No
seu livro “ O passado de uma ilusão”,a respeito do fim do comunismo, o pensador
de direita francês François Furet comparou Lênin e Hitler,chamando o primeiro
de “ pré-Hitler”.
Do
ponto de vista sociológico a afirmação é escandalosamente errada.Não é porque
os regimes de direita ou de esquerda podem se igualar no totalitarismo(como
quaisquer regimes[conceito de Hannah Arendt])que eles são iguais.
Ainda
me lembro na época da ditadura o
jornalista Ib Teixeira comparando o fascismo de direita com o fascismo de esquerda(URSS),diante
de Luis Carlos Prestes.
Um
canal de televisão ,que eu não lembro qual ,teve a possibilidade de entrevistar o líder comunista,em Paris,onde
houve uma importante reunião do Comitê Central do PC brasileiro.A entrevista
foi interrompida bruscamente porque os debates se acirraram depois destas
afirmações do jornalista.
Eu
a cito para mostrar como há confusão de conceitos,por parte das pessoas de direita ou
de esquerda,que militam.É claro que qualquer idéia,qualquer tipo de governo
pode se tornar totalitário,mas fascismo é outra coisa.
Leandro
Konder já era doutor de fato quando publicou o seu livro “ Sobre o conceito de
Fascismo”.Este livro visava a cumprir um papel no debate da esquerda diante da
referida ditadura militar brasileira.Perguntava-se se ela era fascista ou
não(eu já falei sobre isto em outro artigo).Se fosse fascista a luta armada se
justificava,se não,não.
O
PCB defendia a luta política ,negando o seu caráter fascista.Havia espaços de
luta.Mas a esquerda radical entendia do modo contrário e partiu para enfrentar
as forças armadas com os seus bodoques.
Fascismo,em
suas variações,se caracteriza por uma base social pequeno burguesa e burguesa,contra os
comunistas e os sindicatos.Embora houvesse repressão contra os sindicatos no
Brasil,não se comparava com o que havia
nas ditaduras fascistas.Até a esquerda reconhece o apoio dos
trabalhadores(contra as direções[que estavam presas])ao regime,especialmente no
governo Médici .
Os
espaços de política existiam realmente e a luta armada,fadada desde o inicio ao
fracasso,só ajudou a ditadura a continuar.
Então
a Revolução russa e o nacional socialismo alemão não são iguais senão no processo de constituição
do totalitarismo,mas suas bases sociais são diferentes e isto é importante para
demonstrar que a classe operária(que Lênin em “ A doença Infantil do
esquerdismo no comunismo” dizia não se transformar em santo [grifo do Lênin])também pode cometer erros e crimes.
A
Revolução Russa tem uma natureza totalmente diferente do nacional socialismo e
eu já expliquei o significado deste
último ,que não é revolução nenhuma.Mas ao se inscrever ao território
nacional,a Revolução Russa deixou de ser progressista para ser uma restauração
da política czarista,como Trotski analisou.
Tem
muita gente aí que se vincula ao trotskismo na internet e que ficou com
calafrios e arrepios ao ler o meu artigo anterior,mas se tivesse o conhecimento dos textos do seu mentor,não
ficaria.
Eu
preciso escrever livros com os meus conceitos ou indicar que leiam o que
escrevo para não entender mal o meu pensamento.
No
entanto,num aspecto,é preciso ligar polìticamente o nacional-socialismo à
URSS:o capitulo mais importante de Mein Kampf intitula-se “ O homem forte é
mais forte quando está só”.Parece uma afirmação adolescente,que induz muita
gente a lê-lo,mas contém uma concepção política de Hitler calcada no regime de
partido único na URSS.
A
justificativa para fazer este regime de partido único na Alemanha,não poderia
usar o exemplo soviético,porque isto seria reconhecer indiretamente o mérito do
adversário e dentro da ideologia imperialista de Hitler isto travaria a
legitimidade de uma invasão.
Então
em Mein Kampf Hitler usou um argumento original para justificar a destruição do
“ outro”,dos “ inferiores”:a prova de coragem e de superioridade é a dominação
definitiva do adversário.Os impérios ,como o Inglês,que Hitler tanto
admirava,não sobreviviam porque deixavam vivos os dominados,que
sempre(naturalmente)se rebelavam e venciam( naturalmente).Hitler nunca permitiu que a mulher participasse da
guerra(só no final),porque ela deveria(como seu modelo nacional Magda Goebbels)ser
a parideira de novos alemães,que iriam povoar as terras conquistadas.Este era o
conceito de “ guerra de aniquilação” de Hitler,a pura afirmação do direito
absoluto de império.Costuma-se comparar acertadamente a figura de Hitler com
Torquemada e principalmente Cortéz,porque ambos foram destruidores absolutos.O
bispo Bartolomeu de Las Cases reprovou a Cortéz o ter destruído a cidade asteca
de Tenochtitlán,porque seria obrigatório para a metrópole espanhola refazer
tudo(despesa).Era melhor ,segundo ele,manter a cidade,pelo menos,para não ter esforços
de edificação custosos.
Mas
Cortéz usou o princípio do imperialismo português ,de terra arrasada,para
manter o maior tempo possível o seu domínio.Hitler queria o mesmo na Europa.
Toda
a pessoa democrática e ética não segue este “ destrutivismo”.Na democracia e na
atitude construtiva há que se considerar o outro de razão,de sentimento,de
cidadania.A democracia é um regime em que a população escolhe quem tem a melhor
proposta para a sua vida.Isto implica em
aceitar um vencedor,na eleição,e um perdedor,que deve continuar a sua luta.
Na
vida pessoal é difícil aceitar perder,mas na vida pública isto é essencial,como
no esporte,em que a derrota não é definitiva.
Todo
autoritário não admite estar errado ou perder,em hipótese nenhuma, e o
cientificismo(ou ideologia científica)é usado para justificar este dogmatismo autoritário.
A
pessoa ética e democrática ,no entanto,não constrói a sua vida na destruição do
outro.
Quando
Hitler propõe ,em seu livro,que é ético mostrar força e coragem eliminando o outro
em definitivo,na verdade,está encobrindo a sua covardia,o seu dogmatismo
totalitário.
Assim
Hitler justifica o partido único na Alemanha,não alegando similitude com a
URSS,mas a representação inelutável do Partido Nazista do povo alemão,do corpo (genético)do
povo alemão.
Eu
aconselho a quem quer ter compreensão do mundo ler de tudo,principalmente
aquele de que você discorda ou é contra você.Não tenho dúvida de que Israel estudou
e estuda textos nazistas,até hoje.
O
discurso lógico de destruição deve ser lido e entendido,para,no mínimo,
antecipar as suas conseqüências.
Este
é o caso de Hitler e da relação que eu estabeleci entre aspectos do
totalitarismo alemão com o soviético.Uma ligação existe.Stálin acostumou-se a
matar e destruir por covardia,por acreditar legítimo o seu direito absoluto de
governo.O partido comunista era o partido do trabalhador,que para não ser
explorado tinha o direito de eliminar quem a ele não se adaptasse.Há uma
similitude aqui sim.Sinto muito.