Analisando o texto
original nós vemos
que realmente há uma precedência
do mundo real sobre a
consciência. Contudo, no desenvolvimento
do processo histórico o ato em
si de identificar esta
precedência já guarda autonomia frente à objetividade.
No ser
social está a consciência .
Uma das frases lá citadas por
colocar esta precedência é
esta:
“Do mesmo modo
que não se julga o que um indivíduo é pelo que ele imagina de si próprio,
tão-pouco se pode julgar uma tal época de revolucionamento a partir da sua
consciência, mas se tem, isso sim, de explicar esta consciência a partir das
contradições da vida material, do conflito existente entre forças produtivas e
relações de produção sociais.
Mas este trecho revela que
Marx ainda é de antes da
sociedade da produção cultural
e de Freud,porque ele parte
do pressuposto de que o
individuo não se define
por si mesmo.Assim
como o ser não se
define por sua auto-imagem
o ser
só se define por suas
relações sociais.O ser
dotado de consciência,no entanto
guarda sim autonomia,pois ele não é
só objeto da ciência
social mas ser de
sentido,subjetividade.
Por isso
digo que apesar de Marx é
possível construir um dialética entre o ser social
e o ser,incluindo este
sentido,estes discursos,todos os
meios de expressão da
subjetividade,todas as transcendências ,que Marx
não teorizou.
Não podia,talvez,teorizar ,mas
este fato prejudicou a
sua entrada no
século XX.
Depois de
Freud,de Saussure é praticamente
impossível não trabalhar com a autonomia
do sujeito e não ver
as limitações de Marx , principalmente neste
prefácio.
É lógico que
as relações sociais formam o
sujeito mas este adquire
mais e mais autonomia e passa a ser
um problema filosófico(e de outras
naturezas progressivamente)em
si mesmo.
O sujeito não
conhece a si mesmo,pois está no movimento,mas
é possível construir uma auto-imagem autêntica,dir-se-ia verdadeira,no
sentido de que expressa algo real para
ele.
A auto compreensão do sujeito por sua libertação
não se dá nas relações sociais somente,mas
nelas e nele mesmo,porque
sem ele não é
possível.As relações sociais são meio,ele é finalidade.
O problema é quando o
sujeito não está livre nas relações sociais,como dar autenticidade a uma existência de escravo?De explorado,na sociedade capitalista?
Para Marx a
existência do escravo não é
autêntica,impondo dialeticamente(por sua
tomada de consciência)sua libertação.
Segundo ele esta
mudança só ocorre quando forma e o
conteúdo de um sociedade entram em contradição (de novo Marx é
um aristotélico).É neste
contexto que o escravo se torna
livre.No caso do comunismo,superando
definitivamente a forma da exploração ,o
ser humano se
integra em si
mesmo,se realiza.
Então toda
existência no capitalismo e em
todas as formas de exploração conhecidas na história
não há autenticidade.As relações de amor, arte, política ,nada tem valor(sentido)?
Esta incompreensão de Marx nos
força a dizer novamente que é necessário ,contra ele, colocar
novas categorias para preservar o seu pensamento
,o materialismo histórico,dizendo que é na autenticidade da forma,na autonomia da forma , que se
pode fazer isto,quer dizer,incluir e legitimar estas manifestações
subjetivas,para ele,formas de consciência social.
É lógico
que a visão do individuo é limitada.É lógico
que o sujeito, muitas vezes ,acha
que sua
visão é que explica
o mundo,mas é o mundo que
condiciona o seu método,os seus valores
e atitudes e isto distorce
sua visão,mas nem nas
sua relações consigo próprio e de
si com o mundo,com
a objetividade,se há de inquinar de absoluta ilegitimidade a contribuição do conhecimento subjetivo, a não ser
quando se mostra a sua total
inadequação,a inadequação entre o sujeito e o objeto.Isto porquê a subjetividade não tem
como abarcar o conhecimento
objetivo,in totum.Ele não
restitui a realidade,pela linguagem,por
menor que seja o seu objeto de investigação.
Dizer que ,da mesma
forma que não é a auto imagem do sujeito que
define o mundo, não
é o ser que
define as relações
sociais,peca por confundir
dois níveis de
compreensão,a auto- consciência da subjetividade,sobre si mesma , e desta na relação com
o mundo.
E isto acontece porque
Marx não tinha
elementos para entender que
a subjetividade é uma realidade possível de conhecimento
de per si.
Com a troca
simbólica da sociologia,com Saussure
e a linguagem, e Freud ,é
possível uma subjetividade autônoma ,influenciada pelas
relações sociais mas não só
mera expressão delas.
Não é
superestrutura mera expressão da
infraestratura .Não é mero
reflexo como
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