quarta-feira, 20 de julho de 2016

Achille Ochetto II



Na maior parte dos países,depois da Tchecoeslováquia em 68,os Partidos Comunistas,notadamente os vinculados com a o eurocomunismo(uma derivação da  doutrina da “ coexistência pacifica” do Kruschev),aventaram   a hipótese mais que provável do “ fim do comunismo”.
Até aqui no Brasil,por sinais que só a política  oferece e que só o bom observador percebe(porque a política não é discurso,mas sinais)houve alguém que se declarou não-comunista em 1970:Armênio Guedes.
Na época posterior à anistia,ele continuou com esta posição e eu não entendia,como militante,porque alguém que não se considerava mais como comunista,integrava os quadros do Partido.
Adentrando pelos anos 80 ouvi,no sindicato dos professores do rio de janeiro,de Carlos Nelson Coutinho,que ninguém mais na Europa se considerava  “ eurocomunista”,o que equivalia a dizer que ninguém mais era comunista.Ele citou o exemplo da esposa de Leonardo Page,para a  qual “ era incompreensível que ele permanecesse no PCI,já que não era mais comunista”.
Se a  maioria dos militantes já não comungava das idéias,porque esperar que o massacre da Praça Tian-a-men desencadeasse o “ fim do comunismo”,associando todas as experiências partidárias(ocidentais) aos crimes do chamado “socialismo real”.
Ao longo das décadas e principalmente na de 70(depois de 68)tanto a direita como a esquerda radical preconizaram ,em face do caráter totalitário evidente destes regimes,que os “ eurocomunistas” rompessem com eles.
Chegou-se a dizer em 1972 que o ultra stalinista PCF rompeu com o PCUS,quando imagens de campos de concentração foram mostradas nas televisões do Ocidente.
Na época do assassínio programado e inevitável de Aldo Moro toda a esquerda radical apoiou este crime porque ele evitou que o marxismo stalinista,tipo PCUS se implantasse na Itália,no contexto do “ compromisso histórico”.
Hoje eu me pergunto se não teria sido não só um ato de coragem dos partidos ocidentais este rompimento,mas uma necessidade para a  continuidade das lutas sociais dos trabalhadores(ainda que não na direção do comunismo ,que falhara realmente),que teriam muito a ganhar com a experiência destes partidos,que,com problemas,não possuíam as mesmas culpas dos crimes do socialismo real.
Se,como dizia o PCI ,o “ Partido é o que ele deve ser”,porque,no momento em que se vê que a maioria dos militantes não comunga dos ideais,não mudar o seu nome e o seu sentido,atualizando-o(dialeticamente)?Isto não traria,pela coragem da decisão e pela sua verdade,mais elementos para o movimento dos trabalhadores,dando continuidade a  uma tradição que não deveria morrer,já que  a questão social não morreu?Isto não preservaria esta experiência?
A verdade é que o pragmatismo político(que Ochetto representava),com sua preocupação eleitoreira cimentou este sentimento de culpa pelos crimes do comunismo,auto-critica que parecia ser mais eficiente diante das massas do que defender a sua tradição,ainda que solitária (todo revolucionário tem que admitir  a possibilidade de solidão).O pragmatismo de não ficar sozinho chancelou aquilo que já era prática dos partidos:não era questão de mudar a sociedade,mas de  sobreviver a qualquer custo.Era  a questão dos políticos sobreviverem a qualquer custo e os ideais que se danem.