A
imagem clássica de Karl Marx sentado numa cadeira escrevendo
verdadeiras biblias,como o O Capital,é a sintese de sua vida:ele
começou com a “ Miséria da Filosofia”,depois passou para a “
Contribuição à Crítica da Economia Politica”,sem falar em
outros textos menores,como “ Salário,Preço e Lucro” e no final
ficou dez anos para escrever e publicar O Capital.
Marx
nunca foi um intelectual de gabinete por vontade própria,como a
direita diz.A direita se refere às ideias de Marx,transformadas em
politica por Lênin,junto com Stalin o “ grande culpado”.Mas Marx
construiu a Internacional e se inseriu no processo politico a vida
toda.
Contudo,como
tenho feito uma análise da profissionalidade em geral,principalmente
em figuras interdisciplinares como Marx,Leonardo da Vinci,Crhristian
Huygens,entre outras,uso este exemplo para mais uma vez aprofundar a
minha análise e construir um perfil psicológico(entre outros)de
Marx,este “ personagem” que me segue(ou eu o sigo?)a vida toda.
Estes
interdiciplinares incorrem frequentemente naquilo que Sartre chama de
inabitabilidade.Pessoas que se desdobram e se dispersam tanto que às
vezes fazem certas coisas com um nível de volatilidade e
descomprometimento,próprio daquele que corre demais,embora dotado de
grande capacidade e inteligência.
Sartre
diria:” toca as coisas mas não as habita”.
Esta
característica de personalidade que Freud analisou muito bem no seu
texto famoso sobre a infância de Leonardo da Vinci(que eu
analisarei também proximamente),se vê claramente também em Marx e
compromete não raro a profissionalidade de alguns de seus
trabalhos,que já citei em outros artigos.
Aqui
eu não falo em trabalhos escritos mas na atividade politica de
Marx.A atividade politica ,como qualquer atividade pode se
profissionalizar desde que requisitos prévios e básicos estejam
presentes:a referida habitabilidade;a utilidade para outrem do
fazer;o compromisso permanente ,tudo isto convergindo ,entre outras
coisas para um desejo de fazer,um interesse de fazer,que,não raro,se
transforma em amor,ou já nasceu como tal.Amor e afeição.
Não
existe politico sentado.Uma vez perguntaram a Ziraldo se ele tinha
interesse em fazer politica,já que era (e é) tão
opiniático(principalmente no tempo da abertura) e ele redarguiu
acertadamente que para ser politico é preciso sê-lo
integralmente,porque se seu adversário se dedicar 24 horas por dia
você terá que fazer o mesmo,sob risco de ser superado por ele.Eu
tenho algumas críticas a esta assertiva,porque acho que há
equivalentes e alternativas a isto,mas não vou falar disto agora.
O
fato é que trivialmente a politica exige uma entrega e certas
atitudes que uma pessoa que estuda 8 horas por dia durante trinta
anos não adquire ,ainda que tenha vocação e gosto.
A
minha iniciação como comunista no passado,se deu lendo a biografia
de Jorge Amado,a “ Vida de Luis Carlos Prestes”.Neste livro não
tem muita coisa para traçar o perfil do “Cavaleiro da
Esperança”,mas com o tempo fui compreendendo os segredos da
liderança de Prestes,que lhe conferiu ligação definitiva com a
Coluna,coisa que alguns até hoje constestam,chamando-a não só de
“ Coluna Prestes”,mas de “ Coluna Prestes/Miguel Costa”,havendo
nisto não pouca razão.O que conectou Prestes à Coluna foi que ele
perrcorria e resolvia todos os problemas cotidianos da
tropa,angariando assim a sua afeição e reconhecimento,condições
essenciais de toda a liderança.
Anos
atrás um documentário sobre o filme de Oliver Stone “
Alexander”,mostrou como o ator Colin Farrel criou o seu
personagem.O documetário intitula-se “ Becoming Alexander””
“Tornando-se Alexander” e nele vemos como o ator vai
progressivamente se comportando como uma liderança militar e
politica interessada no reconheciemnto e na legitimação dos seus
comandados.
Um
politico,por mais cinico que seja,como representante que é de uma
sociedade ou de um setor dela,não pode se afastar de suas bases e em
determinado momento ,a contragosto até,tem que obedecê-la,como
aconteceu com Alarico em 410 depois de Cristo,no saque de
Roma:Alarico só aceitou saquear Roma,para não ficar contra o seu
povo,que faminto e com raiva da cidade queria entrar nela.Por ele
mesmo ,que tinha boas relações com o governo,não faria,mas na
análise dos prós e contras preferiu manter a sua ascendência sobre
o seu povo.
Marx
nunca teve nenhum laivo de compreensão destas coisas.Acreditava que a
explicação científica e racional da realidade conduziria a classe
escolhida por ele aos objetivos por ele preconizados.
Foi
este descolamento psicológico e profissional de Marx da politica que
o separou erradamente de Lassale,politico profissional que diante da
proposta de previdência de Bismarck não teve ,como
Alarico,condições de rejeitar,já que a classe operária alemã
estava propensa (e necessitava)a aceitar.
É
muito raro um politico ser ao mesmo tempo intelectual,no mesmo
nível.Eu só cosnigo pensar em um,assim mesmo em condições
históricas muito especiais:o Imperador Romano Marco Aurélio.Mas
ainda que nestas condições,conseguiu ser um politico de alto nível
e um intelectual filósofo realmente,sendo um dos maiores filósofos
estóicos da história,cujos conceitos influenciaram o
cristiansmo.Alguns autores dizem que Marco Aurélio é um filósofo
pré-cristão.A frase do genesis ,contida na Vulgata latina,traduzida
por São Jerônimo,outro pensador estóico,” memento homo ,quia
puvis est e ad puulverem reverteris”,” lembra-te homem ,que és
pó e ao pó retonarás”,teria vindo das leituras das meditações
de Marco Aurélio,feitas pelo padre da Igreja.
Lênin
foi o que mais perto chegou disto,mas a sua obra é toda condicionada
pela politica.Talvez,lembrando uma análise feita por Carlos Nelson
Coutinho no sindicato dos professores na década de 80,o texto “ O
Estado e a Revolução”,possa ser tido como uma dissertação de
mestrado,mas isto é uma discussão.
Marx
não era um politico profissional nem muito bom.