sábado, 12 de novembro de 2016

O que é conciliação de classe e o que não é.



No tempo do marxismo ortodoxo,em que só se via  a saída da revolução, toda a estratégia reformista era vista como “ conciliação de classes”.O acúmulo de forças  do trabalhador frente à burguesia era só para preparar o “ momento da virada”.
Contudo nas relações de luta e de reivindicação dos trabalhadores  frente aos patrões se verificou que a revolução poderia ser uma aventura ,que poria a perder as conquistas do mundo do trabalho.
Esta é a razão pela qual no ocidente a revolução acabou gorando.Os setores radicais acusavam o fim da revolução como conciliação,mas a verdade é que os trabalhadores obtiveram extraordinários  ganhos até aos dias de hoje.
Estes ganhos não são definitivos,pois ainda existem muitos problemas,inclusive do desemprego.É certo que o posicionamento da classe trabalhadora no ocidente nos faz lembrar o pensamento de Lênin sobre a “ aristocracia operária”,que,exclusivista,não liga para os ainda fortes problemas causados pela exploração capitalista(que existe[ainda]).
A saída,no entanto,não é a revolução,mas o aprofundamento da questão social,que a estratégia reformista,a meu ver,serve de método.
Este aprofundamento coloca em cheque coisas que são basilares no capitalismo ,que reage quando atacado,das mais diversas formas.
Mas não tem jeito.É preciso compreender quais os temas decisivos de uma política reformista de esquerda,radical no sentido original de buscar os fundamentos desta complexa rede de problemas que vemos por aí,com situações de miséria que deveriam ter sido já resolvidos e não foram.
Vou repetir o que tenho dito nestes artigos ,já há anos a fio:o problema não são os valores da comunidade universal,os direitos humanos,que como Bobbio afirma,ninguém é mais contra;são os problemas que derivam da organização das nações.
Outrora as revoluções eram internacionalistas,mesmo a  Revolução Francesa,mas a causa do fracasso delas,o problema nacional,está presente também nas estratégias políticas desta esquerda quase morta ,ainda mais com a derrota de Hillary.
Ao ocorrer em 2008 a crise do subprime movimentos anticapitalistas surgiram na Europa em profusão e aí estão.Estes movimentos não tiveram conseqüência nenhuma porque,entre outras coisas,usaram e usam as ultrapassadas categorias do marxismo,que só preconiza total  rejeição do capitalismo,o que não é mais possível de fazer.
Eu tenho consciência de que estas afirmações são escandalosas para um radical de esquerda tradicional,mas não tem jeito:é dentro das balizas do capitalismo que teremos que pensar uma solução para a questão social,admitindo a inclusão total do e no mundo  do trabalho de todos os excluídos.
Enquanto isto não vicejar nos movimento sociais não haverá um reformismo capaz de solucionar o imbróglio.
Vou aprofundar estas questões mais para a frente,nos próximos artigos.
Mas por hora nós temos que responder à questão titulo deste artigo:o fato de usar a reforma para obter ganhos não significa conciliação.Conciliação é propor projetos políticos que não tocam na raiz da exploração.
Eu escrevi este artigo pensando no que é o PT hoje e sempre,um partido da conciliação de classes,que entende erradamente que assistir e oferecer crédito fácil aos pobres é mudar a situação social de exploração dos trabalhadores.Ledo engano:conciliação de classes é isso,é fazer algo que serve aos propósitos do capitalismo,uma espécie de caridade.O que não é conciliação é arrancar dos patrões  limites ao seu poder.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

A estrutura mental do revolucionário comunista



Continuando os estudos sobre comunismo temos que ir além do problema da arrogância  de resolver tudo no tempo de uma geração,como ,certa vez,afirmou Eduardo Galeano.
Na verdade,o revolucionário é apressado porque não tem sentido aceitar as injustiças.Injustiça se resolve e  se supera.Malcolm X disse uma vez,num discurso,que qualquer ideologia que não apresente soluções para o problema dos negros agora ,não serve para nada.
Contudo a complexidade dos problemas obriga o revolucionário a pensar o ato liberador da revolução como algo que vai além do tempo de vida dele e isso é um problema de  natureza psicológica muito sério.Poderíamos chamá-lo de “ complexo de Moisés”,aquele que sabe que ajuda a chegar à terra prometida,mas não vai vê-la(não vai ser recompensado).
Isso é da ordem dos problemas psicóticos,porque descola o revolucionário ,que estuda a realidade, dela própria.É difícil  para ele tomar decisões,fazer política,dentro de um contexto limitado como este,muitas vezes se sustendo pela esperança,um sentimento de saúde em meio à psicose.
Quem não supera esta psicose,quem acredita ser necessário um ato revolucionário liberador,na verdade,quer o congraçamento,quer a comunhão da sua disposição de ajudar com o reconhecimento do outro,do oprimido.
É um desejo de felicidade,implícito na convicção revolucionária(comunista),que frustrado o conduz  ao desejo de morte,de sacrifício,que é o único sentimento,diante dos fados,que oferece uma felicidade compensatória.
“ Eu fiz a minha parte” disse Guevara ao ir à Bolivia,agora é com vocês(Betinho).Neste complexo emocional está algo de egoísta,egocêntrico,mas também ,convivendo,o princípio do altruísmo.
A pessoa que se sacrifica adquire um papel mitológico,que supera a morte,mas talvez,viva,ela pudesse dar a mesma contribuição ,e o desejo de imortalidade,da obra pessoal que fica,surge como um desígnio de si mesmo,sem a consideração dos outros(que talvez precisassem do revolucionário[vivo]).