Não
só Marx,mas a concepção da dialética como lógica objetiva coloca o seguinte problema:o
que é mais importante,a dialética mesmo ou as ciências particulares?
No
artigo anterior sobre Marx eu deixei claro que há um projeto interdisciplinar
no pensador e que este era constituído pela dialética,isto é,a dialética é o
cimento das relações entre as várias ciências reunidas por Marx.Mas previamente
temos que dizer agora que há uma premissa evidente na proposta de Marx,que é a
contraposição admitida e muito típica do século XIX,entre ciência,real ,e
ideologia,na qual,de certa forma,temos que admitir está incluída a filosofia,na
11ª Tese Ad Feuerbach.
Eu
expliquei lá que com esta tese tudo o que veio antes é mera aparência,sem valor,o
que , a meu ver,é um absurdo.
A
história ,e isto Engels revelou(bem como Voltaire)é feita não na liberdade
humana de relacionamento produtivo com a natureza e com a sociedade.Nem muito
menos o pensamento,que está permeado desta problemática,pode construir um
discurso senão a partir destas limitações.Mas este discurso não é ,por
isto,vazio.Admitamos,com a perspectiva de Marx,que no seu tempo as hesitações
dos racionalistas são normais,mas,com o advento da ciência não.
Assim
as hesitações religiosas de um Pascal,que propõe a famosa aposta em Deus,seriam
justas no tempo dele,em que a ciência não predominava,mas não no nosso tempo.
Acaso,do
ponto de vista psicológico,mesmo para o não crente,isto não tem validade
existencial e científica?Quer dizer para quê ler Pascal e os filósofos se a
ciência tem a explicação necessária das coisas?
Os
racionalistas expressam a dúvida sobre a existência em Deus e esta questão é
,para alguns perfunctória,mas o desenvolvimento do pensamento não pode deixar
de considerar alguns dos discursos elaborados por eles.
Diante
de uma natureza aparentemente infinita e de um Deus que já não é tão próximo,as
atitudes humanas se modificam.As interpretações desta constatação mudam o ser
humano,então a tese de Marx começa a ruir e a ciência é como é,não tão
absoluta.
Conseqüências
imensas derivam desta dúvida:uma
liberdade sexual,política,social,porque Deus não é mais como a religião dizia
que era:um sentinela das condutas humanas.
Não
tem sentido macular a filosofia de vacuidade.Mas Marx,como eu disse,com esta
premissa cientificista e com a dialética só estuda e investiga a filosofia até
ao momento em que ela encaixa em seu modelo.Em nenhum momento ele se preocupa
com o perigo que esta falta de estudo pode provocar.É uma postura subjetivista.
A
dialética usada assim,em outros ramos do saber,se põe como mais decisiva e
importante do que os saberes e ciências específicos.
Foi
a partir daqui e da formulação por Engels do conceito de Materialismo dialético,que
a dialética se tornou uma regra geral objetiva a presidir estes saberes.Era
possível entender de todas as ciências,interdisciplinariamente,se se entendesse
a dialética,porque as regras do
conhecimento as permeavam completamente.
Assim
surgiu o conceito de uma ciência socialista e comunista superior à burguesa,que
rejeitava a dialética.
Na
URSS,com a ajuda do nacionalismo,este desatino atingiu o paroxismo na figura do
biólogo Lyssenko,queridinho de Stálin.
Na
medida em que ele conhecia a dialética,o biólogo produzia vacas e ovelhas
melhores do que a da sociedade burguesa.
O
cientificismo ideológico de Marx,a sua premissa dialética é ,contra sua vontade,a base destes erros futuros.Marx
também era ideológico,no sentido de possuir uma consciência falsa e limitada.
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