia no assassinato de Karl Liebknecht em 1919.

Contudo, não se trata de falar nas pessoas e em certos eventos(em termos naturalmente,porque certos eventos podem comprometer),mas no método politico que conduz à utopia.

Após o congresso de Bad Godesberg,a social-democracia ficou aguada,realmente sem a perpsectiva de transformação da sociedade,em direção a uma sociedade sem classes.

Mas,por exemplo,no interior da revolução portuguesa de 1975,Mario Soares ainda falava em uma utopia comunista,mas a partir de critérios e métodos democráticos,que poderiam levar muito tempo,mas que não causariam a destruição que a ação desatinada dos radicais causou.Os radicais ,de ontem e de hoje,afirmariam em contrário que é muito fácil falar em reforma com milhões de pessoas sofrendo.Isto incrementa o debate que vem até hoje é o que me anima na minha posição atual social-democrática.Mas disto falarei em outro artigo.