Infelizmente eu
não pude ir
a uma palestra
sobre Spinoza e
Marx como filósofos imanentes
,mas deixo a minha contribuição para
este debate que
não é muito
novo em se tratando de Marx.
Os austro-marxistas,Bruno e Otto Bauer,bem como
Karl Korsch já
haviam criticado as
limitações de Marx,por causa disto
e
buscaram demonstrar que a associação
verdadeira era
entre Kant e Marx e
não Marx e Hegel.
Hoje em dia ,inclusive,se
associa Kant com
Hegel,demonstrando que sem
o criticismo kantiano,a libertação da
subjetividade,da simples
razão,quanto à objetividade,quanto à
obrigatória adequação em
relação ao objeto,não haveria
nada do inicio
do século XIX aos dias
de hoje e eu subscrevo esta
afirmação,principalmente
depois que ficou provado por Sartre
e Popper que a
dialética “ objetiva”
não existe,sendo um
produto da consciência(in “Critica da
Razão Dialética” e “ What´s dialetics?” respectivamente).
Os filósofos
materialistas,de modo geral,como Spinoza e Marx,são imanentes pois
acreditam que as leis internas
do Ser dirigem(e produzem) a
consciência,mas esta
não é expressão de leis da matéria,senão que guarda autonomia diante
dela.
Esta constatação
ficou muito mais clara com Freud,mas
se Kant tivesse tido mais popularidade , já desde
o seu tempo seria possível afirmar
isto.
Hegel ,embora não fosse materialista,acreditava que
existiam leis dialéticas do
movimento do Ser.Habermas demonstrou em seu “
Discurso Filosófico da modernidade”
que em 1806,ao tempo em
que ele escrevia
a fenomenologia do espírito,ele quase rompeu com
esta visão fechada
da dialética,valorizando a linguagem como algo
autônomo.
Mas tudo isto
é para mostrar
que Kant libertou esta
subjetividade da pura relação
com a matéria,para torná-la
algo autônomo e que,transcende à
matéria,não a expressa em suas
leis fundamentais.
No caso de Marx
as intermináveis discussões
sobre quem vem primeiro a
idéia ou a
matéria estão superadas.Marx,como
Engels e Lênin(eu já
disse em outro artigo)não sabiam bem o
que era a Filosofia,que
na época deles era
dominada por discussões sobre
a alma,sobre as
relações alma/corpo etc.Também,diga-se em defesa deles,que
não se tinha
um instrumental filosófico/cientifico(Freud/Kant)para entender
a autonomia das idéias,o
fato de que o sujeito constrói o
objeto e
que o pensamento ,em seu movimento,não
tem como “ obedecer” a leis objetivas ,numa contradição flagrante.
Os
austro-marxistas citados perceberam que
a descrição da utopia comunista
atendia ,para Marx ,a leis dialéticas
objetivas da História,criando uma
outra contradição entre inevitabilidade e evitabilidade do comunismo,flagrante também.Mas
para eles esta descrição é uma
narrativa do que
deve ser esta sociedade,não
uma descoberta/desvelamento das
leis ocultas da
História pela ciência do materialismo histórico.
O Ser
e o dever-ser estão separados
e o dever-ser não é
pura expressão inevitável do Ser,mas algo que se
relaciona com ele,com
enorme grau de liberdade.Embora a
relação se dê na
experiência do Ser pela subjetividade,esta não é simples
reflexo dele.E esta
experiência transcendente
permite a relação com o Ser e com
as demais subjetividades.
O comunismo
pois não é resultado
da história,mas uma
teoria,uma narrativa
possível,diante das mudanças da sociedade,do que é melhor
para a humanidade.
Gosto muito também de Spinoza,mas o seu mérito maior é ter
associado uma idéia de Deus(ainda
que eu ache que este filósofo era ateu)com
o conhecimento,estrada para
vencer a superstição.Um Deus anti-supersticioso!Isto é que é!Mas em
algumas partes de Spinoza
a falta de transcendência desumaniza
e disto trataremos em outro
artigo.
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