terça-feira, 14 de agosto de 2018

O marxismo no século XX virou a shindo remei.

Uma religião atéia
Pesquisando no youtube sobre algumas lideranças comunistas achei este vídeo da entrevista final da vida de Santiago Carrillo,na Espanha, um dos mentores do eurocomunismo.
Logo no inicio deste documentário uma  frase de uma carta endereçada por um comunista a Berlinguer(secretário Geral do Partido Comunista Italiano),é mostrada:”A luta final será entre comunistas e ex-comunistas.
Aqueles que puderam ler o livro de Fernando Morais,” corações Sujos” bem como o filme nele inspirado,notarão como funciona o pensamento político e militar da nação japonesa.Quando eu era pequeno ,as lembranças da 2ª Guerra contadas a mim por meus pais,davam conta da natureza muito especial do Japão e do soldado japonês,cuja palavra definidora é “perseverança”.Até a década de 70 achavam-se nas florestas asiáticas soldados escondidos em cavernas,esperando a ordem do Imperador para continuar a  luta,alegando serem inverídicas as notícias sobre a capitulação do Imperador Hiroyto.
Várias vezes no Jornal Nacional desta época dizia-se que estes soldados não foram avisados de que a guerra acabara,mas não era isto não:a perseveraança de continuar e não aceitar ,apesar de tudo,a derrota , se imbricavam na concepção militar básica do Japão,uma interpretação moderna do comportamento dos antigos espartanos e persas.Resultado do Código feudal samurai,o “ Bushido”.
Aqui no Brasil,como conta Fernando Morais,os emigrados japoneses que vieram ao Brasil foram obrigados por uma organização militar,a  não aceitar a derrota do seu país e aqueles que a aceitavam,morriam.
Um dos episódios mais exemplares desta ética é o  piloto “ kamikaze”(“vento divino”).Há um poema(o melhor)de Mishima ,que expressa a inconformidade do japonês com a  perda do status divino do Imperador,pois,como diz este poema
“como exigir o sacrifício de jovens se o Imperador não é divino”.
Segundo a lógica samurai a divindade pode exigir este sacrifício e tal conceito é muito comum no referido mundo antigo e no mundo feudal,como elemento de garantia de fidelidade aos senhores.Isso passa para a nação,já que o Imperador divino se identifica com ela.
Mas o que isto tem a ver com o marxismo?
A frase do inicio do documentário citado e exposto no link,revela como o marxismo no século XX se tornou mais que tudo uma religião e uma religião atéia.
As religiões em geral são muito criticáveis,por suas vinculações com a política e erros conceituais e históricos,mas elas se adaptam e são portadoras de valores e intenções axiológicas.
Uma religião atéia cultua o quê? Se não há nada no lugar de Deus,cultuar o quê ? O nada ? Entre cultuar o nada e uma bela mulher católica ,cheia de pudor e que vai à missa todo dia,o que é mais legítimo escolher ?
O marxismo caiu num dogmatismo não raro pior do que o de muitas religiões porque embora acreditando se basear numa ciência dialética real,cometeu um erro semelhante,em primeiro lugar porque acreditou numa dialética real e em segundo porque acreditou que um modelo científico(qualquer um)dá conta deste real.
Ambas as mediações não são outra coisa senão o culto do nada,acreditando no tudo,que é a base bipolar de todo dogmatismo,qualquer que seja.E isto revela o verdadeiro sentido da expressão,originária do cristianismo,de  revolta (escatologia):na medida em que o tempo já está pré-dado(na dialética ,no caso do marxismo),como  eternidade ,fazer a revolução é só se reencontar com algo que já existe e que foi perdido(no “ Paraíso”).
É o mesmo mecanismo de reobtenção da graça divina,perdida por Adão e Eva.Quem se coloca contra isto merece o inferno porque não vê a utopia pronta diante de si prejudicando a todos.
Se o movimento está pré-dado,porque é dialético, é só reconhecê-lo para operar a  revolução,a qual,por isto,resolve o problema da miséria e da fome.Não interagir com isto impõe a culpa, a qual justifica o massacre,a repressão, a violência e a ditadura.
Então não se trata de conhecer a realidade para mudá-la mas de congregar(como na religião)as pessoas para tomar o estado e garantir de vez a utopia.
Não é nem mais a questão do inimigo de classe(burguesia).Está tudo dado,só precisa ser tomado.
Então,assim como,no Japão, a derrota é impossível e a sua admissão é culpa punível com a morte,entre os comunistas e marxistas a questão não é mais como vencer a burguesia,politicamente,mas evitar que alguém(traidores)impeça a vitória.
Diante desta frase que causalmente eu encontrei,fica mais claro para mim porque sendo um pesquisador simples e sem muita influência muita gente me atazane ,me acuse nas redes,quando deveria tê-lo feito à Achille Ochetto,que,com muito mais poder,declarou diante do mundo que o “ comunismo morreu”.Eu hein?

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