segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Em torno a guevara II



Não é que eu concorde hoje com a visão comunista de Guevara,mas fica claro que qualquer projeto de utopia planetária passa pela libertação de todos os povos,ou seja ,nas relações entre os povos do 1 e do 3 mundo.Estou convencido de que Marx e Engels quando pensavam em comunismo pensavam na Europa Ocidental desenvolvida.Mas mesmo hoje,com uma maioria industrializada de países,com as pré-condições objetivas dadas,não acho possível uma revolução universal,por faltarem as condições subjetivas e mesmo as havendo,a complexidade de tantos  países, inviabiliza-o.O  movimento comunista do  passado provou que  as dissensões nacionais  se  puseram acima do “internacionalismo proletário”.
Havia uma  crença  mística naquela época de que  bastava  uma  revolução  num país  para que os outros o seguissem,mas  a  URSS  e a China  se separaram  por causa de  uma  pessoa,Stálin e depois  não houve  solidarismo    destas potências socialistas em relação ao Vietnã.Na  década de  80  houve  mesmo uma  quase  guerra  entre o Vietnã  e  a China.Isso sem falar no  Leste Europeu.E hoje China e Coréia do Norte  não são  amigas...
Não há  como construir  comunismo dentro   de um  mundo assim.
No  próximo  artigo  eu vou  explicar melhor  os fundamentos teóricos disto aí,mas a  constatação  para o que discutimos agora é clara:há  que  pensar em desenvolver  as nações  primeiro,num sentido social,para,se  homogêneas,poderem decidir em conjunto se devem ir para  o comunismo.
Isto invalida  parte  do pensamento de Guevara,que queria o comunismo logo,mas,por outro lado,ressalta  a justeza marxista da  sua visão  quanto ao fato    de que era  impossível fazer  de Cuba  uma  sociedade comunista  se  todo o  mundo não fosse libertado também.
Mas  mesmo  não  pensando em termos comunistas,a  libertação social  dos povos do mundo passa por  uma  visão coletiva,porque  os problemas  que existem  aí são causados historicamente  por uma relação desigual  de  exploração deuns  países  sobre outros e não há como sair disto sem  atacar  estas causas  e  acabar com as suas consequencias.
Joaquim Nabuco,sobre  o Brasil  e o seu futuro,disse que  durante  muitos séculos  o fato da escravidão será a tônica do  país(se  não se  fizer nada né)e  que é preciso  acabar  com a escravidão,mas  não    com ela,com  sua obra  também.
O raciocínio  vale para a  ordem  internacional.Grande  parte  das  mazelas são causadas pelo imperialismo,neo-colonialismo,exploração das colônias  e  assim  por diante.Se não houver reconhecimento deste  fato,inlcusive  e principalmente,pelas grandes potências,não  vislumbraremos  a utopia.
Voltarei ao tema.                                                                                             

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A Ponte-Do solilóquio ao diálogo(talvez): Em torno a guevara

A Ponte-Do solilóquio ao diálogo(talvez): Em torno a guevara:   Pouca   gente   sabe que   a   última   conversa   que   Guevara   teve   com   Fídel antes de   partir   para   a   sua   mo...

Em torno a guevara



 



Pouca  gente  sabe que  a  última  conversa  que  Guevara  teve  com  Fídel antes de  partir  para  a  sua  morte  sagrada,foi  sobre  as  acusações  que o  guerrilheiro  fez  à  China  e  à  URSS,quanto  à  conivência  destas  potências  com  o  imperialismo.
Muita  gente  deverá achar  que este  artigo  não deveria  ser  feito  porque isto  é  uma questão ultrapassada  e  sem  importância,mas  ela  é  fundamental  para  o  entendimento  dos  descaminhos  do  socialismo real.A  sua  compreensão  ajuda  a manter  no  trilho  certo  o  movimento  moderno,que,na  verdade,já desandou e precisa  ser  reconstituído de modo a não repetir o passado.
Marx  havia  afirmado  que  o    comunismo  devia ser implantado  imediata  e internacionalmente,de uma  vez,sendo a  ditadura  do proletariado  e o  socialismo  fases  prévias  pequenas.Uma  das  condições  para implantação do  comunismo  era  o  fim  do  estado.
Os  descaminhos  da URSS,depois de Stálin, fizeram crer  que  aquele  estado  monstruoso  tinha  a tarefa  desta implantação,mas,na  verdade ele    era  algo  totalamente contrário  ao  que  Marx  dizia.
Guevra  sabia  disso.Apesar de ligados  à URSS,Fidel e Guevara  sabiam  que a  sobrevivência  real da  revolução  cubana  dependeria  do espraiamento  da  revolução  no  mundo.É    que  entra  o  conceito emitido  por  Guevara dos  muitos  Vietnãs.
Não  havia escapatória  para  ele,que  queria  apoio da URSS(sem receber)para  a  industrialização de Cuba,condição  prévia  histórica  do comunismo.
A  viagem  final de Guevara  aos  países  do oriente e  à  União Soviética era  para,entre  outras  coisas,modificar  este  quadro.Contudo,tanto  soviéticos   quanto  chineses,se  mantiveram dentro  de  uma  política  nacional/nacionalista,dentro  do chauvinismo de grande  potência  que  não era  mais  do que  continuação do  antigo  regime  e da  dependência  destes  países “  socialistas” em relação  aos  capitalistas.Preferiram a  coexistência pacífica,o  concerto  das  nações.
Como um país  dito  comunista  pode  implantar o comunismo dependendo economicamente  do  capitalismo?A  conivência  indireta  destes  países  com a  destruição do Vietnã  é algo  que  precisa  ser  analisado e o analisarei pròximamente.
Mas  o  que  nos  interessa  é  ver a  justeza,neste  caso,do pensamento de Guevara(não em todos).Com a sua  saída de Cuba ,por imposição da URSS,a ilha   ficou  como  os  seus mentores.
Mas,em Guevara  e  Fidel  havia a esperança de que  com os muitos  Vietnãs  que  o  primeiro desencadearia  da Bolivia,a  situação revolucionária  se recuperasse.
Não  acontecendo  o  mundo se  tornou este  que  temos,de continuidade das nacionalidades e dos  internacionalismos manipulados pelo G-8 e  ainda  que  seja  assim,dentro de uma perspectiva  de mudança  possível destas nações num sentido de superação d a  miséria  e da  desigualdade  não há  como  não pensar  em paradigmas análogos  aos do guerrilheiro:não  haverá  superação desta  globalização  perversa,que não é mais do que a continuação  do  que os processos antigos  de exploração  imperialista fizeram  no terceiro  mundo,se este  não se unir  para  confrontar  o  primeiro.
Embora a  lógica  revolucionária  não esteja presente,o  raciocínio de  libertação  da  sociedade  moderna  obedece  à  constatação  já feita tantas  vezes  de que  a miséria  global  é fruto  do passado imperialista.
Mas as  relações  políticas deste passado continuam aí e  precisam ser rompidas de modo que  o fato  claro de que   não existem só os países  do G8 seja  reconhecido.Dsede a  primeira guerra  mundial,uma guerra  imperialista,que  se tem certeza  de que  se  a balança  dopoder  não se equilibrar em favor  da maioria pobre,a  situação  atual vai continuar e  a utopia será algo sempre distante.
O  próprio Osama  Bin Laden,na  sua autobiografia,embora  anti-comunista,usa  estes  pródromos  de Guevara  para  a sua estratégia  de cansar o  imperialismo e obrigá-lo a  gastar  o  que  não tem  até  que quebre(como a conteceu na URSS na  guerra  do Afeganistão).
Contudo este  conceito não é novo,  vindo desde  o  momento  em que o imperialismo  causou  as desgraças no terceiro  mundo e a guerra de 14-18.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O que é o stalinismo?





Existem muitas discussões   pertinentes  no seio da esquerda sobre  o     que   é  o  stalinismo,mas  nenhuma delas o resolve realmente,porque  assim  a esquerda se veria toda  atingida  pelo problema.Isto  é assim até aos  dias de  hoje.
Palmiro togliatti em uma entrevista  famosa  que concedeu logo após o impacto do relatório  Kruschev  alinhavava  os  argumentos para explicar o fenômeno do stalinismo no comunismo.Todas  as  suas  análises  ,como a  de  seus  contemporâneos  e pósteros  não tocam  na  questão  real  do  stalinismo,do  seu  significado  último,exceto  um:Trotski.
Pelas palavras de Togliatti parece estar tudo resolvido,mas como ele,como tantos, estava  inserido em  todo o processo de construção do stalinismo,alegando,como  todos, a necessidade  de  preservar  o socialismo,respondeu  de modo a não tocar no problema  verdadeiro,no fulcro.
A  questão do stalinismo,para  ele,é que  Stálin  ,com o  poder  que adquiriu,perdeu  o  controle.O poder,diz  Togliatti nesta entrevista," lhe  subiu  à  cabeça".
A  atitude  pessoal é que  explicaria os problemas  da  URSS e do Stalinismo.Tirando a  personalidade tudo está resolvido.
Um  outro prócer  do marxismo,Lukács,também abordou, na época do XX  congresso,o stalinismo,numa  famosa  carta  intitulada  "Carta  sobre  o stalinismo",em que  dá  seguimento aos  mesmos  paradigmas anódinos  do italiano.
O cerne  desta carta é  dizer  que o problema  não é a  pessoa  do  tirano(ele  inverte o argumento de Togliatti),mas os "pequenos stalins" que ele  criou e que  reproduziam  a  sua política e que ,mesmo depois  da  morte do  chefe continuavam  a  pulular na  sociedade soviética.
Aparentemente  isto é um xeque-mate  na questão,mas se observarmos  com mais cuidado a denúncia não  trata de porquê  surgiu este  fenômeno numa  sociedade  socialista  que  não  o  queria,não o prometera.Não  desejava o extermínio  de milhões,mas  o bem-estar.
Tanto Togliatti como Lukács,volteiam  o  núcleo mas  não o  atacam,porque sempre tiveram  esta perspectiva oportunista de  preservar o socialismo,que  àquela altura era  produto  e meio de  reprodução da tirania  e dos crimes  de Stálin.
O único que notou o que estava  acontecendo foi   trotski  porque percebeu exatamente  a indissolúvel relação  entre o personagem  e o contexto em que viveu  .Numa  relação dialética entre a personagem  histórica  e o contexto é que  se explica  o surgimento  do stalinismo  e nos  revela  a impossibilidade de  separar a URSS e  o stalinismo,o socialismo  real.
Ainda  que  Trotski  acreditasse  no retorno do  ímpeto revolucionário,quando o tirano fosse  apeado do  poder(o  que torna Trotski muito semelhante aos outros dois),o seu diagnóstico é que põe um  fim  no  problema,levando de roldão o  socialismo real,que era uma reação  termidoriana,uma queda  no antigo  regime,numa aceitação,por  parte do stalinismo,das regras imperiais  da política  czarista,que o socialismo pretendia acabar.
As  condições  que  o  Marxismo  colocara para uma  revolução  comunista não estavam  dadas  na  Rússia e a insistência em criá-las,como preconizara  Lênin,revelou-se  infrutífera,obrigando os bolcheviques  a uma solução  comum  às  revoluções sem  base  social:o autoritarismo e  depois o totalitarismo.`
Para preservar  uma  idéia  já sem fundamento  a sociedade  foi  obrigada a  se modificar,contra a vontade,no processo de  coletivização e industrialização que Stálin  e os  bolcheviques impuseram,do alto,sem  levar em  conta  que  a  revolução comunista  vem  de  baixo,de uma  sociedade civil  preparada  e  com  hegemonia da  classe trabalhadora.