Aproveitando a minha concordância já tantas vezes demonstrada com aqueles que unem Freud e Marx me disponho neste artigo a discutir o papel futuro do marxismo que é um dos objetivos fundamentais deste A ponte.
Ninguém é obrigado naturalmente a aceitar essa integração entre a discussão racional sobre uma teoria que passa efetivamente muito mais pelo problema da explicação da realidade e da necessidade de mudá-la do que de questõe subjetivas.
Mas a busca da utopia ,que é o que subjaz à teoria marxista não prescinde de outros fatores que não sejam só puramente racionais, seja pela necessidade política de arregimentar as pessoas , seja para considera-las como são realmente(problemas imbricados),seja para construir mesmoa utopia .
Não há como evitar essa relação que não se resume evidentemente à figura de Freud,mas relaciona com outros psicólogos.
No entanto eu entendo que Freud é basilar e prioritário porque mostra que o problema humano da utopia não se refere tanto às causas das neuroses ,que isso realmente interessa mais aos divans.Freud, como eu já falei em outras ocasiões, sistematiza algo decisivo para a compreensão teórica e científica da realidade: que não existe uma adequação perfeita entre a linguagem e o mundo real,como tentam provar algumas pretensões evidentes de Marx e outros pensadores racionalistas. Sem falar na autonomia da subjetividade,negada pelo cientificismo.
Em tudo isso assume importância o fato de que essa pretensão marxista de fazer ciência ,bem como de outros pensadores, (inclusive Freud), é uma tentativa de compreender totalmente o mundo e de dominá-lo.Um projeto tipicamente cartesiano que entende a previsibilidade científica como algo inelutável e próprio da ciência .
Antes da física moderna que colocou a previsibilidade como algo inelutável Freud cristalizou a tendência tantas vezes reiterada pelos céticos de que o pensamento humano ,bem como a ciência, não tem esta certeza ,essa previsibilidade ,se não com determinados condicionantes percebidos pela investigação . A dialética hegeliano marxista é um dos últimos momentos do paroxismo racionalista que pretendia e pretende prever o que vai acontecer numa escala de tempo quase que milenar.
Para o cientista essa afirmação não tem nada de delirante por que ele supõe ter um meio de prova ,mas desde sempre esse edifício científico fechado vem sendo destruído e sofrendo fraturas e rupturas reveladoras.
A previsibilidade é tão delirante quanto as afirmações megalomaníacas de Hitler sobre o Reich de mil anos.Ela é tão delirante quanto às afirmações de Allende quando tomou posse da história para si e para os seus antes de atirar em si próprio.
Assim sendo todo o racionalista e o marxismo padecem de um certo infantilismo de não reconhecer que a adequação com o mundo inclui as emoções ,o desejo, os sentimentos e não há como por um ato de escolha abrir mão disto.
Só com determinados objetivos pré determinados você pode ficar só com a razão e mesmo assim no caso da utopia ,a pura razão não é suficiente para abarcar o maior número de problemas a ser investigados na sua busca.
A atitude cientificista de construir um modelo explicativo definitivo arroga para o seu criador a condição de dono do processo explicativo e no caso do marxismo, do processo político.
Mas como na vida psíquica e na vida cotidiana não há uma impermeabilidade entre o discurso explicativo e o mundo real ,não só do ponto de vista epistemológico, mas também ético e psicológico,este “ poder” é ilusório.
Essa impermeabilidade racional ,só se dá no seio da família e na vida cotidiana por diferenças de idade entre os homens marcando uma incomunicabilidade.Esta impermeabilidade ,entre um pai e um filho,no entanto,tem que ser superada para o bem da sociedade.
O marxismo sabe dessa abertura e pensa preenchê-la pelo movimento dialético,mas o movimento ,que está no tempo( o tempo é dialético?), sem o homem é um modelo abstrato metafisico.
Isto tudo é para dizer que o marxismo quer ser dono de algo que não é dele,mas de todos:o tempo.E que no plano do cotidiano,nas relações inter-pessoais,a concepção dialética não dá conta dos inumeros problemas sociais integrados na questão da utopia.
É como um pai que quer ensinar algo a seu filho,no cotidiano,recorrendo à dialética, ao materialismo dialético,não ao cotidiano mesmo.
Assim sendo é de se perguntar o que fica do marxismo para o futuro,temas para outros artigos.
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