sexta-feira, 8 de maio de 2015

Marx era imanentista,mas isto é ruim



Infelizmente  eu  não  pude  ir  a  uma  palestra  sobre  Spinoza  e  Marx  como filósofos imanentes ,mas  deixo a minha contribuição  para  este  debate  que  não  é  muito  novo em  se  tratando de Marx.
Os  austro-marxistas,Bruno  e Otto  Bauer,bem  como  Karl  Korsch    haviam criticado as  limitações  de Marx,por causa disto  e  buscaram demonstrar  que a  associação  verdadeira   era  entre  Kant e  Marx  e não  Marx e  Hegel.
Hoje em dia  ,inclusive,se  associa  Kant  com  Hegel,demonstrando  que  sem  o  criticismo kantiano,a  libertação da  subjetividade,da simples  razão,quanto  à  objetividade,quanto  à  obrigatória adequação em  relação  ao objeto,não  haveria  nada  do  inicio  do século  XIX  aos dias  de hoje  e eu subscrevo  esta  afirmação,principalmente  depois  que ficou provado  por Sartre  e  Popper  que a  dialética    objetiva”  não  existe,sendo  um  produto da  consciência(in “Critica  da  Razão  Dialética”  e    What´s dialetics?”  respectivamente).
Os  filósofos  materialistas,de  modo  geral,como Spinoza  e Marx,são imanentes  pois  acreditam  que as leis  internas  do Ser  dirigem(e  produzem) a    consciência,mas  esta  não é expressão de leis da matéria,senão que   guarda autonomia  diante  dela.
Esta  constatação  ficou  muito mais  clara  com  Freud,mas se Kant  tivesse tido  mais popularidade , já  desde  o seu tempo  seria possível  afirmar  isto.
Hegel ,embora  não fosse materialista,acreditava  que  existiam  leis dialéticas do movimento do Ser.Habermas  demonstrou em  seu  “ Discurso  Filosófico da  modernidade”  que em  1806,ao tempo  em  que  ele  escrevia  a fenomenologia do espírito,ele  quase rompeu  com  esta  visão  fechada  da  dialética,valorizando a  linguagem como  algo  autônomo.
Mas  tudo isto  é  para  mostrar  que  Kant  libertou esta  subjetividade da  pura  relação  com a matéria,para  torná-la algo  autônomo e  que,transcende  à  matéria,não  a expressa em  suas  leis fundamentais.
No caso de  Marx  as  intermináveis  discussões  sobre  quem  vem  primeiro  a  idéia  ou  a  matéria estão  superadas.Marx,como Engels  e Lênin(eu    disse  em  outro artigo)não sabiam  bem  o que era  a  Filosofia,que  na época  deles  era  dominada  por discussões sobre a  alma,sobre  as  relações  alma/corpo  etc.Também,diga-se em defesa  deles,que  não  se  tinha  um  instrumental  filosófico/cientifico(Freud/Kant)para  entender  a  autonomia das  idéias,o  fato de que  o sujeito constrói o objeto  e  que o pensamento ,em  seu  movimento,não  tem como “ obedecer” a  leis  objetivas ,numa  contradição flagrante.
Os austro-marxistas citados  perceberam  que  a  descrição da utopia comunista atendia  ,para Marx ,a  leis  dialéticas objetivas  da  História,criando  uma  outra  contradição entre  inevitabilidade  e evitabilidade  do comunismo,flagrante  também.Mas  para  eles  esta descrição  é uma  narrativa  do  que  deve  ser esta  sociedade,não  uma  descoberta/desvelamento  das  leis  ocultas  da  História  pela  ciência do materialismo histórico.
O  Ser  e  o dever-ser estão  separados  e  o dever-ser  não  é pura  expressão inevitável  do Ser,mas algo  que  se relaciona  com  ele,com  enorme  grau  de liberdade.Embora  a  relação se    na  experiência  do Ser  pela subjetividade,esta  não é simples  reflexo  dele.E  esta  experiência  transcendente permite  a relação com  o Ser e com  as demais subjetividades.
O  comunismo  pois  não  é resultado  da  história,mas  uma  teoria,uma  narrativa possível,diante  das  mudanças da  sociedade,do que é  melhor  para a  humanidade.
Gosto muito  também de Spinoza,mas  o seu mérito maior  é ter  associado uma  idéia de Deus(ainda que eu ache que  este filósofo era ateu)com o  conhecimento,estrada  para  vencer a superstição.Um  Deus  anti-supersticioso!Isto é que é!Mas  em  algumas  partes  de Spinoza  a  falta  de transcendência  desumaniza  e  disto trataremos em outro artigo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário