Todo o
revolucionário o é porque identifica no seu tempo de vida injustiças tais que ele não admite não
resolvê-las(às vezes sozinho...[kkk])nele.
Eduardo
Galeano no filme “ Utopia e Barbárie” de Silvio Tendler,dá uma explicação muito
parcial e distanciada da verdadeira natureza emocional do verdadeiro
revolucionário,em qualquer época,mas especificamente o comunista radical:ele
diz que a geração dele(de revolucionários supostamente)fora dominada por uma
certa arrogância de querer resolver tudo de uma vez e que isto atenderia muito
mais (insinua) Galeano,mas eu desenvolvo)aos anseios de vaidade e
reconhecimento(dos jovens,ele insinua[como fora
ele])do que a uma adequação teórica à realidade e à uma sua real
compreensão.
E podemos
aduzir a isto as freqüentes afirmações da cabeça socialista brasileira que eu
tenho reiterado aqui como tal,nestes artigos,Luiza Erundina,que faz afirmações
análogas ao dizer que não dá para resolver o problema social num geração só.
Antes de
entrar no mérito interpretativo e analítico destas afirmações não posso deixar
de citar uma outra figura ,de sensato,que eu admito muito(por não cair inclusive no conto do vigário do
Chaves):Ferreira Gullar.Ele diz:” se nós somos finitos e não únicos ,a
utopia(esta afirmação se dá no mesmo filme)é o outro,é para o outro.Por menos
que seja o seu apoio,uma ajuda a alguém ou a uma criança abandonada é parte da utopia.
A tragédia
de todo revolucionário(Che,por exemplo),e
também o comunista,percebida por Gramsci,é que existe uma discrepância
(dir-se-á esquizofrênica)entre o coração e a
razão.
Eu gosto
muito da série Cosmos de Carl Sagan e muitos que estarão me lendo agora já a viram e tanto os que o fizeram como os que
não,devem se dirigir ao terceiro episódio que é dedicado,na sua última parte a
Kepler,o fundador da ciência moderna, o “ herói da ciência” segundo Marx(vocês
verão porque, lá)no qual no final Sagan expõe o que é o espírito
cientifico:’deixar de lado as nossas mais caras ilusões”,como fizera Kepler,que
depois de errar em suas teorias ,aceitou uma que correspondia à verdade,mesmo
permanecendo desconfiado.
Diante da
miséria,o revolucionário que se baseia (supostamente)numa teoria e numa ciência
não tem como aceitar que ela não lhe dê
esta resposta imediata,mas foi isto o que aconteceu com a geração de Galeano(e
com a minha):uma coisa é querer que o mundo mude logo e a criança faminta se
empanturre de comida.É neste sentido que o out door de Cuba “ Quinhentos
milhões de crianças vão dormir na rua hoje,nenhuma delas é cubana” resume este desejo,seguido
pela frustrante mas necessária
constatação de que o socialismo e a revolução não vêm da noite para o
dia e que ele,revolucionário,não verá a utopia nem de perto.
Esta
constatação é o ponto de partida,a meu ver,do recomeço,possível,do
movimento,mas para isto algumas conclusões radicais precisam ser feitas.
Não basta
reconhecer o caráter geracional da utopia,como faz Erundina,mas há que lhe dar
sentido real com atitudes corajosas,que normalmente a vanguarda comunista não
toma,pelas mesmas razões do poder burguês que se sente dono das coisas,do poder que com um
toque torna tudo propriedade(dele).
A
vanguarda comunista,que contradiz normalmente Locke,para quem a propriedade é
fruto do trabalho de “ suas mãos”,usa o mesmo argumento.Na medida em que a
vanguarda constrói o movimento não aceita deixar a sua liderança para outra
geração.É bonito falar nas gerações,na finitude,mas reconhecer,em vida,a obrigação de passar o bastão(olha as
Olimpíadas aí...)é outra coisa...
Nunca
senti orgulho pelo fato de pertencer a um partido (o Comunista Brasileiro)liderado
por Prestes ,que que tinha 80 anos e mais de cinqüenta na vanguarda.Nunca vi
tal coisa como mérito,mas descolamento total da realidade e das gerações
futuras e também vi como desejo(psicótico)de poder,ilusão(ideológica)de ser
dono do movimento.
O
movimento comunista nasceu numa época em que predominava a visão científica ,em
grande parte baseada na ética de Júlio Verne.Recomendo também que leiam com
atenção o livro “ Viagem ao Centro da Terra”,onde Verne expõe integralmente a sua ética
cientifica.
A ciência
para ele deveria unir os povos,na busca prazerosa do conhecimento,que muitas
vezes não trazia benefícios ao investigador,imediatos e para sempre.No final do
romance os aventureiros ,debaixo do vulcão,encontram o cadáver de Arne Saknussen
apontando o local de saída do “ centro da terra”.Esta belíssima imagem me
lembra a passagem do bastão(olha as olimpíadas[e o esporte junto com a
ciência]de novo...)nas corridas de revezamentos.Cada um depende do outro para
ganhar.Ainda que Arne tenha fracassado,ele pensou nos outros,nas novas gerações
que podiam estar na busca do “ centro da terra” e que teriam mais chance do que
ele de provar a sua existência.A geração...a outra geração,que me ajudaria no
reconhecimento...pensou “ o grande Arne Saknussen”.
Na ciência
,como no esporte,perder pode significar descobrir erros que ajudarão os
pósteros a ganhar.Os erros de Fabiana
Murer ajudaram Tiago a ganhar.A lentidão de José Carlos Pace ajudou a nascer Fittipaldi.
É assim
que deve prevalecer no revolucionarismo:a coragem de passar em vida o bastão é
condição de construção da Utopia e não acumular forças no seu tempo para
entregar a ninguém.
Eu fico
pensando se a morte do Che ,em vias transversas,não é uma assomo de vaidade e
arrogância(Galeano),por não aceitar que outro faça a revolução e não ele.Não
sei se não existe neste sacrifício esta insuportabilidade psicótica e não sei se o problema das vanguardas não é este.
Voltarei
ao tema.
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