Continuando o artigo anterior,eu me lembro que quando comecei este meu trabalho de pesquisador, tratei de um assunto sobre o indefectivel Kant e as Revoluções.
Ora ,Kant presenciara e analisara a Revolução Francesa e o modo como ele resumiu seu pensamento sobre os seus descaminhos nos influencia até hoje.
O texto de Kant mais conhecido sobre a Revolução e que eu analisei há muitos anos foi “ o conflito das faculdades”.
O que nos interessa é a conclusão dele sobre estes descaminhos de 1789 especialmente demonstrados no afã deste movimento em buscar símbolos,notadamente do passado,para assegurar a sua unidade.
Quando uma revolução busca simbolos do passado é porque não tem um projeto unificado e real.Veja bem o leitor:não disse que a revolução francesa não tem um programa,mas desde o inicio e principalmente na fase republicana,ela foi presa de divisões internas que se foram aprofundando a partir desta fase.
Esta observação é minha.A de Kant se refere a outro problema que está imbricado com ela:as revoluções,quando se dividem ,quando são reféns de processos de dissensão(inevitáveis?) ,buscam estes simbolos e os reiteram constantemente,para unificar de algum modo,o movimento,que já perdeu esta condição,supostamente essencial de toda a revolução.
Mas a verdade total é que a busca do passado e dos simbolos revela falta de conteúdo no presente e necessidade de encontrar em algo que já não existe mais ou tem uma influência tênue, um elemento unificador das “ vontades” que se apresentam nas revoluções.
Quando o regime soviético estava já em decomposição ,nos anos 80 do século passado,a forma de unificar as divisões evidentes do poder,que vinham desde Lênin(o único que unificava as facções),foi a gerontocracia, a escolha de velhos,de pessoas já bem velhas para fazer esta unidade.
De modo geral o movimento comunista foi sempre refém disto aí.E isto aí significa que as personalidades e os simbolos são um meio de ajudar a construir uma unidade que não tem raízes sólidas,porque os movimentos ,as revoluções, não têm bases seguras e são ,no mais das vezes ,imposições possibilitadas por situações históricas.
Eu sigo muito Hannah Arendt na defesa que faz das revoluções burguesas,especialmente as de 1640 e 1688,esta última a única revolução real da história sem praticamente nenhuma violência.
Dentro de uma sociedade homogênea e que evolui com esta homogeneidade,é factivel,num momento de transformação,evitar estes simbolos,tê-los o minimo desejado,porque a sociedade está unida dentro de propósitos tão radicados na sua prática cotidiana que não há porque usá-los.
Este é o melhor caminho,mas não aconteceu na Revolução Francesa e Russa.Foi necessário usar mecanismos para manter uma unidade falsa,decorrente da falta de fundamento real nestes processos.
Assim o uso do estado,de seus simbolos,na forma totalitária do socialismo real ,fato totalmente integrado ao papel cada vez mais crescente do estado em geral no século XX,significou um compromisso de ajuda ao povo,ao povo trabalhador,num grau de radicalidade ou mais profundidade do que o estado previdenciário por exemplo.
O estado de todo o povo foi a proposta”(imposição) stalinista de supressão das classes.Mas diferentemente do estado previdenciário,baseado em estado de direito e em formas republicanas de convivência este estado ideológico cobra um retorno em aceitação e legitimação por cumprir a sua obrigação de prover a todos,as suas necessidades básicas.
A diferença da revolução francesa para a russa é esta:esta devolução,que se parece mais com os processos religiosos de ajuda e comparecimento aos cultos,como condição de uma aliança e pacto de aceitação mútua.
É e não é diferente do estado nazista na medida em que se exige esta troca,mas neste último,parte-se do princípio racial.Na verdade tudo isto tem a ver com a politica,no seu sentido mais distorcido da palavra.