Mas também
é preciso considerá-los de uma maneira
que apure as conseqüências do que ele diz.Não se pode ,apesar desta ambigüidade exegética,deixar de
confrontar o que aconteceu na Rússia ,onde um estado (totalitário)cresceu
enormemente,com as sobejas demonstrações de Marx e Engels quanto à necessidade
de não associar o comunismo com o Estado.Vejam esta passagem de Engels no
pequeno trabalho “ Sobre a Autoridade”,no auge da polêmica com os anarquistas e
principalmente bakuninistas:
“Todos os socialistas concordam em que o Estado político(diríamos
hoje estado hegemônico da burguesia) e
com ele a autoridade política desaparecerão como conseqüência da próxima
revolução social, ou seja, que as funções públicas perderão o seu caráter
político e se transformarão em simples funções administrativas protegendo os
verdadeiros interesses sociais(sem hegemonia).”
Se Marx ou Engels concordassem com o estado soviético ou “ melhor” com o Stalinismo,eu me
jogaria (e exigiria que o Che o fizesse também)da Rocha Tarpéia!Brincadeira!Eu diria
que alguém estava mentindo ou que alguém era oportunista ou psicótico ou cínico
ou tudo isto!
Na época de Marx e Engels praticamente(praticamente)só
existiam as classes burguesa(minoritária)e
o operariado industrial.De uma maneira preconceituosa os dois
descartavam o campesinato,que vivia no cretinismo do campo e o lumpesinato,aqueles que não se encaixavam
na sociedade industrial e viviam à deriva.
Como não teorizaram especificamente sobre estas classes é
de se pensar que elas seriam absorvidas
e modificadas pela sociedade comunista.Contudo
na época deles , e somente no final do século XIX e inicio do XX,surgiu uma classe média
crescente,mais compreendida pelos social-democratas alemães,que ressaltaram a
necessidade de incorporá-la ao processo de mudança,só que agora mais na
perspectiva da reforma e não da revolução,porque a classe média,com os seus
ganhos reais não tem interesse real num processo revolucionário.
Aqui aparece a divisão entre os marxistas,que continua até
hoje(e inspira Guevara),entre os que apóiam o esquema marxista tradicional,supostamente
vitorioso na Rússia e os heterodoxos que
enveredam por reconhecerem que as condições
mudaram,principalmente no ocidente,mas servindo de modelo para todos os
países,que consideram inevitável e necessário o surgimento de uma classe
média,uma medida e condição do fortalecimento da moderna democracia.Reconhecem
igualmente que a classe operária em muitos lugares teve ganhos deste tipo ,mais
do que nos estados socialistas ditos “ reais”.
O que acontece com os setores ortodoxos é que a classe média parece parasitária do
capitalismo e uma sua mantenedora indireta .O capitalismo ,”espertamente”,
dividiu as tarefas com setores sociais
antes excluídos,para que não revolucionassem,num processo semelhante ao que
ocorreu depois da Comuna de Paris,1871,com a classe operária,cooptada pelo
progresso científico (que melhorou as suas condições{daí o grande incremento da
ciência})e pelo capitais e matérias-primas vindas das colônias ,notadamente
africanas.É bom que se diga aos ortodoxos de hoje,que,segundo Hobsbawn(A Era do
Capital)o operário europeu médio deste período apoiou o neo-colonialismo,pensando mais na sua
condição nacional do que no internacionalismo da classe operária...Ninguém da
classe operária defendeu os
trabalhadores africanos ou asiáticos e só em duas ocasiões ,havidas nos Estados
Unidos e no México se colocaram contra os países centrais:quando da Guerra de
Secessão A internacional,presidida por Marx,enviou uma carta de apoio ao
Presidente Lincoln(eu vou publicar esta carta proximamente)instando-o a fazer a
libertação dos escravos;e no caso de Benito Juárez a intervenção Austríaca no México.
Mas tudo isto não encobre o fato de que o crescimento da
classe média era inevitável e atende não a interesses das classes
burguesas(pode acontecer eventualmente
claro),mas ao desenvolvimento do Estado Moderno com conseqüências na divisão do trabalho.
Se a classe média apoiou o fascismo contra o comunismo em
muitos lugares ,em outros ela apoiou o socialismo,a democracia,dependendo das vicissitudes do
lugar e do tempo.
Era bom que doidões como a Sra Marilena Chauí prestassem mais
atenção a estes detalhes.Por isso eu não gosto de socialistas especializados,como a professora
de Filosofia.Ela fica no seu metier e não estuda outras disciplinas essenciais para quem se diz,ainda,revolucionário ou
radical(não sei se ela é ainda).Também tais considerações deviam calar fundo na
consciência do Lula,que fundou um partido dos trabalhadores para incluir a
classe média e fica deixando este pensamento hegemônico radical prosperar
dentro do seu partido.
Mas tratamos aqui do Che e dos fundamentos do Marxismo.Ele
também é um ortodoxo e seguiu os parâmetros desta limitação.
Dentro do estado de intenção comunista,mas nacional-repressivo,que
resultou da Revolução Cubana(seguindo a URSS) ,um dos primeiros atos foi acabar
com as disciplinas eruditas,culturais,teóricas,por desimportantes(ato que Pol
Pot admiraria)ou não prioritárias e embora com a sua consciência
internacionalista ele não saiu deste pântano que se tornou o marxismo após a morte de
seu fundador.
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