Tanto Trotsky como Guevara nunca tiveram contato com as obras de juventude de Marx,especialmente da ideologia alemã .Mas ambos compreenderam o significado real do comunismo,afastando muito do que alguns militantes ainda pensam ser verdade:que o socialismo real é comunismo.
Depois que Guevara foi enxotado de Cuba,por
exigência da URSS,compreendeu perfeitamente o que estava acontecendo no mundo
socialista.Mas já o tinha notado na sua viagem pelo mundo e também nas suas
lutas teóricas dentro de Cuba,para defender o seu desenvolvimento em direção ao
comunismo(no seu significado real).
Como relata Jon Lee Anderson quando che voltou
da viagem acusou a URSS e a China de fazerem o jogo do imperialismo,tendo uma
relação igualmente hegemônica com países do terceiro mundo,especialmente e
naturalmente,com Cuba.
E depois,ou antes desta viagem,as discussões
sobre o desenvolvimento do país caribenho já lhe mostraram certos impasses da
teoria,os quais já tinham quebrado a cabeça dos teóricos russos e soviéticos,como Preobrajenski e Bukharin,além
do próprio Trotsky e de Lênin.
A pergunta decisiva era ( e é)se o que
impulsionava este desenvolvimento era o incentivo material ou a questão moral.
Stalin usou na URSS o incentivo moral para
garantir a produção capaz de levar ao comunismo.O episódio do stakhanovismo o
prova.
Mas em Cuba a discussão pendeu para outro
lado,o incentivo material,mais afeito a Bukharin e já numa época em que os
fracassos da China e da coletivização forçada erma conhecidos.O incentivo moral
não fora capaz de ,unindo a população,criar a superabundância necessária para passar
à utopia.Então os teóricos cubanos preferiram os incentivos materiais,ou seja,
a cada ganho em produção seria dado ao produtor aquele quinhão que lhe era
devido,reconhecendo a desigualdade entre os trabalhadores.
Tanto Stalin quanto Mao tsé-tung atribuíram o
fracasso a este “ desigualitarismo”,mas Kruschev disse a este último(em suas memórias
)que o não reconhecimento da diferença entre os produtores é que gorou com
a “ coletivização” e que o mesmo ocorreria com o “grande salto para a frente”
se se mantivesse este erro.
Guevara,embora compreendesse este
problema,que está na raiz do comunismo, “de cada um segundo sua capacidade,a
cada um segundo sua necessidade”,entendeu que esta última parte da oração era
mais importante e garantiria a unidade da sociedade,na sua luta para melhorar.
Contudo,ficou provado historicamente que no
inicio desta luta a igualdade é essencial para manter esta unidade,mas como
Marx havia previsto,a abundância devia ser alcançada o mais rapidamente possível,criando
as condições de uma distribuição igualitária(e desalienante)por toda a sociedade.
Isto a desafogaria,acabaria com as
classes,daria sentido e bem-estar coletivo e aí sim,conforme está na ideologia
,os cidadãos desta sociedade seriam material e culturalmente livres.
A distribuição da escassez nos países socialistas
contraria esta teoria(este desejo),porque desde o inicio,um mínimo de desigualdade
precisa ser admitido,senão ocorre o que se deu:o fracasso das tentativas.
A perspectiva de uma revolução internacional
é que ela oferece condições para esta admissão,mas num pais atrasado e
confinado como era a URSS,não era possível,como não foi na e nunca será na
China.
A única forma d e fazer uma produção
exponencial é garantir a liberdade dos trabalhadores como indivíduos,considerar
a sua preparação,inclusive cultural e educacional, e admitir as diferenças
entre estes atores individuais.
É aceitável que do ponto de vista do começo
de uma produção a igualdade seja vista como natural,mas com o tempo não há como
evitar este atributo da natureza humana,que os comunistas e Guevara entre eles
teimam em colocar no lugar no mundo real,material,numa contradição idealista no
interior do materialismo histórico .