Aqueles que leram o meu artigo sobre Kruschev e o debate
da cozinha,leiam de novo,porque vão entender melhor o que vou
dizer aqui.
O que significou Kruschev ,em última instância,foi a
derrota do projeto bolchevique.A URSS não tinha nada a oferecer aos
seus cidadãos após a morte de Stalin.Faltava,como
sempre,comida,itens básicos de vida,tudo dentro do projeto
stalinista de garantir a URSS enquanto a revolução mundial não
vinha.
O degelo ,no
entanto,veio acompanhado da constatação de que o povo soviético
não aguentaria mais a situação de repressão aliada à escassez.As
decisões fundamentais de Kruschev foram feitas com a corda no
pescoço.Kruschev liberalizou o regime ,em termos,e lançou a “
coexistência pacifica”,pela quê cada partido comunista ,no
ocidente, usaria os meios da democracia para chegar ao poder,sem
interferência da URSS.
A ideia de que se
poderia chegar ao socialismo através da democracia,se deu por causa
deste acuamento,derivado do vicio de origem que era( e é)fazer a
revolução comunista num país atrasado.
Aqueles que lêem os
meus artigos sabem que ,para mim ,esta experiência do socialismo
real está definitivamente acabada.Eu faço perguntas do tipo:
haveria possibilidade de salvar o sistema no governo Kruschev ou no
de Gorbachev,não para salvar o movimento comunista e o socialismo
real,mas para salvar a ideia de uma utopia?
A minha incorporação da geopolitica ao problema da
Utopia,se deu exatamente no âmbito das minhas reflexões sobre o
governo Kruschev.A questão do socialismo na URSS não é senão o do
papel geopolitico da Rússia e do hemisfério norte na mudança
desejada no resto do planeta.
Se houvesse um Partido Comunista forte e enraizado nos
Estados Unidos,em 1929,a História do mundo e do século XX seria
outra,mas não necessariamente, e isto é bom,no sentido de uma
confrontação como a que vimos na Guerra-Fria.A URSS não ficaria
isolada na Europa ,provavelmente, e o socialismo,mais democrático,se
espalharia pelo continente inteiro.Quer dizer, o totalitarismo da
URSS ,causado por este isolamento,não ocorreria.
A abertura de Kruschev
imposta a ele pelos fatos mostra que o socialismo tinha fracassado lá
e que o reatamento das relações comerciais com o” grande inimigo”
marcava o reconhecimento deste fracasso.A “ coexistência pacifica”
era um termo de compromisso para esperar a vitória do comunismo no
ocidente,mas expressava o fracasso.Se a revolução não viesse, e
não veio, a tendência inevitável era o colapso do sistema que se
instalaria,inclusive por causa do comércio com os EUA,porque a
população russa ficaria(como ficou) mais e mais interessada em
consumir,destruindo a conformação criada por Stalin,na década de
30,com os planos quiquenais.
Se lembrarmos direitinho Stalin garantiu a permanência
econômica(que é o que podia mantê-la)do país,privilegiando as
grandes obras,a produção em grande escala, em detrimento do
consumo.O contato com os EUA diluiu progressivamente este modelo.E
levou de roldão o socialismo.
As questões que giram em torno de Kruschev não se
resumem nele,mas no problema geral geopolitico da mudança global,que
não existe se não começar ou pelo menos se fixar lá,no hemisfério
norte.
Eu sou ,ainda,terceiro-mundista.Não vou tratar agora
deste assunto,mas devo dizer que ainda que uma revolução do
terceiro mundista venha a ocorrer,sem adesão do primeiro mundo não
se completa,no minimo.
Na minha opinião,a partir destas reflexões e de
Kruschev,se quisermos apressar um pouco a utopia temos que considerar
este rerferencial geopolitico,subjacente ao movimento comunista.E se
entendemos bem o significado do comércio EUA/URSS,a inclusão do
primeiro país na conexão entre geopolitica e utopia evitará o
surgimento do imenso poder autoritário stalinista da URSS,mas
,eventualmente,ajudará na versão liberal do último
Kruschev(1964),que pretendia um regime multipartidário ou um regime
deste jaez ,humano,como o de Dubcek,na Techoeslováquia.O crescimento
do socialismo nos eua anuncia uma grande possibilidade.