sábado, 2 de abril de 2016

Em torno a Guevara VIII



Mas é necessário continuar a analisar estes textos e aprofundar a discussão sobre o comunismo e o papel do Estado.Para mim ,como já disse, a URSS é uma contradição com os textos de Marx que como eu também disse , demonstram uma certa oscilação.A pesquisa continua mas até agora não há nada que indique que exista uma concordância entre Marx e  Engels nesta questão e pelo menos os seguidores  sempre falaram em termos de Engels,ou seja,de uma filosofia da história ou uma concepção de fases da história.Não teria existido o capitalismo sem o escravismo antigo,não podendo a humanidade saltar etapas e estas expressariam o racionalismo da razão humana,pelo qual era preciso e inevitável o sofrimento do escravo para que chegássemos às condições da utopia.Em próximo artigo eu vou falar sobre isto,mas agora trata-se de aprofundar esta questão  dos fundamentos reais do marxismo.
Desta vez nós vamos trabalhar um pouco um texto de Lênin,”O Estado e a Revolução”,que foi objeto de um curso montado por mim no sindicato dos professores do Rio de Janeiro,quando eu ainda acreditava em farsantes.Neste curso ministrado por Carlos Nelson Coutinho o mesmo estabeleceu os limites redutivos da concepção de Lênin sobre o Estado,segundo o fundador do estado soviético,repetindo as concepções de Marx e Engels.Quer dizer,como um defensor de Gramsci e a sua concepção ampliada do estado ,Carlos Nelson  queria demonstrar(conseguindo)que a teoria do estado de Marx Engels e Lênin não correspondia mais  à realidade.Para Carlos Nelson ,o “Estado e Revolução” era uma tese de mestrado que visava a reunir as concepções de Marx sobre o Estado de modo a fundar a revolução vindoura e por isso tinha mérito dentro desta moldura de resenha,mas não com relação ao processo de mudança revolucionária que devia considerar o problema de outra maneira,no século XX.
Pelo que temos analisado a recuperação destes textos por Lênin nos serve para demonstrar quais  os fundamentos do marxismo  que não servem mais ou nunca serviram.
Lênin começa repetindo  a assertiva que eu já ataquei deque  o Estado é um instrumento apenas de dominação de classe.A história mostrou que ele sempre pode ser manipulado por todas as classes,num movimento social interno desvelado por Vilfredo Pareto,sociólogo que mostrou que as classes não são extáticas e nem separadas entre si.De um modo ou de outro ainda que expressando uma hegemonia de exploração ,o estado exerce funções que não se reduzem a este problema e como eu já disse,Engels e Marx reconheciam  a necessidade de superação deste estado,mas preconizavam a permanência da administração,que sobreviveria no comunismo.
Uma das questões mais decisivas é realmente saber que como se daria este processo de construção paulatina e concreta da utopia e é o que esta resenha de Lênin nos ajuda a entender.
Para o que nos interessa ,a experiência das revoluções francesas do século XIX e da grande rebelião proletária de 1871 ,servem de base para estas discussões,em dois livros,o” Dezoito Brumário”(1852) e  a “Guerra Civil em França”(1871).
Numa citação do Dezoito Brumário,consentânea com outras ,Marx  preconizou a inevitável necessidade de destruir o estado burguês;contudo estava subentendido sempre que era preciso uma classe operária organizada capaz de fazê-lo,transformando-o num estado proletário e daí iniciar o processo de construção do comunismo,que depende das condições subjetivas e objetivas, capacidade produtiva apta a desenvolver a produção de bens e tornar o estado,em definitivo,inútil ou mantê-lo nas condições em que Engels  falou,como mera administração.
Isto se confirma pelo que Lênin diz mais abaixo a respeito da situação da classe operária na Europa em 1871.Segundo ele” o proletariado não formava a maioria do povo em nenhum lugar do continente”.Mais a frente afirmando que os operários deveriam destruir a máquina burguesa estatal e criar uma milícia própria que não tinha função de reprimir os seus próprios comandantes,isto significa que o estado burguês começava a extinguir-se.
Numa carta  a Bebel  de março de 1875 Engels diz  que o “ Estado popular livre se convertera no   estado livre.Gramaticalmente falando se entende por um estado livre um estado livre com respeito aos seus cidadãos,quer dizer um estado despótico(distinção entre corpo político e liberdade política e social)”(..)a Comuna já não era um estado no verdadeiro sentido da palavra”.
Para Marx e Engels a implantação do estado social socialista fará o Estado se dissolver por si mesmo.Marx chega a dizer que a palavra para designar este estado de coisas é a “ Comunidade”(gemeinwesen).Muita gente ligada ao stalinismo sempre inquinou de traição e de fascismo usar esta expressão no comunismo!
Todo o movimento do partido social-democrata alemão e de outras correntes no século XIX eram criticados por Marx e Engels exatamente por não compreenderem esta realidade.Vem daí o fato de Marx e Engels não aceitarem a denominação “ social democrata”,porque para eles havendo um revolução popular proletária ,as condições imediatas para o comunismo estão dadas.Na prática  não se importavam com esta denominação desde que o movimento continuasse numa direção certa,ou seja,em direção à revolução.
Contudo nós temos visto que a prática dos partidos os levou para uma outra direção mais reformista,a fim de preservar os ganhos políticos dos partidos que era  também dos trabalhadores.
É que ,mesmo na época de Marx  e Engels,com eles também percebendo,a situação da atividade política dos partidos proletários mudou,porque se notava que quanto mais a luta prosseguia,mais vitórias eram obtidas também e uma revolução ,eventualmente fracassada, as poria em perigo.
E além disso e por causa disto, a visão do estado se tornou diferente,com o advento de uma classe média e com a diminuição da luta de classes,na medida em que o proletariado ocidental negociava, mais do que se preparava para uma ação revolucionária.
O próximo artigo trata das bases econômicas da extinção do estado.Por hora paro por aqui.