quinta-feira, 5 de março de 2015

Em torno a Guevara III- comunismo e crime



Quem assistiu  ao  filme  Che lançado há alguns  anos,lembra-se  que ,no  final da  primeira  parte,depois de vencer em Santa  Clara,Che  caminha  por uma estrada  em direção  à Havana.De  repente  ele    um  dos  seus  companheiros,passando do lado dele,num cadillac,em  alta  velocidade,cercado de  mulheres.Ele  manda  o  companheiro  parar  ,vai até  ele  e  pergunta:” onde você arrumou  este  carro”.” Roubei  de uma  vitrina”diz o  outro.”Então  volte,devolva  este  carro  e  arranje  outro   meio  de  chegar a  Havana.Se  não  achar    a pé”.Quando  Che  retorna  ao seu  carro  ele diz:”Es increible”.
Jacob  Gorender,famoso  comunista  brasileiro,que morreu no  ano  passado,afirmava  que  Che  não  aceitava  a  relação com  o  crime,porque  ele  dizia  que  se  o  sujeito cometesse  crimes  no âmbito da  revolução ,no  cotidiano acabaria  por  se  acostumar  e  a  realizar  os  mesmos  delitos.
A  verdade,no  entanto,é que  as  revoluções,como atos  coletivos  de  vontade,  arregimentam  todo  tipo de gente  e  não    como  selecionar no  fragor  da  luta,pelo  quê   este  substrato  acaba  adquirindo,dependendo  dos  descaminhos do  processo  revolucionário,uma  força  maior  do  que  é  admissível.Porque  não  há como  fazer  como  o  Che  fez.
Mais  do  que isto,quando as  revoluções  não produzem  uma  maioria  social  capaz  física e  mentalmente  de  entender  o seu  significado,é  quase inevitável  que este  fenômeno de  relação  comunismo/crime  acabe  se tornando trivial.
Também,sem uma  base prévia  de  apoio social  e  cultural, a  revolução,que  nunca  volta  atrás  termina  por  cair  no  imediatismo  da  demagogia  e usa  quaisquer  poderes,inclusive  aqueles  que  ela queria derrubar,para  continuar  mantendo  nas  suas mãos  o aparelho de estado.
John  Reed,o jornalista  estadunidense  que  escreveu   sobre  os  dias  da  revolução  russa, ”Os  dez  dias  que abalaram  o mundo”,narra  um  episódio bastante  elucidativo desta  problemática de todas  as revoluções.
Depois de tomar  o  aparelho de estado,os  bolcheviques  sofreram a  reação   das telefonistas de Moscou,que eram  ligadas  ao  czarismo.Como  eles precisavam  com urgência  dos seus  serviços e  não  tinham  substitutos,deram-lhes  regalias,em plena  crise,para convencê-las a voltar  ao trabalho.Com  os cientistas e  militares  foi a mesma  coisa.
Isto  é uma anedota,mas  quando  os serviços  de setores  repressivos  são reutilizados  aí é  que se vê  que  tais  piadas  têm um lado  macabro.
É  preciso  não  confundir  o  idealismo de Che  com as  realidades  da  revolução,a  qual  se não  tiver uma  base  prévia  sólida  cai  nestes  becos perigosos  que vemos ao  longo  da História.


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