quarta-feira, 8 de julho de 2015

A salvação/continuidade do marxismo: heterodoxia



Assim sendo existe  um relação   dialética entre  conteúdo  e  forma.
Uma  condiciona a  outra e  vice-versa ,numa versão da  aufhebung, superação/assimilação.A  forma expressa  e determina  o  conteúdo e este condiciona a forma.
Pode se dizer  que a  liberdade  é  imanente ao  homem,mas  que  ela    é obtida  modificando as  relações  sociais.O  critério de  imanência guarda  uma  discrepância  em face  do  pensamento  de  Marx que   queria  certamente evitar  que a  liberdade  pudesse  ser  um  conquista individual legitima .A  imanência  não pode  ser  um  padrão  automático de  caracterização  da  humanidade, a    qual  tomando  consciência da  exploração se  insurgiria contra a  opressão,isto  porque Marx  fala  da luta ,da  reunião  dos  trabalhadores   e  subjaz  a  isto  uma  necessidade de comunicação  entre os  atores  políticos para  realizar esta  libertação.Comunicação é  transcendência.
Aqui ele diverge  firmemente   dos  liberais. Contudo  tanto  focar  o  problema da  liberdade no  individuo quanto  na  coletividade induz  à sua  perda,ora  no fascismo individulista,ora  no  coletivismo ,de esquerda,ambos  totalitários.
É  assim    porque  Marx  opunha  liberdade  ao Estado.
Falava em  formas de consciência,mas  não  admitia  o  lado público do  Estado como  medida possível da liberdade. A  revolução  libertava  os homens  do Estado,não  havendo composição  entre  os  dois.A  questão da cidadania,  invenção burguesa,  era  incompatível  ou inexistente  dentro  deste  caminho  revolucionário de libertação.
Para  a  burguesia  as diferenças de classes  eram  naturais,mas a  cidadania,moderna,podia  ser compartilhada.O  projeto  burguês era  ,em  princípio,para todos.
Como    disse em artigo  anterior,em  função desta  pura oposição  que  Marx  faz e  muito  embora  tendo um pezinho em  Aristóteles,não  distinguiu a  liberdade  individual  dos  cidadãos,da  liberdade no  corpo  politico,criação dos  liberais(Benjamin  Constant)
Quando  Edmund  Burke  diz "A  liberdade é  indivisível" está se referindo ao  fato de  que o atentado à  liberdade de  um cidadão  atinge a de  outros.Mas  no  plano individual expressar  em vida as suas possibilidades  é  liberdade  autêntica(o  cidadão  pode  ter  uma  vida  de  classe,simples,e  se sentir  livre) e legítima, mesmo  dentro de um regime  de exploração. A exploração  não reduz  o homem a  ela,pois  ele a transcende  no seu  lebensvelt,reprodução  simbólica ,discurso,vida  afetiva e assim sucessivamente.
As ações   pelas  quais  os  homes  constroem  uma  solidariedade, inclusive  contra exploração não   são só  materiais  strictu  sensu,mas espirituais  e transcendentes.
Há uma  dialética   comunicativa ,no sentido de  que o  diálogo da cidadania   é possível.
No antagonismo  democrático, desconhecido  pelo revolucionário  Marx(e  em geral por  todos os  revolucionários)  o  pensar diferente  do outro caracteriza este diálogo.  Um  cidadão A que  se  relaciona com  B= democracia,cidadania .A síntese   é  não    democracia e  cidadania,mas  também superação da exploração, a partir  das  mediações  sociais concretas.
A  utopia  está  no  movimento,  a  utopia  é  de  tempo,não de lugar.
Então a  dicotomia Lassalle /Marx anuncia  em  termos  práticos o  que sabemos  hoje  com as derrotas  do  marxismo  ortodoxo:que a   história  não   é uma  lógica  pré-dada  no  seu  movimento,obedecendo a  um propósito  evolucionista  material,mas é  consequencial  ,se fazendo no processo e  os  liames  de  solidariedade não são  só estabelecidos  por  relações materiais,mas espirituais, o  que  Marx não  leva em  consideração .Quero  dizer a   forma das  relações  sociais,as  formas  estatais públicas(cidadania).jurídicas jogam um  papel legitimo na  transformação da  sociedade e  não  como  um  conceito  burguês  justificador(ideologia)da exploração.  As suas  relações  de publicidade ,as  normas(jurídicas escritas ou   não)pertencem à humanidade   como algo   imanente   e não  substituível pela  vontade  do  revolucionário(ele    é  livre?).O  direito,o certo   e  o  errado  fazem parte da utopia.Os  chineses  hoje falam em um sociedade socialista  baseada  no   direito,o  que  falarei em  próximo  artigo.

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