sexta-feira, 22 de maio de 2015

“Manual” da recuperação da liberdade em Marx



Ainda  tratando de  Marx  como  filósofo  materialista e por  isso  imanentista,devemos dizer  algumas  coisas  que  são  essenciais  para se entender  o  papel  deste  filósofo (ET  AL)quanto  às suas limitações.
Há uma  tentação  de  considerá-lo  como tal,de  ressaltar o  seu  imanentismo,para  mostrar  como  ele  associava  a  liberdade  à  própria natureza humana,como  algo  inevitável e  próprio  dela.Isto se impõe  como importante  uma  vez  que  busca-se  separar  a  sua utopia  da finalidade.Se a  utopia marxista  está(va)associada  um  finalismo,uma  teleologia,caída  esta,o  que  resta?Althusser,muito  crítico do  socialismo real,procurou exatamente  por  este caminho  “ salvar”  Marx  da débâcle  prevista,já  nos  inícios  dos  anos 80 do século passado.
Mesmo associando obrigatoriamente  Marx  com Hegel  a intenção  era  diminuir  o papel  da  teleologia,que  estava  subentendida  neste último de uma  maneira ainda  mais escandalosa.Para  Hegel(no  que  se  considerou depois como uma  antecipação do totalitarismo  nazista),o  Estado como  consciência  coletiva  da  sociedade,onde a  subjetividade encontra  a  sua realização(consciência  das  carências[Filosofia  do Direito])era  a  consecução,realização,efetivação,da  (sua[mas que ele  considerava  lei  dialética  universal])  teleologia  dialética.Como  a  Alemanha(o  estado[sociedade[nação]  alemão{ã}(através  dele) (esta  lei  universal)a havia “descoberto”  ela  pulara na  frente  na senda  do  progresso e  da  liberdade.Era,pois,o  Estado  da liberdade  final(teleológica[final-(idade)]).
Marx  segue  este pensamento com as devidas  modificações conhecidas(colocando a  dialética de “  cabeça  para  baixo”)e  colocando ,no lugar  do Estado,o comunismo,o  não-Estado,onde  a  liberdade(real)se  efetiva,de  fato ,concretamente(“ a verdade é concreta”).
Neste  processo marxista(marxiano?[jovem Marx])de libertação,porém,avulta  uma  mediação humana/humanizadora,que  aparentemente repele  a  idéia(religiosa/tomista)de    natureza  humana),remetendo-o  ao  imanentismo(Spinoza),ao materialismo em  geral:a  antropologia  do trabalho.
A  libertação  em  Marx,diferentemente  de Hegel(consciência)é  pelo  trabalho(materialismo).Para  Marx ( e Engels  e Lênin)a subjetividade é  idealismo.Pelas  razões  a  que já aludi  em  outro artigo  mais  acima ,eles  confundiram  as idéias com  os transcendentais  da  religião.
Talvez Marx  pudesse  compreender  a  natureza  autônoma da linguagem ,das  idéias  se  tivesse  conhecido Kant,mas  este filósofo  não era  conhecido,senão em setores muito  restritos,não  tendo  a  mesma  celebridade,por exemplo,de  um  Hegel(poderia  igualmente  se  entendesse  que  ao  lado da  luta  de classes  existe a co-relação  entre  elas  e  que  a linguagem da política é essencial  para  o  movimento da  História,sabe-se  lá...).
Lênin  teve  contato  com  Kant?No seu livro tão  ultrapassado  “ Materialismo  e  Empirocriticismo” ele  faz  críticas mas  não  demonstra  tê-lo lido  diretamente ,o  que é uma atitude bem antiética,bem  anti-profissional  que  o leva  a  tirar  ilações  absolutamente sem  fundamento,evitáveis  se ele  houvera  lido  na    Crítica  Da  Razão Pura”,a  parte referente  à “  Estética  Transcendental”,onde  o  alemão  desmonta  esta  acusação  ,que  vem desde o século XVIII,pela  qual  ele  e  Berkeley  pensam do  mesmo jeito.
Desta  forma,dita  reiteradas  vezes , Marx  só entendia  que a  mediação  de libertação humana  ,no plano material, é pelo  trabalho,  que  modifica -o materialisticamente.Só  assim  se  pode acessar  o  que  ele  disse  no  famoso  “ Prefácio” da  Economia  Política ,de 1857,mas isto  marca a  continuidade  de seu  pensamento imanente.
Se  se  quer  recuperar  o sentido  da  sua  liberdade,libertando-o  da  teleologia pelo  imanentismo(inclusive  buscando  associá-lo com Spinoza)não haverá  uma resposta  satisfatória.
A  dialética ,o  movimento  do  Ser  no panteísmo  spinozista  não  são  capazes  de construir  uma  alternativa  recuperadora,nos  termos  acima.É preciso lembrar  que Hegel  afirmava  que a dialética  começou  na “ Ética”  de Spinoza,no  axioma “omnia determinatio  este  negatio”.A  contradição nasce    e  continua  na  dialética  hegeliana,mas  nem  o movimento  oferece(supostamente  um seu derivativo[da  contradição  quero dizer])uma  solução.
A  tentação  é que  ,e  isto  é o que subjaz  a toda  esta  discussão,é  preciso  resgatar  o sentido  da liberdade  em Spinoza,que parece  algo  inevitável no seu pensamento,coisa  que  depende,em Marx,da  teleologia.Esta  dependência  é uma  contradição terrível a qual  põe  em xeque  a  verdade  de que o marxismo  é libertário.O desejo  é  que  o  panteísmo  spinozista  venha  em  socorro  de Marx.
A liberdade  como puro  movimento(dialético)não  se  sustenta.O  pensamento  de  Bernstein (“o movimento  é tudo,o fim  é nada”  )não  encontra  base nos  textos  de Marx,constituindo um  marxismo  sem  Marx,ou um  materialismo  histórico  diferente  do dele.

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