sábado, 25 de abril de 2015

Saberes e ilusões do anarquismo(e do marxismo)



Num  texto  importante  Engels  uma  vez  disse,  que  os  objetivos  dos  comunistas e  dos  anarquistas  eram  os  mesmos,acabar  com  o  Estado.
Falemos a  sério:desde  Jericó  que o  Estado    existe  enquanto  existe  o  trabalhador  que,  com  o  seu  suor , mantém a  sua estrutura   administrativa  em  pé.O  caráter  repressivo  do  Estado  é,por  isso,ilegítimo,desde  as  cidades  bíblicas.
Esta  história  de  que  foi  Rousseau  quem  colocou  as  coisas nos  devidos  lugares,ou  seja,o  povo  no  centro do  poder,é  uma  meia-verdade,porque  ele  reconheceu  aquilo  que é  fato,desde  priscas  eras.Ele  “apenas”  laicizou  uma  idéia  que está  contida  nas concepções  de  Tomás  de   Aquino,segundo  a  qual,como  sabemos,o  príncipe  cristão  deve  ser  apeado do  poder  se  não  governar a  cidade  conforme  os princípios  da  religião.
Na  verdade  Rousseau  refundamenta este  conceito , dizendo  que  os valores religiosos  não   são  os decisivos  para a  relação de poder,mas  aqueles  que  já estavam  na  referida  Jericó.Quer  dizer , formalmente  o  Estado  é  uma  representação  dos    de baixo”,hoje  gramscianamente  chamados  de  “ subalternos”.Embora  a mediação  do  trabalho    viesse  com  Marx(um seguidor  de  Rousseau,até  certo ponto),ela  estava,in  limine,na  sua  concepção  da  “ soberania popular”.
Com base  nestes pródromos o  anarquismo  radicalizou,afirmando que  ele impedia  a afirmação da  essência  verdadeira do  homem,mas  esta  barreira se  refere  ao  seu  caráter  repressivo.
A  oposição  alienante  entre  o  sujeito,o  cidadão  e  o  estado  depende  do  modo  como  ela  se  dá.É lógico,e  isto também  está  em Rousseau,que  o  homem  não  pode  ser tomado,como  ser  universal  que é  ,pela  parte,o  Estado.O  Estado  não o    define”.O  Estado  é  incapaz  de  absorver  esta  universalidade.Mas  nem  é  o  caso.O  Estado  não tem  que  abarcar a  todos,pois  os  representa,formalmente,e  devolve(ou  deveria)aquilo  que  todos  deram a  ele.Se  não  faz  é porque  foi sempre  uma instância  repressiva  e esta  derivativa  da  dominação de uma  classe  ou setor  da  sociedade  que    toma”  do  todo,aquilo  que  é  dele,sob  as  mais  diversas  justificativas  ideológicas(consciência  falsa,véu  místico).
Não  é  medida  da  efetiva  libertação  humana  a  extinção  do  Estado,pois  em  vista  disto não  é  na  relação  com  o  Estado  que  o  homem se  define,mas  no  modo  como  ele  a  vê(sendo  isto    uma  forma  de alienação[quer  dizer  atribuir  ao  Estado condições  de defini-lo]).
O  homem  é  reprimido  pelo  Estado  ,mas  pode manipulá-lo a  seu  favor,mesmo  porque,não existe  sem  ele(o  estado em relação ao homem),como  dissemos.E  esta  atitude  positiva  é  legitima  e  autêntica,pela mesma  razão.
Os  anarquistas(e  os  marxistas)confundem o  Estado  com a  sua  mediação repressiva,mas a repressão é  de uma  classe  por  outra,não se  identificando  esta  repressão  com o Estado  todo e  a sociedade  toda.
Eu  penso  que  quando um criminoso cumpre  uma pena,ou  acaba de  cumpri-la  ,ele  deveria  ser  “ ressocializado” através  do  Estado,de  funções   estatais(servidor  público).Isto  tiraria  dele,aos  poucos,como  é a  condição de  ressocialização,o sentimento de  culpa em  relação  ao  cidadão  e  trabalhando e  se  recuperando,no  âmbito  do  Estado,que é  dele(pois mesmo na  prisão  continuaria  a trabalhar),ele  poderia  expiar  o  crime e  a  culpa  sem  medo de  arriscar a  sua  relação  com  os  outros.Provando  para si mesmo,antes  de voltar  ao convívio  social,ele  teria razões  e  condições  definitivas  de nunca  mais reincidir e  o  Estado  cumpriria,como  instância representativa,um  papel  libertador,contra  o  dogma  dos  anarquistas(e  marxistas).
O  grande  problema  de  todo  aquele  que  delinqüe  é que ele  se  sentirá sempre  “ manchado” e  se  for  ressocializado  pela  mão do outro,nunca  deixará  de  ter  este  ferimento  no  seu orgulho,este  dever.Se  se  superar  a  partir  do  Estado,este    complexo  de inferioridade”,o  maior  impeditivo de  sua    cura”,estará  afastado.

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