sábado, 21 de abril de 2018

Marx e os anarquistas


Em primeiro lugar a tradição marxista (contre Marx?)fez acreditar que só ela era comunista,mas o anarquismo também é comunista.A espécie humana é derivada dos neandertais e dos cro-magnons .Assim também de duas vertentes “ revolucionárias”   derivam o comunismo moderno.Comunismo que já era proposto desde o século XVIII,sob diversas formas...
Da corrente marxista,acusada de “ autoritária” pelos anarquistas,surgiu o revolucionarismo de Marx e a corrente reformista,da II Internacional ,a qual,modestamente,me filio.
Como tenho explicado, Marx representa a ortodoxia enquanto defende a inevitabilidade e exigência moral da revolução.Embora os próceres da II Internacional Bernstein e Kautsky(o primeiro principalmente)se digam ortodoxos,a sua via reformista é heterodoxa,pela recusa do processo político revolucionário.
A revolução em Marx atende não só às lutas dos operários,que devem,segundo ele,se unir,mas ao conhecimento do funcionamento contraditório do capitalismo,cujas crises servem de motivo para a sua superação,bem como o próprio fato da exploração.
Os anarquistas são revolucionários porque,como os marxistas(Engels ressaltou[e eu já me referi a isto])querem tomar o estado para destruí-lo e edificar a sociedade comunista.Os marxistas querem o mesmo ,mas com métodos diferentes,reconhecendo a complexidade da transição de um regime capitalista para o comunista(Engels).
O modo de fazer a revolução para os anarquistas revelou-se na História,variado,mas há algo que sempre permanece ou retorna:a ação direta.
Nos últimos acontecimentos derivados da “ crise do subprime “ em 2008,os anarquistas ressurgiram ,afirmando aquilo que sempre disseram:a suposta paz do capitalismo é ilusória,é a  “ paz dos cemitérios” e é preciso relembrar esta verdade ,sempre.
Após o fracasso da Comuna de Paris,que não foi anarquista,mas que teve mais representantes seus do que os marxistas(que eram só dois),a tese de tomada do estado não foi propriamente esquecida,mas relegada a um segundo plano,em favor da “ ação direta”,do sistema do “ fato”,isto é,o esforço individual ou de grupo para manter todos ligados na luta contra o capitalismo.
Os anarquistas acusavam Marx e os marxistas de serem autoritários(até hoje).Diz-se que Bakunin profetizou os perigos de um  marxista no poder na Rússia,terra natal dele.Mas temos que entender bem este autoritarismo,para compreender o significado histórico da luta desempenhada até hoje por estes dois movimentos siameses e contraditórios,pois da crítica deles é que pode nascer uma esquerda renovada.
O viés do autoritarismo marxista é intelectual e cientificista:a compreensão total do capitalismo é condição essencial para a classe produtiva construir a utopia.No caso do anarquismo as idéias são bem mais simples e na época em que estas correntes surgiram a compreensão da classe operária quanto ao que devia fazer se dirigia mais fortemente para o anarquismo.Isto prova que a compreensão do que era o comunismo era mais entranhada no anarquismo.
Facilitava o fato de o estado não ser tão complexo como é hoje.Imaginava-se (e era possível)que a maioria de trabalhadores ,organizada ,podia tomar o estado,como na Comuna e realizar o objetivo.O estado era visto(inclusive por Marx)como mero “ comitê de assessoramento” da burguesia.Bastava trocar o seu sinal e torná-lo “ comitê de assessoramento da classe operária”(conceito muito repetido no stalinismo).
A Comuna ,no entanto,estava fadada ao fracasso e nem os anarquistas e os marxistas se referem a este fato,contrariando as sua teses e análises.Bakunin ainda tentou dar-lhe continuidade,mas a realidade o frustrou,bem como aos outros,gerando o método da “ ação direta”,como substitutivo.
No caso do marxismo,muito embora nas “ Lutas de classe em França” Marx não tenha reconhecido a inviabilidade da Comuna,ficou evidenciado que sem uma revolução universal,que a tivesse tirado do isolamento,um governo operário de trabalhadores não seria factível.
E como em 1848,em que as dissensões entre França e Alemanha fizeram a revolução gorar,em 1871 o mesmo se deu.Razão porque o marxismo da segunda internacional se deslocou para este país unificado e construiu o período áureo ,no dizer de Kolakowski,do marxismo.
Com a amplificação do estado,na sua relação com a sociedade civil,os mecanismos revolucionários e de ação direta decaíram,mas,de certo modo,a perspectiva do marxismo,simplista em 1871,quanto à caracterização do estado,pode crescer com outras teorias explicativas,segundo as mudanças ocorridas.
O problema é que a ação direta, as idéias do anarquismo, são mais eficientes para manter a “ questão social” em voga.Eu estou analisando tudo isto no blog Temas e os remeto para lá,para acompanhar as minhas análises.Por aqui é preciso que fique claro que a absorção pelas massas do marxismo é mais difícil,porque,por várias razões,as idéias são mais difíceis de assimilar.
Esta história de que o operário entende facilmente “ O Capital”,é uma tentativa mística dos comunistas marxistas de não encarar esta verdade.Após a morte de Marx ,o editor inglês da tradução de “ O Capital” aconselhou que ele fosse publicado em fascículos,para melhor entendimento da classe operária inglesa,a mais organizada até então.
E depois,com as diversas teorias atualizadoras e acrescentadoras,o panorama piora:inúmeras discussões,inúmeras divisões segundo as teorias, parecem condicionar a prática à adesão a cada uma delas,o que entrava mais ainda a luta.
Por isto os nazistas quando queimaram os livros,vaticinaram o fim  do “ intelectualismo judeu-bolchevique”(marxista [digo eu]) em favor das verdades do povo.Com isso eles construíram uma demagogia sobre uma base nem sempre pantanosa,porque acusaram o marxismo de criar discussões em face da sua incapacidade de entender a realidade.”Mas o povo sabe do que precisa”.
O marxismo,tem razão em dizer a direita,é um seguidor(contre lui?)do rei-filósofo de Platão,porque ele quer dirigir a luta,segundo idéias científicas e teorias complexas,o que é senão difícil,quase impossível.
No mundo de hoje e inclusive no Brasil,o anarquismo é atuante no sentido de combater a “ paz dos cemitérios” e errado ou certo mantém a chama da questão social viva,como outrora.Porque foi o anarquismo que a consolidou.Após a revolução de outubro criou-se a idéia de que a “ questão social” foi criação do marxismo,o que não é verdade.
Aliás existe uma participação do anarquismo em vários eventos do século XX,mas isto é tema para outro artigo.

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