sábado, 20 de julho de 2019

Uma descoberta pessoal

artigo dedicado à Radio Tupi e à folha de São Paulo.

A direita costuma usar Marx de diversas formas,para desmoralizar a esquerda em geral.Uma das questões mais recorrentes é atribuir a Marx o caráter de um plagiador de outros autores e isto é em grande parte verdade,mas a direita,tanto quanto a esquerda ,plagia.
Eu,por exemplo,sou muito plagiado.O ter publicizado a carta de Freud sobre o menino homossexual,rendeu um monte de gente que usa esta “ descoberta”,que já fora publicizada por Jurandir Freire Costa na década de 80 e que já era conhecida há pelo menos sessenta anos!No artigo que escrevi deixei tudo isto claro:em momento nenhum reinvindiquei originalidade.Apenas fiz pesquisa e comentários sobre esta carta,prcurando trazer fatos novos,procurando fazer novas descobertas,se possível.
Isso rendeu uma repercussão na Globo News ,no tempo da Copa da Rússia e agora psicanalistas radiofônicos a usam,do mesmo modo que eu.Não tem problema neste caso.
Mas em outros a coisa se torna mais séria e eu aqui uso um exemplo tirado da vida intlectual de Marx:muitas idéias de Marx ele as tirou de outras pessoas.
No primeiro volume de “ A Ponte”escrevi um artigo sobre a personalidade de Marx.Quando Lassalle conheceu Engels e as suas idéias ele disse ao segundo que “ iria apresentá-lo a um homem que era mistura de Voltaire e Lessing” e eu frisei que tal revelava muito do que Marx era:semelhante a Voltaire,que não possuía uma filosofia original,mas usava idéias de outros para construir um pensamento.
Isso se aplica a Marx e a pessoas do mundo radiofônico e à direita:de fato Marx era muito colador.Ele reorganizava idéias e dava-lhes um outro sentido,dentro de um outro sistema.
Isto ocorre quanto à “ sua” concepção de “ ditadura do proletariado”.Numa carta famosa a Kugelman ele se refere à “ sua” concepção,mas o conceito de ditadura do proletariado veio se desenvolvendo até o tempo dele,desde a Revolução Francesa.
No periodo que vai de 1792 até 1847,a classe operária,o subproletariado urbano de Paris(sans-culotes)entendeu que não poderia fazer,como fizera,aliança com a burguesia revolucionária,porque,no final,esta última sempre levava vantagem e passava por cima dos operários.
Foi assim que se gestou o conceito,que se cristalizou na figura do revolucionário francês Auguste Blanqui.
O editor das obras de juventude de Marx,David Riazanov,que se tornou curador das obras do marxismo na antiga URSS,no Instituto Marx-Engels-Lênin(nomenclatura atual),escreveu um texto em que contestava a comparação entre Blanqui e Marx,mas a sua distinção não invalida a origem do termo de Marx,”ditadura do proletariado”em Blanqui.
O que Riazanov diz é muito parecido com a discussão do século XX sobre a luta de massas e o foquismo da revolução cubana(Che Guevara):Marx não defendia uma luta direta para tomada do poder do estado,mas a luta de massas.Contudo a aceitação da ditadura é nos mesmos moldes propostos por Blanqui.E a ideia é de Blanqui.
Ao falar em ditadura do proletariado Marx devia ter reconhecido a origem e a declarado.Isso é importante porque no contexo da vida intelectual de Marx há um aspecto digno de nota,para identificar os problemas fundamentais do marxismo:o cientificismo.No volume III de “ O capital”,Engels compara Marx a Lavoisier.Para Engels Marx representava uma ruptura científica quanto ao passado do movimento social e comunista(que existia quase cem anos antes),assim como Lavoisier superara ( com a balança)a alquimia.
Estes dois exemplos são fruto do cientificismo,que vendeu esta ruptura para fins de luta contra a superstição e aquilo que não tinha método.Isto em parte é verdade também,mas o passado,o presente e o futuro de todo o processo de conhecimento se faz não necessariamente por rupturas,mas por tateio,por experimentação constante,nem sempre rigorosa e metódica.
Depois de Lavoisier,a ciência passou quase cem anos tentando compreender e provar a existência do átomo sem conseguir e num tateio cego que apresentava erros e acertos.
O conhecimento é assim.
Marx( e Engels)achava que a sua contribuição punha no lixo o seu passado,soterrado no conceito duvidoso de “ socialismo científico”.Mas o movimento social é plural,o passado conta no presente e a luta não se identifica obrigatoriamente com uma concepção cientifica e ,muito menos,com o marxismo.Marx devia ter citado Blanqui,por dever de honestidade e de valorização do movimento social.
Em outra das realizações de Marx eu dou de lambuja uma “ novidade”,cuja descoberta eu reinvindico como minha e exijo reconhecimento.
Riazanov ,num outro livro,composto de preleções sobre a vida intelectual de Marx e Engels,mostra que a famosa frase “ Operários de todos os países uni-vos” não era dele.
O episódios de 1847 e 1848 são contados por Riazanov:havia uma crise cada vez maior entre Weitling,chefe da liga comunista dos justos(a Liga dos Alfaiates[Weitling era alfaiate]).Esta crise girava em torno da concepção da luta de classes,tema muito comum naquela época.Weitling e a Liga dos Justos não aceitaram as visões Marx de que os interesses dos trabalhadores não se coadunavam com os da burguesia e que esta devia ser suprimida por uma revolução.Numa última reunião tumultuada muitos saíram da organização por causa de Marx,que ,ele também ,deixou o movimento.
Apesar de cético quanto às possibilidades de seu pensamento ser aceito em outras organizações comunistas ,Marx e Engels receberam uma proposta de uma outra Liga para fazer uma profissão de fé comunista a lançar na Revolução esperada.Engels mudou esta idéia para um manifesto e convidou Marx a participar das reuniões deste grupo.Na primeira nenhum dos dois participou,mas na segunda,Marx conseguiu,mais ou menos ,e contrariando o seu ceticismo,convencer os militantes a comungar de suas visões e aí,com a ajuda de sua Jenny e de Engels escreveu o Manifesto Comunista.
Ocorre ,no entanto,que Riazanov prova que Marx viu a frase final de seu Manifesto em revistas editadas pela Liga dos comunistas,uma edição única,de seis ou sete exemplares e colocou em seu texto.Riazanov tinha estas revistas,duas delas.
AQUI NO BRASIL EU É QUEM TRAGO ESTA REVELAÇÃO,QUE NÃO É CONHECIDA POR NINGUÉM E REINVINDICO O RECONHECIMENTO DESTE TRABALHO.
Muitos vão dizer que isto não tem muita importância,mas eu objeto que não raro a verdade ,por menor que seja,oferece uma compreensão mais exata do mundo e da sociedade.
Esta frase mostra que o socialismo é obra de coletividades,não de uma pessoa só.Em outras ocasiões outras frases atribuídas a Marx descortinam melhor a vida:Frei Betto afirmou numa entrevista que a frase “ A religião é o ópio do povo”,não é de Marx,mas de Kant.Ainda não encontrei esta prova,continuo procurando,mas se for fato ,prova que a crítica iluminista da religião não proveio só de Marx mas do iluminismo alemão,que influenciou Kant.
Muita gente em certas rádios,sem conhecimento,só falam no iluminismo francês,extremamente anti-católico,mas o iluminismo alemão é tão importante quanto e se imbrica com o cristianismo e mostra que o comunismo vem do cristianismo,pertence à tradição judaico-cistã de Bolsonaro.Marx foi tocado pelo iluminsmo alemão e este é em grande parte comunista.Lessing era comunista.
Se consultores da radio tupi se referirem a esta minha descoberta espero ser citado,pelo menos,em nome da minha pesquisa,que não precisa de canudo para ser válida.