segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O espírito revolucionário e a(-s) sua(-s)tragédia(-s)



Todo o revolucionário o é porque identifica no seu tempo de vida  injustiças tais que ele não admite não resolvê-las(às vezes sozinho...[kkk])nele.
Eduardo Galeano no filme “ Utopia e Barbárie” de Silvio Tendler,dá uma explicação muito parcial e distanciada da verdadeira natureza emocional do verdadeiro revolucionário,em qualquer época,mas especificamente o comunista radical:ele diz que a geração dele(de revolucionários supostamente)fora dominada por uma certa arrogância de querer resolver tudo de uma vez e que isto atenderia muito mais (insinua) Galeano,mas eu desenvolvo)aos anseios de vaidade e reconhecimento(dos jovens,ele insinua[como fora  ele])do que a uma adequação teórica à realidade e à uma sua real compreensão.
E podemos aduzir a isto as freqüentes afirmações da cabeça socialista brasileira que eu tenho reiterado aqui como tal,nestes artigos,Luiza Erundina,que faz afirmações análogas ao dizer que não dá para resolver o problema social num geração só.
Antes de entrar no mérito interpretativo e analítico destas afirmações não posso deixar de citar uma outra figura ,de sensato,que eu admito muito(por não  cair inclusive no conto do vigário do Chaves):Ferreira Gullar.Ele diz:” se nós somos finitos e não únicos ,a utopia(esta afirmação se dá no mesmo filme)é o outro,é para o outro.Por menos que seja o seu apoio,uma ajuda a alguém ou  a uma criança abandonada é  parte da utopia.
A tragédia de todo revolucionário(Che,por exemplo),e  também o comunista,percebida por Gramsci,é que existe uma discrepância (dir-se-á esquizofrênica)entre o coração e a  razão.
Eu gosto muito da série Cosmos de Carl Sagan e muitos que estarão me lendo agora já  a viram e tanto os que o fizeram como os que não,devem se dirigir ao terceiro episódio que é dedicado,na sua última parte a Kepler,o fundador da ciência moderna, o “ herói da ciência” segundo Marx(vocês verão  porque, lá)no qual  no final Sagan expõe o que é o espírito cientifico:’deixar de lado as nossas mais caras ilusões”,como fizera Kepler,que depois de errar em suas teorias ,aceitou uma que correspondia à verdade,mesmo permanecendo desconfiado.
Diante da miséria,o revolucionário que se baseia (supostamente)numa teoria e numa ciência não tem como aceitar que  ela não lhe dê esta resposta imediata,mas foi isto o que aconteceu com a geração de Galeano(e com a minha):uma coisa é querer que o mundo mude logo e a criança faminta se empanturre de comida.É neste sentido que o out door de Cuba “ Quinhentos milhões de crianças vão dormir na rua hoje,nenhuma delas é cubana” resume este desejo,seguido pela frustrante mas necessária  constatação de que o socialismo e a revolução não vêm da noite para o dia e que ele,revolucionário,não verá a utopia  nem de perto.
Esta constatação é o ponto de partida,a meu ver,do recomeço,possível,do movimento,mas para isto algumas conclusões radicais precisam ser feitas.
Não basta reconhecer o caráter geracional da utopia,como faz Erundina,mas há que lhe dar sentido real com atitudes corajosas,que normalmente a vanguarda comunista não toma,pelas mesmas razões do poder burguês que se  sente dono das coisas,do poder que com um toque torna tudo propriedade(dele).
A vanguarda comunista,que contradiz normalmente Locke,para quem a propriedade é fruto do trabalho de “ suas mãos”,usa o mesmo argumento.Na medida em que a vanguarda constrói o movimento não aceita deixar a sua liderança para outra geração.É bonito falar nas gerações,na finitude,mas reconhecer,em vida,a  obrigação de passar o bastão(olha as Olimpíadas aí...)é outra coisa...
Nunca senti orgulho pelo fato de pertencer a um partido (o Comunista Brasileiro)liderado por Prestes ,que que tinha 80 anos e mais de cinqüenta na vanguarda.Nunca vi tal coisa como mérito,mas descolamento total da realidade e das gerações futuras e também vi como desejo(psicótico)de poder,ilusão(ideológica)de ser dono do movimento.
O movimento comunista nasceu numa época em que predominava a visão científica ,em grande parte baseada na ética de Júlio Verne.Recomendo também que leiam com atenção o livro “ Viagem ao Centro da Terra”,onde  Verne expõe integralmente a sua ética cientifica.
A ciência para ele deveria unir os povos,na busca prazerosa do conhecimento,que muitas vezes não trazia benefícios ao investigador,imediatos e para sempre.No final do romance os aventureiros ,debaixo do vulcão,encontram o cadáver de Arne Saknussen apontando o local de saída do “ centro da terra”.Esta belíssima imagem me lembra a passagem do bastão(olha as olimpíadas[e o esporte junto com a ciência]de novo...)nas corridas de revezamentos.Cada um depende do outro para ganhar.Ainda que Arne tenha fracassado,ele pensou nos outros,nas novas gerações que podiam estar na busca do “ centro da terra” e que teriam mais chance do que ele de provar a sua existência.A geração...a outra geração,que me ajudaria no reconhecimento...pensou “ o grande Arne Saknussen”.
Na ciência ,como no esporte,perder pode significar descobrir erros que ajudarão os pósteros  a ganhar.Os erros de Fabiana Murer ajudaram Tiago a ganhar.A lentidão de José Carlos Pace ajudou a  nascer Fittipaldi.
É assim que deve prevalecer no revolucionarismo:a coragem de passar em vida o bastão é condição de construção da Utopia e não acumular forças no seu tempo para entregar a ninguém.
Eu fico pensando se a morte do Che ,em vias transversas,não é uma assomo de vaidade e arrogância(Galeano),por não aceitar que outro faça a revolução e não ele.Não sei se não existe neste sacrifício esta insuportabilidade psicótica e não sei  se o problema das vanguardas não é este.
Voltarei ao tema.

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