Oscar Niemeyer costumava dizer que se a pessoa tivesse 10% de qualidades estava muito bom.Depois afirmou que Lênin pensava do mesmo modo.Mao Tsé tung teria dito em certa ocasião que ele fazia revolução com o que tinha de material humano,sem questionamentos,inclusive de caráter moral.
Não sei efetivamente se Lênin disse isto,mas esta citação revela um pouco sobre o que se entende como pedagogia associada à revolução socialista,mas também às conepções típicas de nossa época,que ainda causam mal-entendidos.
Certa vez no sindicato dos professores do Rio de Janeiro eu disse que as condições prévias educacionais do Brasil não eram iguais às da Europa e fui tachado de seguidor de Berlusconi,que havia feito aquela afirmação sobre a superioridade do continente.
O que eu disse e digo agora contra todos estes personagens nomeados aqui é que o homem não é um ser dissociado do tempo e das condições históricas em que nasce.Em princípio,todo povo e toda pessoa tem condições de aprender e evoluir pelo esforço,mas as condições histórico-temporais jogam um peso muito importante na decisão de crescer educacionalmente.
Os socialistas e comunistas são igualitários e tiram desta “ democratização” dos povos e pessoas a motivação para os esforços de construção da utopia e do novo homem,mas os homens são desiguais e são influenciados pelas referidas coordenadas temporais, a herança que cada geração recebe ,mediatizada sempre por questões de classe ,geográficas,mas nunca raciais,genéticas etc.
Eu trago este assunto aqui para mostrar que não adianta querer,pela força,que se estrutura neste igualitarismo,obrigar a sociedade a evoluir ,porque diante de uma situação social/sociológica determinada é praticamente impossível mudar uma geração já fixada e é preciso jogar com as possibilidades da geração seguinte.
Os bolcheviques fracassaram na questão da mudança econômica da URSS exatamente porque achavam que pura e simplesmente,com a oferta de melhores meios para os camponeses isto os faria produzir mais ,mas pelas razões supraditas camponeses acostumados à enxada não tiveram como aprender algo novo.Esta é a base social inevitável da coletivização forçada,que pegou uma parte dos camponeses irredutíveis e os obrigou a agir segundo as determinações do estado; e aqueles que ainda podiam se modificar foram deixados em semi-liberdade.
Na Portugal socialista da revolução dos cravos as tentativas de criação de cooperativas esbarrou no exclusivismo dos camponeses e na necessidade deles de posse dos seus instrumentos de trabalho para produzir pelo menos o essencial.Os comunistas hegemônicos em 1975,quiseram fazer um movimento idêntico ao que a burguesia fez na Inglaterra do final do século XVII,tida por Marx como a origem violenta do capitalismo industrial moderno:as fiações individuais e caseiras foram renuidas em locais próprios,financiados por endinheirados ,que,diferentemente do que acontece no socialismo fizeram um aporte de capital.Os fiandeiros individuais perderam os seus instrumentos de trabalho,em favor de um salário.No projetado socialismo português isto não foi para a frente por que os camponeses não aceitaram esta expropriação e porque os comunistas não investiram em nada novo.
E estas considerações significam mais um termo de igualação entre o totalitarismo de direita e o de esquerda:as hipérboles fascistas sobre a luta individual,a competição e vitória dos mais fortes acaba não sendo diferente dos questionamentos da esquerda,porque quando alguém como eu mostra as eventuais dificuldades que uma pessoa,uma criança,em aprender ,os militantes acusam de fascistas e as pessoas de fracas e de preconceituosas,supondo a incapacidade da pessoa,por razões de raça ou condição social.Uma vitimização que favorece certas vanguardas,que igualando desiguais,manipulam melhor certos grupos ,que ficam no mesmo lugar,na mesma situação social,sem se emancipar e ultrapassar estas vanguardas e na exaltação romântica e idealizada do pobre,do miserável.Um insight rousseauista no mundo moderno...
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