Fiz um artigo
que teve uma certa repercussão,inclusive no youtube,sobre a concepção de luta
de classes em Marx.Um “ filósofo auto-arrogado”(ortografia certa)fez
observações e não me citou.Eu devo esclarecer aqui o que eu disse e o que eu
penso sobre esta questão toda em Marx.Antes de tudo,no entanto,tenho que dizer
que não sou original,muitos pensadores
no passado,até ortodoxos,já tinham expressado visões diversas e críticas em
relação ao pensamento de Marx.Mas como eu tenho posto inúmeras vezes,como
petição de princípio e premissa metodológica, um pesquisador como eu tem o
dever de atualizar as concepções sobre qualquer coisa,a partir de novos
conhecimentos e novas realidades da prática.Se ele encontra novas
possibilidades de interpretação deve expô-las,mesmo que isto não acrescente nada ao esforço crítico,porque é sempre bom
reforçá-lo.
A minha atitude
aqui é oferecer novos argumentos,para novas gerações que seguem Marx sem lê-lo
e causam nos movimentos,juntos com seus velhos líderes,problemas terríveis,como
os que vemos na Venezuela e vimos no Brasil de Lula e Dilma.
Uma concepção
mal compreendida da luta de classes ,e eu já entro no tema do artigo,faz ver a
estes movimentos que apoiar pura e simplesmente a “ classe operária produtiva”(única
produtiva)é a solução dos problemas nacionais,quando esta só virá quando todas
as classes estiverem envolvidas,mesmo porque,objetivamente,estão interligadas.
Eu falei certas
coisas nos últimos 5 anos que agora são
consenso entre os analistas:desta crise nós só sairemos(uma crise criada pelo
PT)se todos os atores sociais participarem e fizerem sacrifício.Ainda que isto
pareça óbvio,como o piu-piu se encontrar com um “ lindo gatinho”,o frajola, é
importante e necessário ressaltar sempre e pelas razões supraditas.
A definição de
dialética moderna(não a platônica ,que é diferente),suposto fundamento do
movimento geral,característica fundamental das sociedades industriais modernas
é esta:um ente,um Ser, se define na relação com o seu oposto.A integração e a reintegração
do Sujeito e do Objeto no espírito absoluto,que
ninguém sabe bem o que é,marca o movimento de produção do conhecimento(Hegel).
A
subjetividade(agora estamos em Marx),na práxis ,tem como seu contrário a
natureza,que é transformada em bens(Mercadoria)por ela.
Voltando a Hegel
e citando a sua Filosofia do Direito,o contrário da carência,especificamente a
fome, é o ingerir alimentos(para ser mais genérico e categorial):o movimento de
satisfação se dá na integração entre estes dois momentos,que retornam depois e
assim sucessivamente.
Quando eu disse
que o “ Manifesto Comunista “ estava errado ao localizar o movimento da
História na violência da luta de classes eu quis dizer o seguinte:dentro de uma
compreensão dialética (que talvez[eu disse talvez]Marx não tenha compreendido
bem)a relação entre as classes é que garantia este movimento pois não existe
classe burguesa sem proletariado e vice-versa,bem como,na nossa contemporaneidade,nenhuma
classe existe sem a outra.A classe média, tão culpabilizada por aí,depende da
classe burguesa industrial,a qual depende,dialeticamente,da classe burguesa
comercial e assim sucessivamente.
Este fato,é
lógico,não era estranho a Marx,mas existe uma verdade que as pessoas que não
estudam o Marxismo e falam sobre ele,não sabem:Marx não defendia uma
objetividade científica,mas era conectado a um realismo factual,derivado de
Aristóteles.Marx era profundamente aristotélico!Os apologetas de Marx sempre o
compararam a Aristóteles,sempre.E “O
Capital” começa com uma distinção que está no livro de Economia do estagirita:”
Valor de uso e valor de troca”.Marx em “ O Capital” usa o método racional dedutivo
aristotélico de decomposição da Mercadoria em Geral para as suas múltiplas
determinações,acrescentando os conceitos hegelianos de totalidade
e...dialética.
O que o leva às
lutas de classe dos historiadores franceses da restauração,que tinham estudado
as contendas das revoluções inglesas e francesa é este pressuposto aristotélico
de que as coisas ,os fatos,possuem forma e conteúdo(aparência e essência[forma
e substância]).Ele usa o termo conteúdo porque não considera factual o termo
substância.
Ao principio de
transformação dos seres em Aristóteles,em que a mudança da substância causa a
mudança da forma,Marx opõe o movimento que vai do conteúdo,que se relaciona com
seu contrário,a forma, a uma nova ,na medida em que ele(conteúdo)adquire
mudanças quantitativas.
Como na
dialética da natureza(muito discutível também)às mudanças quantitativas corresponderiam
mudanças qualitativas ,num movimento constante.
Ocorre, e eu já
afirmei isto também,que Marx,como todo cientificista do passado,usa o paradigma
da natureza para servir de modelo da sociedade,mas o desenvolvimento da
sociologia e de outros saberes demonstrou e continua a demonstrar que tal “
modelação” não é possível,não se prova.
Aliás a
desconstrução deste modelo natural começa com o indefectível Kant,porque ele
mostra que o objeto é constituído pelo Sujeito,na sua famosa “ Revolução
Copernicana em Filosofia”,não sendo ,pois, a natureza,com suas “ leis
constantes” ,a base da ação
humana,mas a atividade consciente do
Sujeito.
Marx ,como
Nietzsche Et al,criticam o filósofo de Konigsberg,mas só a partir dele puderam
entender parte da realidade como atividade do Sujeito .
Se levarmos em
conta uma visão bem fundada da dialética ,o que move a História é a relação
ente as classes,como percebeu a prática da social-democracia no século XIX e a
segunda internacional.
A revolução não
aconteceu conforme as previsões do “ Prefácio de 1857” porque não há uma
dialética entre forma e conteúdo na sociedade,mas integração e desintegração
entre as classes,colaboração e luta constantes para constituir o movimento
social e histórico.
Mas como acontece
nas outras formas concretas de movimento a dissociação é condição de
integração:o sujeito e o objeto precisam se diferenciar,se “quiserem “ se
integrar,no movimento do conhecimento.
Nos dias
atuais,inclusive,analistas relacionam a dialética com Kant e dizem ,em favor
dele,que ela é provada como produto da consciência,porque ela só se dá quando o
Sujeito toma a decisão de se relacionar com o “ outro de movimento,o outro de
oposição”.Mas isto é uma outra discussão.
Assim a
dissociação entre as classes,na História,é condição de sua integração e de seu
movimento real,sendo a luta,uma paralisação.
Foi isto o que
eu disse.Não é como certos sujeitos no youtube,que falaram sobre isto,
associando com o interesse pragmático das classes colaborarem.Isto é uma
manifestação concreta,especifica do processo todo,mas a integração essencial se
dá na relação reivindicatória entre as classes,e esta observação ataca não a direita,mas a esquerda que (também) não lê
Marx(pelo menos com espírito crítico,não é?)e fica achando que eu estou
defendendo a aceitação do estado
burguês,do status quo,nada disso.Eu estou dizendo que a forma de atuação é
diferente,dentro do pressuposto dialético.
Uma das provas
desta verdade é a arte,de modo geral.Toda a vez que se intentou fazer uma arte
de classe ,como nosso CPC aqui na década de 60,deu tudo errado.O teatro político
de Piscator,que é o esteio do teatro de
Brecht,sempre trabalhou com personagens e estórias em que as classes estão
envolvidos ,num processo cultural e simbólico,mais importante do que a “
objetividade das classes” e da “ consciência (objetiva[eu digo])de classe”(Lukács).
E os artistas,os
bons artistas,de um lado e de outro,quer dizer,à esquerda e à direita,sempre
trabalharam com esta realidade.
Buchner,em
Woyzek;Nelson Rodrigues,com sua visão de direita nunca deixou de ver o problema
social(a direita não é monolítica)e assim outros exemplos.
Se a consciência
humana se diluísse na realidade objetiva e dialética da classe,o suposto
reconhecimento do estado proletário polonês da classe operária a teria desviado
do catolicismo.Foi isto o que ocorreu?
À esquerda velha
para responder.E à direita também.
Nenhum comentário:
Postar um comentário