sábado, 19 de agosto de 2017

Esclarecimento sobre a luta de classes



Fiz um artigo que teve uma certa repercussão,inclusive no youtube,sobre a concepção de luta de classes em Marx.Um “ filósofo auto-arrogado”(ortografia certa)fez observações e não me citou.Eu devo esclarecer aqui o que eu disse e o que eu penso sobre esta questão toda em Marx.Antes de tudo,no entanto,tenho que dizer que  não sou original,muitos pensadores no passado,até ortodoxos,já tinham expressado visões diversas e críticas em relação ao pensamento de Marx.Mas como eu tenho posto inúmeras vezes,como petição de princípio e premissa metodológica, um pesquisador como eu tem o dever de atualizar as concepções sobre qualquer coisa,a partir de novos conhecimentos e novas realidades da prática.Se ele encontra novas possibilidades de interpretação deve expô-las,mesmo que isto não acrescente  nada ao esforço crítico,porque é sempre bom reforçá-lo.
A minha atitude aqui é oferecer novos argumentos,para novas gerações que seguem Marx sem lê-lo e causam nos movimentos,juntos com seus velhos líderes,problemas terríveis,como os que vemos na Venezuela e vimos no Brasil de Lula e Dilma.
Uma concepção mal compreendida da luta de classes ,e eu já entro no tema do artigo,faz ver a estes movimentos que apoiar pura e simplesmente a “ classe operária produtiva”(única produtiva)é a solução dos problemas nacionais,quando esta só virá quando todas as classes estiverem envolvidas,mesmo porque,objetivamente,estão interligadas.
Eu falei certas coisas  nos últimos 5 anos que agora são consenso entre os analistas:desta crise nós só sairemos(uma crise criada pelo PT)se todos os atores sociais participarem e fizerem sacrifício.Ainda que isto pareça óbvio,como o piu-piu se encontrar com um “ lindo gatinho”,o frajola, é importante e necessário ressaltar sempre e pelas razões supraditas.
A definição de dialética moderna(não a platônica ,que é diferente),suposto fundamento do movimento geral,característica fundamental das sociedades industriais modernas é esta:um ente,um Ser, se define na relação com o seu oposto.A integração e a reintegração  do Sujeito e do Objeto no espírito absoluto,que ninguém sabe bem o que é,marca o movimento de produção do conhecimento(Hegel).
A subjetividade(agora estamos em Marx),na práxis ,tem como seu contrário a natureza,que é transformada em bens(Mercadoria)por ela.
Voltando a Hegel e citando a sua Filosofia do Direito,o contrário da carência,especificamente a fome, é o ingerir alimentos(para ser mais genérico e categorial):o movimento de satisfação se dá na integração entre estes dois momentos,que retornam depois e assim sucessivamente.
Quando eu disse que o “ Manifesto Comunista “ estava errado ao localizar o movimento da História na violência da luta de classes eu quis dizer o seguinte:dentro de uma compreensão dialética (que talvez[eu disse talvez]Marx não tenha compreendido bem)a relação entre as classes é que garantia este movimento pois não existe classe burguesa sem proletariado e vice-versa,bem como,na nossa contemporaneidade,nenhuma classe existe sem a outra.A classe média, tão culpabilizada por aí,depende da classe burguesa industrial,a qual depende,dialeticamente,da classe burguesa comercial e assim sucessivamente.
Este fato,é lógico,não era estranho a Marx,mas existe uma verdade que as pessoas que não estudam o Marxismo e falam sobre ele,não sabem:Marx não defendia uma objetividade científica,mas era conectado a um realismo factual,derivado de Aristóteles.Marx era profundamente aristotélico!Os apologetas de Marx sempre o compararam a Aristóteles,sempre.E  “O Capital” começa com uma distinção que está no livro de Economia do estagirita:” Valor de uso e valor de troca”.Marx em “ O Capital” usa o método racional dedutivo aristotélico de decomposição da Mercadoria em Geral para as suas múltiplas determinações,acrescentando os conceitos hegelianos de totalidade e...dialética.
O que o leva às lutas de classe dos historiadores franceses da restauração,que tinham estudado as contendas das revoluções inglesas e francesa é este pressuposto aristotélico de que as coisas ,os fatos,possuem forma e conteúdo(aparência e essência[forma e substância]).Ele usa o termo conteúdo porque não considera factual o termo substância.
Ao principio de transformação dos seres em Aristóteles,em que a mudança da substância causa a mudança da forma,Marx opõe o movimento que vai do conteúdo,que se relaciona com seu contrário,a forma, a uma nova ,na medida em que ele(conteúdo)adquire mudanças quantitativas.
Como na dialética da natureza(muito discutível também)às mudanças quantitativas corresponderiam mudanças qualitativas ,num movimento constante.
Ocorre, e eu já afirmei isto também,que Marx,como todo cientificista do passado,usa o paradigma da natureza para servir de modelo da sociedade,mas o desenvolvimento da sociologia e de outros saberes demonstrou e continua a demonstrar que tal “ modelação” não é possível,não se prova.
Aliás a desconstrução deste modelo natural começa com o indefectível Kant,porque ele mostra que o objeto é constituído pelo Sujeito,na sua famosa “ Revolução Copernicana em Filosofia”,não sendo ,pois, a natureza,com suas “ leis constantes” ,a base  da ação humana,mas  a atividade consciente do Sujeito.
Marx ,como Nietzsche Et al,criticam o filósofo de Konigsberg,mas só a partir dele puderam entender parte da realidade como atividade do Sujeito .
Se levarmos em conta uma visão bem fundada da dialética ,o que move a História é a relação ente as classes,como percebeu a prática da social-democracia no século XIX e a segunda internacional.
A revolução não aconteceu conforme as previsões do “ Prefácio de 1857” porque não há uma dialética entre forma e conteúdo na sociedade,mas integração e desintegração entre as classes,colaboração e luta constantes para constituir o movimento social e histórico.
Mas como acontece nas outras formas concretas de movimento a dissociação é condição de integração:o sujeito e o objeto precisam se diferenciar,se “quiserem “ se integrar,no movimento do conhecimento.
Nos dias atuais,inclusive,analistas relacionam a dialética com Kant e dizem ,em favor dele,que ela é provada como produto da consciência,porque ela só se dá quando o Sujeito toma a decisão de se relacionar com o “ outro de movimento,o outro de oposição”.Mas isto é uma outra discussão.
Assim a dissociação entre as classes,na História,é condição de sua integração e de seu movimento real,sendo a luta,uma paralisação.
Foi isto o que eu disse.Não é como certos sujeitos no youtube,que falaram sobre isto, associando com o interesse pragmático das classes colaborarem.Isto é uma manifestação concreta,especifica do processo todo,mas a integração essencial se dá na relação reivindicatória entre as classes,e esta observação ataca não a  direita,mas a esquerda que (também) não lê Marx(pelo menos com espírito crítico,não é?)e fica achando que eu estou defendendo a  aceitação do estado burguês,do status quo,nada disso.Eu estou dizendo que a forma de atuação é diferente,dentro do pressuposto dialético.
Uma das provas desta verdade é a arte,de modo geral.Toda a vez que se intentou fazer uma arte de classe ,como nosso CPC aqui na década de 60,deu tudo errado.O teatro político de Piscator,que é o esteio  do teatro de Brecht,sempre trabalhou com personagens e estórias em que as classes estão envolvidos ,num processo cultural e simbólico,mais importante do que a “ objetividade das classes” e da “ consciência (objetiva[eu digo])de classe”(Lukács).
E os artistas,os bons artistas,de um lado e de outro,quer dizer,à esquerda e à direita,sempre trabalharam com esta realidade.
Buchner,em Woyzek;Nelson Rodrigues,com sua visão de direita nunca deixou de ver o problema social(a direita não é monolítica)e assim outros exemplos.
Se a consciência humana se diluísse na realidade objetiva e dialética da classe,o suposto reconhecimento do estado proletário polonês da classe operária a teria desviado do catolicismo.Foi isto o que ocorreu?
À esquerda velha para responder.E à direita também.

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