terça-feira, 6 de julho de 2021

Questões relativas à II Internacional e à social-democracia

 

Lendo as considerações de Leandro Konder em seu livro sobre Walter Benjamin e a inserção deste autor no marxismo social democrático alemão,me senti instado a refletir sobre a social democracia,de seus primórdios aos dias de hoje(e ao futuro?)

A análise de Leandro Konder segue o roteiro criado pela URSS.Nos dias que correm no entanto,há que repensar em face de novas descobertas históricas,novas narrativas mais próximas do real.

A explicação de Konder é sempre no plano filosófico:o determinismo da segunda internacional resulta de uma decisão dos seus próceres.É como se o modelo voluntarista de Lênin fosse o único verdadeiro e devesse ser usado para sempre como referencial de análise.

Claro,o processo revolucionário é uma decisão consciente,uma tomada de consciência e isto está em Marx,mas às vezes a condição objetiva não favorece ao ato voluntário.

Carlos Nelson Coutinho,amigo fraterno de Konder ,afirmou certa feita que no final da vida Marx e principalmente Engels(que viveu mais) perceberam a necessidade de um modo mais processualistico para se chegar à utopia.Na verdade Carlos Nelson se referia à exigência de maior participação do povo junto às vanguardas da revolução,o que denuncia o problema da dicotomia vanguardas/povo.E que denuncia que a revolução é um processo de toda feita,tanto quanto a reforma,mas se manifesta num ato voluntarístico,o qual não existe sem algo que o preceda e sem algo que lhe seja subsequente.

A revolução não é um momento mágico ,mas parte do processo histórico.Foi com a segunda Internacional que a questão da reforma foi posta como problema teórico.Contudo ,como esta primeira geração foi muito influenciada por Marx e pelo impeto revolucionário a ideia de um comunismo a ser obtido automáticamente cresceu.

Mas não foi isto (só) não.Como explica Hobsbawn em “ A Era do Capital”,a burguesia venceu a batalha ideológica após 1848 e conseguiu cooptar a classe operária. A social democracia ficou entre diversas influências e mediações e com extrema dificuldade em manter o impulso inicial.Não soube sair desta contradição entre uma utopia humanitária e o imediato da politica e das carências dos trabalhadores.Tratarei disto em outro trabalho,mas este é o contexto em que se foram criados alguns conceitos da social democracia,que até agora servem como ponto de debates.

Ha que ressaltar,porém,que a questão é a condição objetiva.Na teoria comunista tem- se a impressão de que ele pode vir pura e simplesmente do desenvolvimento do capitalismo,esteja onde ele estiver,diluindo progressivamente o estado.

Eu já citei um trecho de Marx em que ele mostrava o porquê tal não aconteceria:somente superando as condições internacionais de exploração do capitalismo seria possível.

Na voragem do tempo e dentro das condições concretas de vida e de politica certas coisas são esquecidas:a Comuna de Paris não tinha como prosperar seguindo esta premissa e nem o socialismo evolucionário de Bernstein.

Parece que se perderam estas noções diante da suposta vitória extraordinária da Revolução Russa,mas ela estava fadada ao fracasso.Nenhuma das condições essenciais para a utopia estavam dadas naquele país e o seu isolamento selou seu destino.