sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Não existe politico sentado







A imagem clássica de Karl Marx sentado numa cadeira escrevendo verdadeiras biblias,como o O Capital,é a sintese de sua vida:ele começou com a “ Miséria da Filosofia”,depois passou para a “ Contribuição à Crítica da Economia Politica”,sem falar em outros textos menores,como “ Salário,Preço e Lucro” e no final ficou dez anos para escrever e publicar O Capital.
Marx nunca foi um intelectual de gabinete por vontade própria,como a direita diz.A direita se refere às ideias de Marx,transformadas em politica por Lênin,junto com Stalin o “ grande culpado”.Mas Marx construiu a Internacional e se inseriu no processo politico a vida toda.
Contudo,como tenho feito uma análise da profissionalidade em geral,principalmente em figuras interdisciplinares como Marx,Leonardo da Vinci,Crhristian Huygens,entre outras,uso este exemplo para mais uma vez aprofundar a minha análise e construir um perfil psicológico(entre outros)de Marx,este “ personagem” que me segue(ou eu o sigo?)a vida toda.
Estes interdiciplinares incorrem frequentemente naquilo que Sartre chama de inabitabilidade.Pessoas que se desdobram e se dispersam tanto que às vezes fazem certas coisas com um nível de volatilidade e descomprometimento,próprio daquele que corre demais,embora dotado de grande capacidade e inteligência.
Sartre diria:” toca as coisas mas não as habita”.
Esta característica de personalidade que Freud analisou muito bem no seu texto famoso sobre a infância de Leonardo da Vinci(que eu analisarei também proximamente),se vê claramente também em Marx e compromete não raro a profissionalidade de alguns de seus trabalhos,que já citei em outros artigos.
Aqui eu não falo em trabalhos escritos mas na atividade politica de Marx.A atividade politica ,como qualquer atividade pode se profissionalizar desde que requisitos prévios e básicos estejam presentes:a referida habitabilidade;a utilidade para outrem do fazer;o compromisso permanente ,tudo isto convergindo ,entre outras coisas para um desejo de fazer,um interesse de fazer,que,não raro,se transforma em amor,ou já nasceu como tal.Amor e afeição.
Não existe politico sentado.Uma vez perguntaram a Ziraldo se ele tinha interesse em fazer politica,já que era (e é) tão opiniático(principalmente no tempo da abertura) e ele redarguiu acertadamente que para ser politico é preciso sê-lo integralmente,porque se seu adversário se dedicar 24 horas por dia você terá que fazer o mesmo,sob risco de ser superado por ele.Eu tenho algumas críticas a esta assertiva,porque acho que há equivalentes e alternativas a isto,mas não vou falar disto agora.
O fato é que trivialmente a politica exige uma entrega e certas atitudes que uma pessoa que estuda 8 horas por dia durante trinta anos não adquire ,ainda que tenha vocação e gosto.
A minha iniciação como comunista no passado,se deu lendo a biografia de Jorge Amado,a “ Vida de Luis Carlos Prestes”.Neste livro não tem muita coisa para traçar o perfil do “Cavaleiro da Esperança”,mas com o tempo fui compreendendo os segredos da liderança de Prestes,que lhe conferiu ligação definitiva com a Coluna,coisa que alguns até hoje constestam,chamando-a não só de “ Coluna Prestes”,mas de “ Coluna Prestes/Miguel Costa”,havendo nisto não pouca razão.O que conectou Prestes à Coluna foi que ele perrcorria e resolvia todos os problemas cotidianos da tropa,angariando assim a sua afeição e reconhecimento,condições essenciais de toda a liderança.
Anos atrás um documentário sobre o filme de Oliver Stone “ Alexander”,mostrou como o ator Colin Farrel criou o seu personagem.O documetário intitula-se “ Becoming Alexander”” “Tornando-se Alexander” e nele vemos como o ator vai progressivamente se comportando como uma liderança militar e politica interessada no reconheciemnto e na legitimação dos seus comandados.
Um politico,por mais cinico que seja,como representante que é de uma sociedade ou de um setor dela,não pode se afastar de suas bases e em determinado momento ,a contragosto até,tem que obedecê-la,como aconteceu com Alarico em 410 depois de Cristo,no saque de Roma:Alarico só aceitou saquear Roma,para não ficar contra o seu povo,que faminto e com raiva da cidade queria entrar nela.Por ele mesmo ,que tinha boas relações com o governo,não faria,mas na análise dos prós e contras preferiu manter a sua ascendência sobre o seu povo.
Marx nunca teve nenhum laivo de compreensão destas coisas.Acreditava que a explicação científica e racional da realidade conduziria a classe escolhida por ele aos objetivos por ele preconizados.
Foi este descolamento psicológico e profissional de Marx da politica que o separou erradamente de Lassale,politico profissional que diante da proposta de previdência de Bismarck não teve ,como Alarico,condições de rejeitar,já que a classe operária alemã estava propensa (e necessitava)a aceitar.
É muito raro um politico ser ao mesmo tempo intelectual,no mesmo nível.Eu só cosnigo pensar em um,assim mesmo em condições históricas muito especiais:o Imperador Romano Marco Aurélio.Mas ainda que nestas condições,conseguiu ser um politico de alto nível e um intelectual filósofo realmente,sendo um dos maiores filósofos estóicos da história,cujos conceitos influenciaram o cristiansmo.Alguns autores dizem que Marco Aurélio é um filósofo pré-cristão.A frase do genesis ,contida na Vulgata latina,traduzida por São Jerônimo,outro pensador estóico,” memento homo ,quia puvis est e ad puulverem reverteris”,” lembra-te homem ,que és pó e ao pó retonarás”,teria vindo das leituras das meditações de Marco Aurélio,feitas pelo padre da Igreja.
Lênin foi o que mais perto chegou disto,mas a sua obra é toda condicionada pela politica.Talvez,lembrando uma análise feita por Carlos Nelson Coutinho no sindicato dos professores na década de 80,o texto “ O Estado e a Revolução”,possa ser tido como uma dissertação de mestrado,mas isto é uma discussão.
Marx não era um politico profissional nem muito bom.

Nenhum comentário:

Postar um comentário