Costuma-se culpar Engels por ter desvirtuado o pensamento de
Marx,depois da morte deste,ao reunir sem muita lógica os dois
volumes após o primeiro,de “ O Capital”.E não só em relação
a este livro,mas tambem quanto ao Anti-Durinhg,o qual resume a
concepção de ciência dos dois amigos autores.
Este último texto foi feito por Engels e apresentado a Marx,que com
tudo concordou.
Contudo,no que tange ao Capital,a situação é diferente.Marx só
completou em vida o primeiro volume ,dividido em dois tomos.Os
segundo e terceiro volumes foram compilados por Engels,seu efetivo
testamenteiro.E o quarto,sobre as teorias da mais-valia,por
Kautsky,já que Engels havia morrido.
Este contexto todo impôs uma série de consequencias futuras graves
até certo ponto,pois Engels foi acusado de desvirtuar Marx.
Esta discussão é muito extensa e eu a colocarei em outros
artigos.Mas ela serve para discutir a relação entre estes dois
pensadores e a interpretação que caiu sobre eles por parte dos
seus seguidores.
Tanto no caso do Anti-Durinhg como no do Capital o problema central é
o da concepção de ciência de ambos,aparentemente divergente.Engels
teria enfatizado,contra Marx,o papel da ciência,em detrimento da
História.Os marxistas se dividiram teoricamente entre os
historicistas e os “ estruturalistas”:no primeiro os gramscianos
e no segundo Althusser e Poulantzas.
Um capítulo famoso de “ Ler o Capital”,intitula-se “ O
marxismo não é um historicismo”.
O modo-de-produção capitalista indica a justeza deste título,mas,no
fundo não é possível separar uma estrutura de seus condicionantes
histórico-temporais.
O tempo e o tempo histórico se fazem de determinados modos.Marx
estuda o modo de ser do capitalismo,então estuda um modo de
manifestação da História.O que é um modo,uma estrutura?Uma
organização formal mais durável no tempo.Como o Ser e o devir,o
Ser é o modo pelo qual o que existe se manifesta,segundo
essências,conteúdos,substâncias e assim por diante.
Mas como disse Jean Wahl do Ser,se pode dizer o mesmo do modo e do
tempo:o modo é extático ,é durável,mas não intocado pelo tempo.
Pertence ao cientificismo a convicção de que a estrutura,o modo de
organização do real ,não se imbrica com o tempo histórico.São
apenas durabilidades distintas,marcadas por mediações especificas.
A principal acusação a Engels é de que pelo uso cientificista da
dialética(dialética objetiva)ele separou o amigo da História,mas
isso,como vimos é impossível.
Contudo ,em Marx e Engels a concepção objetiva da
dialética(conjuminada no Anti-Durinhg)pôs este problema na medida
em que cria a ilusão de que o movimento dialético real altera o
tempo histórico de maneira constante e definitiva.O tempo seria
inelutavelmente dialético.
Muito embora Marx tenha se distinguido de Quesnay,em “
Salário,Preço e Lucro”,não aceitando o caráter fechado do
sistema capitalista(conforme o “ Tableau Economique” deste
fisiocrata),voltou ao erro pela aplicação da dialética.
Toda a questão da transformação dos preços de custo ,preços de
produção em preços de venda,matéria do terceiro volume ,é
distorcida por esta aplicação.
Engels não modificou nada em seu favor,ao organizar estes
volumes,apenas deu seguimento a este erro.Do ponto vista editorial
manteve-se o mais próximo de Marx,o que é o certo obviamente,mas
não é culpa dele os problemas da dialética nos livros finais de O
Capital,é culpa da dialética.Da dialética deles.
Neste sentido é que faz sentido o titulo deste artigo:como Ptolomeu
formulou a teoria geocêntrica,por não ter elementos que lhe
mostrassem a verdade,Marx e Engels foram induzidos a erros por
entenderem a veracidade objetiva da dialética o que a ciência da
natureza não confirma e não baseia.
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