domingo, 6 de agosto de 2017

O marxismo na batalha das Idéias.Marx e Kant II

“Enquanto tem gente no mundo
Pensando que sabe muito
Eu,do meu lado,sinto.Muito”



Também é preciso ver que durante muito tempo,pela identificação  entre Filosofia e metafísica ,o fim desta última,percebido paulatinamente no século XIX,induziu a muitos,como Marx,a pensar no fim do pensamento filosófico.Mas a metafísica repudiada retorna às vezes sob outras formas ,inclusive no marxismo(mas não só nele),por causa da incompreensão da história da Filosofia e do pensamento.
Eu disse no artigo anterior que o marxismo é idealista e ideológico sob certo sentido,porque preconiza  uma sociedade ideal,medida da sociedade real;uma sociedade do futuro,medida do presente e do passado(que deve ser revisado).Este argumento eu aprendi de Servant  Schreiber em seu livro “ A Tentação Totalitária”,publicado no Brasil na década de 70.
Mostrando as filas na URSS(bem como nos outros países do Leste europeu),diz ele:” comparado com uma sociedade ideal,a sociedade capitalista,de hoje ,deve ser muito ruim...”.É lógico que Servant Schreiber,como representante da direita,não mostrou as favelas do “ mundo livre”,mas a sua a sua peroração vale sim para a falta de fundamento filosófico das afirmações de Marx.
As citações de Kant contidas na “ Ideologia Alemã” são a base dos erros de Engels e de Lênin,porque ele só vê o seu  projeto metafísico  e não as possibilidades  da relação entre a prática e a razão,a continuidade ,na experiência humana geral,entre a razão e os muitos elementos constitutivos da personalidade do Sujeito humano,os desejos,a sensibilidade, a percepção,os afetos,as emoções,o inconsciente(que ele não conhecia).
A resposta positiva de Kant, para a filosofia radicando na autonomia do sujeito,na simples razão,abre espaço para as massas de Marx.
Jon Elster num crítico livro sobre o marxismo,afirma que ele  é o pensamento que menos conhece a natureza humana e bastavam(isto eu digo) duas frases ,de dois teatrólogos,um brasileiro e outro inglês,Nelson Rodrigues e Shakespeare,para derrubar as limitações racionalistas de Marx,respectivamente:” O homem vive do supérfluo” e “O homem quer mais do que a realidade”(Rei Lear).
Kant não pode ser visto como um idealista,muito menos ideólogo,talvez só no seu projeto metafísico,mas o estudo profissional de seu pensamento revelaria muito mais.
Um outro autor,Bob Jessop,disse uma vez que “ quando a dialética(objetiva[digo eu])se estilhaçou todos os temas e partes do pensamento de Marx foram junto,perdendo unicidade(“ “State Modern Capitalist”)e eu  somo:Marx foi enganado pela possibilidade suposta de unir várias profissões num discurso só.Na biografia de Isaiah Berlin,está dito que Marx era como um Leonardo da Vinci,uma enciclopédia de vários saberes.Afirma ele que Marx separava o seu escritório com cordas e em cada lugar punha uma etiqueta ,onde se lia a função de cada um,a “ciência” própria,Filosofia,Economia Política,Política,Ciências naturais e assim por diante.
Marx,pois,era como uma libélula colocando o traseiro ,de quando em vez,na água,sem se aprofundar na mesma.Sartre poderia dizer:” toca nas coisas mas não as habita”(eu digo:não as ama).
Isto trouxe conseqüências graves para seu pensamento,porque o marxismo vê o mundo como um lugar de causas e não de sentidos.Como hiperracionalismo ele vê parcialmente o mundo.
Chaplin diz no discurso final de “ O Grande Ditador”:”Pensamos muito e sentimos pouco”.Vale para Marx.

Nenhum comentário:

Postar um comentário