quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Marx(e a dialética)como precursor de Lyssenko



Não só Marx,mas a concepção da dialética como lógica objetiva coloca o seguinte problema:o que é mais importante,a dialética mesmo ou as ciências particulares?
No artigo anterior  sobre Marx  eu deixei claro que há um projeto interdisciplinar no pensador e que este era constituído pela dialética,isto é,a dialética é o cimento das relações entre as várias ciências reunidas por Marx.Mas previamente temos que dizer agora que há uma premissa evidente na proposta de Marx,que é a contraposição admitida e muito típica do século XIX,entre ciência,real ,e ideologia,na qual,de certa forma,temos que admitir está incluída a filosofia,na 11ª Tese Ad Feuerbach.
Eu expliquei lá que com esta tese tudo o que veio antes é mera aparência,sem valor,o que , a meu ver,é um absurdo.
A história ,e isto Engels revelou(bem como Voltaire)é feita não na liberdade humana de relacionamento produtivo com a natureza e com a sociedade.Nem muito menos o pensamento,que está permeado desta problemática,pode construir um discurso senão a partir destas limitações.Mas este discurso não é ,por isto,vazio.Admitamos,com a perspectiva de Marx,que no seu tempo as hesitações dos racionalistas são normais,mas,com o advento da ciência não.
Assim as hesitações religiosas de um Pascal,que propõe a famosa aposta em Deus,seriam justas no tempo dele,em que a ciência não predominava,mas não no nosso tempo.
Acaso,do ponto de vista psicológico,mesmo para o não crente,isto não tem validade existencial e científica?Quer dizer para quê ler Pascal e os filósofos se a ciência tem a explicação necessária das coisas?
Os racionalistas expressam a dúvida sobre a existência em Deus e esta questão é ,para alguns perfunctória,mas o desenvolvimento do pensamento não pode deixar de considerar alguns dos discursos elaborados por eles.
Diante de uma natureza aparentemente infinita e de um Deus que já não é tão próximo,as atitudes humanas se modificam.As interpretações desta constatação mudam o ser humano,então a tese de Marx começa a ruir e a ciência é como é,não tão absoluta.
Conseqüências  imensas derivam desta dúvida:uma liberdade sexual,política,social,porque Deus não é mais como a religião dizia que era:um sentinela das condutas humanas.
Não tem sentido macular a filosofia de vacuidade.Mas Marx,como eu disse,com esta premissa cientificista e com a dialética só estuda e investiga a filosofia até ao momento em que ela encaixa em seu modelo.Em nenhum momento ele se preocupa com o perigo que esta falta de estudo pode provocar.É uma postura subjetivista.
A dialética usada assim,em outros ramos do saber,se põe como mais decisiva e importante do que os saberes e ciências específicos.
Foi a partir daqui e da formulação por Engels do conceito de Materialismo dialético,que a dialética se tornou uma regra geral objetiva a presidir estes saberes.Era possível entender de todas as ciências,interdisciplinariamente,se se entendesse a dialética,porque  as regras do conhecimento as permeavam completamente.
Assim surgiu o conceito de uma ciência socialista e comunista superior à burguesa,que rejeitava a dialética.
Na URSS,com a ajuda do nacionalismo,este desatino atingiu o paroxismo na figura do biólogo Lyssenko,queridinho de Stálin.
Na medida em que ele conhecia a dialética,o biólogo produzia vacas e ovelhas melhores do que a da sociedade burguesa.
O cientificismo ideológico de Marx,a sua premissa dialética é ,contra  sua vontade,a base destes erros futuros.Marx também era ideológico,no sentido de possuir uma consciência falsa e limitada.

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