Ainda tratando de
Marx como filósofo
materialista e por isso imanentista,devemos dizer algumas
coisas que são
essenciais para se entender o
papel deste filósofo (ET
AL)quanto às suas limitações.
Há uma tentação
de considerá-lo como tal,de
ressaltar o seu imanentismo,para mostrar
como ele associava
a liberdade à
própria natureza humana,como
algo inevitável e próprio
dela.Isto se impõe como
importante uma vez
que busca-se separar
a sua utopia da finalidade.Se a utopia marxista está(va)associada um
finalismo,uma
teleologia,caída esta,o que
resta?Althusser,muito crítico
do socialismo real,procurou
exatamente por este caminho
“ salvar” Marx da débâcle
prevista,já nos inícios
dos anos 80 do século passado.
Mesmo associando
obrigatoriamente Marx com Hegel
a intenção era diminuir
o papel da teleologia,que estava
subentendida neste último de
uma maneira ainda mais escandalosa.Para Hegel(no
que se considerou depois como uma antecipação do totalitarismo nazista),o
Estado como consciência coletiva
da sociedade,onde a subjetividade encontra a sua
realização(consciência das carências[Filosofia do Direito])era a
consecução,realização,efetivação,da
(sua[mas que ele considerava lei
dialética universal]) teleologia
dialética.Como a Alemanha(o
estado[sociedade[nação] alemão{ã}(através dele) (esta
lei universal)a havia “descoberto” ela
pulara na frente na senda
do progresso e da
liberdade.Era,pois,o Estado da liberdade
final(teleológica[final-(idade)]).
Marx segue
este pensamento com as devidas
modificações conhecidas(colocando a
dialética de “ cabeça para
baixo”)e colocando ,no lugar do Estado,o comunismo,o não-Estado,onde a
liberdade(real)se efetiva,de fato ,concretamente(“ a verdade é concreta”).
Neste processo marxista(marxiano?[jovem Marx])de
libertação,porém,avulta uma mediação humana/humanizadora,que aparentemente repele a
idéia(religiosa/tomista)de “ natureza
humana),remetendo-o ao imanentismo(Spinoza),ao materialismo em geral:a
antropologia do trabalho.
A libertação
em Marx,diferentemente de Hegel(consciência)é pelo
trabalho(materialismo).Para Marx
( e Engels e Lênin)a subjetividade
é idealismo.Pelas razões
a que já aludi em
outro artigo mais acima ,eles
confundiram as idéias com os transcendentais da
religião.
Talvez Marx pudesse compreender
a natureza autônoma da linguagem ,das idéias
se tivesse conhecido Kant,mas este filósofo
não era conhecido,senão em
setores muito restritos,não tendo
a mesma celebridade,por exemplo,de um Hegel(poderia igualmente
se entendesse que ao lado da
luta de classes existe a co-relação entre
elas e que a
linguagem da política é essencial
para o movimento da
História,sabe-se lá...).
Lênin teve
contato com Kant?No seu livro tão ultrapassado
“ Materialismo e Empirocriticismo” ele faz
críticas mas não demonstra
tê-lo lido diretamente ,o que é uma atitude bem antiética,bem anti-profissional que o
leva a
tirar ilações absolutamente sem fundamento,evitáveis se ele
houvera lido na “ Crítica
Da Razão Pura”,a parte referente à “
Estética Transcendental”,onde o
alemão desmonta esta
acusação ,que vem desde o século XVIII,pela qual
ele e Berkeley
pensam do mesmo jeito.
Desta forma,dita
reiteradas vezes , Marx só entendia
que a mediação de libertação humana ,no plano material, é pelo trabalho,
que modifica -o materialisticamente.Só assim
se pode acessar o que ele
disse no famoso
“ Prefácio” da Economia Política ,de 1857,mas isto marca a
continuidade de seu pensamento imanente.
Se se
quer recuperar o sentido
da sua liberdade,libertando-o da
teleologia pelo imanentismo(inclusive buscando
associá-lo com Spinoza)não haverá
uma resposta satisfatória.
A dialética ,o
movimento do Ser no
panteísmo spinozista não
são capazes de construir
uma alternativa recuperadora,nos termos
acima.É preciso lembrar que
Hegel afirmava que a dialética começou
na “ Ética” de Spinoza,no axioma “omnia determinatio este
negatio”.A contradição nasce lá
e continua na
dialética hegeliana,mas nem o
movimento oferece(supostamente um seu derivativo[da contradição
quero dizer])uma solução.
A tentação
é que ,e isto é
o que subjaz a toda esta
discussão,é preciso resgatar
o sentido da liberdade em Spinoza,que parece algo
inevitável no seu pensamento,coisa
que depende,em Marx,da teleologia.Esta dependência
é uma contradição terrível a qual põe em
xeque a
verdade de que o marxismo é libertário.O desejo é
que o panteísmo
spinozista venha em
socorro de Marx.
A liberdade como puro
movimento(dialético)não se sustenta.O
pensamento de Bernstein (“o movimento é tudo,o fim
é nada” )não encontra
base nos textos de Marx,constituindo um marxismo
sem Marx,ou um materialismo
histórico diferente do dele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário