quarta-feira, 10 de junho de 2015

Gyorgy Lukács

ou  uma  no  cravo  outra  na  ferradura.




Lukács   foi  um  dos  mis  importantes  pensadores  marxistas do  século  passado,chegando a
substituir  Stalin   como o  "  quarto  clássico"  do  marxismo ,justamente  por  uma  crítica  famosa  ao  ditador.Contudo  ele  mesmo não  escapa de uma  crítica  por  suas  ligações  com  ele,porque  por trás  de  um célebre  conceito que  ele  emitiu  sobre literatura existe  algo  muito  falso e  autoritário.Refiro-me  à idéia  de  que  um escritor pode  ser  de  direita  pessoalmente  e  de esquerda como artista.
Esta afirmação remonta ao  conceito  antigo de despotismo  esclarecido e  não é  novo,portanto.
É  um  modo  de  cooptação de  seu  inimigo através  do  reconhecimento  e manipulação  de  sua inocuidade política.
Os  filósofos  iluministas  do   século XVIII,Diderot  Voltaire  eram  críticos   ferozes dos  déspotas e  monarcas absolutos.Com  o  crescimento da  cultura  estes  déspotas  perceberam
claramente    que  entrar  num acordo  com esta  cultura era  mais  interessante  do  que  a simples   repressão.Era um  jogo  que  acabava  por  ajudar  o  déspota no  seu esforço de legitimação.Porque  a cultura  modificava  o  mundo  indiretamente,os  poucos enquanto  que  os  métodos   políticos   são  mais  rápidos e  perigosos(para  os  monarcas  ).
O  crescimento da  cultura  tem   ver  com o  igual  crescimento  da  classe burguesa
na  Europa  e  esta é  cooptável  de diversas  maneiras  até  pelo  respeito  ao saber  intelectual
como  um  comportamento  nobre  e não  esnobe.
Os  reis,agora  chamados  de  "  déspotas  esclarecidos" cooptam  estes  intelectuais
que  confiam  e  propõem   reformas  liberais e  legitimam  um  poder  que não
muda  senão  muito  superficialmente.
Este  estágio do  despotismo esclarecido  preprara  o campo  para  as  futuras  monarquias
constitucionais,mas  no  seu  tempo  favorecendo  aos  reis  mantendo  o seu  poder .
Tanto  Francisco  José  na  Aústria,como  Catarina  II da  Rússia e  Frederico  o  Grande  da  Prússia só  acabaram com  os  torturas,mas a   estrutura,aristocrática,  que  os  sustentava  no poder  continuou até   mais  firmemente.
Se  repararmos  o conceito  de  Luckács  sobre    a pessoa  do  artista e   as  obras,ele obedece  idêntico  propósito.Da  mesma  forma  que os  Diderot e  Voltaires  do  século XVII eram  rebeldes    sua  obra  podia servir  aos  reis,por  seus  conteúdos  serem  tidos  como verdadeiros  e úteis(para  os  reis),assim  para  Luckács o  critério pessoal de direita  dos  escritores  se  distancia  das  verdades  ditas  por  eles porque o  que eles  revelam e denunciam coincidem pelo  que  diz  a  esquerda.
Eles  eram ,pois  de esquerda,no que  interessava  á  ela.
Nelson  Rodrigues  era  católico anticomunista,mas  ao  denunciar  s  contradições do seu  meio  casava  perfeitamente  com o caminho  comunista!
Isso  significa  que  as  denúncias  feitas  por  ele  contra  o stalinismo  não  têm relevância(como  os  reis,  os  comunistas  se beneficiam deste  truque).Muito  stalinista  no Brasil  põe  Nelson debaixo  do braço e  se  passa  por um  grande democrata...A  direita  não  diz  verdades...
O  grande  Luckács,que  fez  a critica  famosa  contra  o stalinismo  denunciando  os  "  pequenos  stalins"reproduziu(inadvertidamente?)um  dos  seus  métodos,tirado  do despotismo esclarecido,usado  na época  da " coletivização  forçada",quando
Stalin  reprimiu  a Ucrânia  e simultaneamente  trouxe  os  intelectuais  de volta  do  exílio  com regalias  e  direitos  plenos para  depois escondê-los e fazer algo  pior.
Como  os reis, Stalin ( e Luckács)davam uma no cravo e  outra na ferradura.

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