Quem
assistiu ao filme
Che lançado há alguns anos,lembra-se que ,no
final da primeira parte,depois de vencer em Santa Clara,Che
caminha por uma estrada em direção
à Havana.De repente ele vê um
dos seus companheiros,passando do lado dele,num
cadillac,em alta velocidade,cercado de mulheres.Ele
manda o companheiro
parar ,vai até ele
e pergunta:” onde você
arrumou este carro”.” Roubei de uma
vitrina”diz o outro.”Então volte,devolva
este carro e
arranje outro meio
de chegar a Havana.Se
não achar vá a
pé”.Quando Che retorna
ao seu carro ele diz:”Es increible”.
Jacob Gorender,famoso comunista
brasileiro,que morreu no ano passado,afirmava que
Che não aceitava
a relação com o
crime,porque ele dizia
que se o
sujeito cometesse crimes no âmbito da
revolução ,no cotidiano
acabaria por se
acostumar e a
realizar os mesmos
delitos.
A verdade,no
entanto,é que as revoluções,como atos coletivos
de vontade, arregimentam
todo tipo de gente e
não há como
selecionar no fragor da
luta,pelo quê este
substrato acaba adquirindo,dependendo dos
descaminhos do processo revolucionário,uma força
maior do que
é admissível.Porque não há
como fazer como o Che
fez.
Mais do que
isto,quando as revoluções não produzem
uma maioria social
capaz física e mentalmente
de entender o seu
significado,é quase
inevitável que este fenômeno de
relação comunismo/crime acabe
se tornando trivial.
Também,sem
uma base prévia de
apoio social e cultural, a
revolução,que nunca volta
atrás termina por
cair no imediatismo
da demagogia e usa
quaisquer poderes,inclusive aqueles
que ela queria derrubar,para continuar
mantendo nas suas mãos
o aparelho de estado.
John Reed,o jornalista estadunidense
que escreveu sobre
os dias da revolução russa, ”Os
dez dias que abalaram
o mundo”,narra um episódio bastante elucidativo desta problemática de todas as revoluções.
Depois de
tomar o
aparelho de estado,os
bolcheviques sofreram a reação
das telefonistas de Moscou,que
eram ligadas ao
czarismo.Como eles precisavam com urgência
dos seus serviços e não
tinham substitutos,deram-lhes regalias,em plena crise,para convencê-las a voltar ao trabalho.Com os cientistas e militares
foi a mesma coisa.
Isto é uma anedota,mas quando
os serviços de setores repressivos
são reutilizados aí é que se vê
que tais piadas
têm um lado macabro.
É preciso
não confundir o
idealismo de Che com as realidades
da revolução,a qual
se não tiver uma base
prévia sólida cai
nestes becos perigosos que vemos ao
longo da História.
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