Um dos conceitos mais importantes do jovem Marx está inserido
no livro “ A Sagrada Família”” Crítica da Crítica Crítica” e é este que está no título:substituir uma critica
moralizante por uma moral crítica.
Aqui é um dos caminhos pelos quais Marx poderia ter se
conectado melhor com o século XX e reconhecido mais a influência de Kant sobre
ele,porque os critérios desta crítica são postos pela filosofia do
alemão.Infelizmente ,com o tempo,Marx localizou a solução dos problemas humanos
somente nas “ condições materiais de
existência”(Ideologia Alemã) e
deixou de lado os valores, a axiologia.
Mas nós podemos (re-)começar daqui um materialismo histórico
diferente.Em primeiro lugar ,como nos ensina o marxista Adolfo Sanchez Vasquez
existem a Ética e a Moral.A ética corresponde ao “ ethos”,ao
comportamento individual,às escolhas individuais e a moral se refere aos
valores escolhidos e seguidos em conjunto pela sociedade ou pelos grupos que a
compõem.
Assim sendo ao dizer Marx “
moral crítica” está se referindo ao “individuo concreto vivo”(Ideologia Alemã[outra vez]{parte dedicada a
Feuerbach})que considera os valores morais como submissíveis à crítica(“Nossa
época é aquela em que tudo pode e deve
ser submetido à crítica”[Crítica
da Razão Pura{Kant}]).
Todo moralismo é uma ilusão abstrata ,vazia,que busca
submeter a realidade social complexa a um modelo,cuja base é o poder.Nisto Marx
tem semelhança com Freud(cuja concepção de moralismo aplicada à vida sexual tem um
significado repressivo próprio do poder).A regra moral tende a “cobrir”
a sociedade,mas não faz,porque isto é impossível de obter.
Então quando Marx fala sobre uma moral crítica propõe como
critério democrático definitivo, anti-repressivo,uma criteriologia permanente
deste modelo,que provém comumente da religião,mas passa para o poder de estado.
Também, infelizmente, ele não viu que a busca da superação da
exploração fundou um outro modelo,pois que colocou como prioridade a satisfação
das carências “ materiais”,sem incluir as “
espirituais”,que não são suspensas
pelo processo de luta e realização(revolução),antes correm pari-passu.
De outro lado é preciso reconhecer ,contra Marx e
Freud,que,dentro de um critério democrático,existem valores morais que,ainda
que não absolutos(o absoluto não existe),são invariáveis(para lembrar uma
conceituação de Miguel Reale pai):quero dizer,há uma exigência de
reconhecer que nesta criteriologia ética permanente a idéia de moral impõe uma
barreira,qual seja a não predominância obrigatória do desejo individual sobre
as reais carências e direitos coletivos.
Na afirmação de Marx se contém um perigo de diluir a moral e
é por isto que muitos associam-no a Machiavel,claramente ético,mas não moral(“ os fins justificam os meios”).Se de um lado não há modelo,de outro não há como
não ter moral,no sentido de uma escolha axiológica coletiva invariante.
Exemplifiquemos:para superar a exploração não há que defender
a supressão da religião ,em seus valores.O fato de Marx,em seus “ manuscritos econômico-filosóficos” de 1844,ter dito a obviedade “ o sexo é o meio de reprodução da sociedade”,não fica autorizada a supressão do celibato e a
obrigatoriedade conseqüente do sexo.Marx nunca disse isto,mas seus seguidores
construíram uma moral oposta à da religião,em certo sentido,mais repressiva
ainda(ou igual),na medida em que o celibato seria uma “ negação da sociedade”.
Este conceito,supostamente defendido por ateus renitentes não
é mais do que a repetição ,moral,dos critérios religiosos.Quer dizer, é a
permanência, na cabeça de ateus,como Marx talvez,da religião e do tomismo,que
seguindo o “ crescei e
multiplicai-vos”criou
o dogma obrigatório da procriação,apontando a sua divergência como origem de
todo comportamento desviante.
A “
moral crítica”é a causa do descaso
marxista quanto à necessidade(conservadora)de regras,limites,inclusive
jurídicos,que ficam em segundo plano diante da revolução.
Marx fizera uma famosa crítica à filosofia do direito de
Hegel,mas com o tempo foi compreendendo menos a juridicidade.Tanto ele quanto
Engels sempre associaram o Direito ao nascimento do Estado(“Origem da Família,da Propriedade Privada e do Estado”[Engels]),esquecendo(por falta de estudo)que a norma
está por trás do direito e que ela precede ao Estado e permanece como
necessidade social não só derivada dele,mas fundamentalmente da sociedade.
A distinção entre civil Law e common Law era
desconhecida por Marx e Engels ,o que os fez não reconhecer o papel do
direito,mesmo nas revoluções.
Quando eclodiu a Revolução Russa,a primeira atitude foi
deixar as coisas seguirem o seu curso(natural),mas diante da bagunça que
sobreveio,os comunistas foram obrigados a organizar a “ nova”
sociedade segundo um direito(novo?).E este direito está na base dos “ processos de Moscou”(repressão
stalinista).
A “
moral crítica”,pois,parece algo
extremamente progressista,mas contém em
sua formulação contradições perigosas que ,depois se revelaram.
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