sábado, 4 de abril de 2020

Florestan e o socialismo real II

De modo geral o comunismo,no seu sentido real, está embutido no socialismo e mesmo no capitalismo.Mesmo no capitalismo não,ele deriva,segundo Marx(e outros, no iluminismo alemão)das condições criadas pelo capitalismo.
Conforme eu já expliquei em outras ocasiões,o esquema geral do comunismo se entende pela imagem abaixo,analisando-a:

Na comunidade primitiva,antes da civilização(das primeiras cidades)e da História,o princípio do iluminismo alemão(Lessing),” de cada um segundo a sua capacidade,a cada um segundo sua necessidade”já estava implicito e o cristianismo,nas suas comunidades dos dois primeiros séculos de nossa era,o repetiu.
Mas este comunismo primitivo,baseado numa escassez inevitável,foi retomado no século XVIII,diante da primeira onda industrial,cujo ápice aconteceu em 1750(Hobsbawn).Os iluministas alemães se deram conta de que este esquema cristão podia permanecer diante da superanbundância de bens,algo que era agora possível de obter com as máquinas.E de quebra se recuperava aquilo que havia de bom na comunidade primitiva:a ausência de classes,a uniformidade do ser humano,do gênero humano.Uma realidade que foi perdida e que deveria ser recuperada.
Eu,pessoalmente diria,que o esquema de Platão podia ser aplicado aqui:os homens perderam a sua idade de ouro e lutam séculos para (re-)voltar atrás.A utopia comunista tão identificada com o futuro na verdade é um retorno e Marcuse ressaltou bem isto.Tratarei disto aí em outro artigo,no blog temas.
No artigo anterior sobre Florestan eu disse que o socialismo não é ainda comunismo(bem como o capitalismo ora...),o que causou espécie em muita gente.
Os governos socialistas colocavam à disposição da sociedade inteira tudo o que era produzido,que é um dos objetivos do comunismo:todos terem acesso imediato a tudo e com tempo livre para se dedicar a qualquer coisa.
Agora,no Brasil,se fala muito em certas rádios,em uma renda básica universal,para que aquele que está irremediàvelmente desempregado,possa fazer isto,com tempo livre,mas isto está na “Ideologia Alemã” de Marx.
É verdade,o socialismo,embora ainda não comunismo,se compromete a realizar esta comunização geral,mas esta,foi isto que eu disse,não é legitima,porque ela é baseada numa escassez,com o compromisso de crescimento econômico e superabundância dificil de conseguir,no plano regional ou nacional.
Ao distribuir,por exemplo(como ocorreu de fato),moradias para todos,sem capacidade produtiva,tal distribuição não só não é equitativa,porque não há moradias de qualidade para todos,como repete os problemas do capitalismo,porque pessoas desigualmente consideradas vão exigir itens melhores,segundo a sua atividade e importância social e politica.Talvez mesmo o socialismo,neste passo,crie distorções.
Por isto Marx nunca apoiou o termo socialismo,porque ele advogava a ditadura do proletariado,que criaria as condições para a implantação o mais rápido possível do comunismo.Admitia a fase do socialismo,como a da ditadura,se fosse por pouco tempo,como os seis meses da ditadura do consulado romano.O socialismo iguala desiguais e a permanência ,no tempo,desta situação,cria distorções.
Por isso concordo com Slavoi Zizek que de que o termo legitimo é comunismo e não socialismo,que é usado inclusive pela direita(nacional-socialismo).
As distorções referidas são aquelas do inicio do bolchevismo ,que colocava dezenas de pessoas miseráveis em mansões para obter apoio politico,sem considerar muitas vezes que mo meio do povo muitos desqualificados e mesmo criminosos estavam,ferindo,a longo prazo a confiança no socialismo e desestimulando a competição,porque o homem de bem era igualado ao vagabundo.
Não há necessidade de tomar o que é do outro( a não ser por um pressuposto legal provado,seja no socialismo ou no comunismo),nem de destruir as igrejas para oferecer oportunidades a todos,a não ser que se considere determinadas classes ou religiões potencialmente inimigas do comunismo.
Assunto de que falarei mais à frente.