quinta-feira, 20 de setembro de 2018

O imperador Hiroito e Achille Ochetto


Nós não podemos,como ensinava Tancredo Neves,o liberal,deixar de viver ,apesar das crises.A vida continua,apesar das turbulências.Então eu continuo fazendo os meus artigos e o meu trabalho profissional e a minha crítica ao marxismo e ao comunismo ,neste blog.
No artigo anterior eu tinha falado sobre a semelhança da relação dos comunistas renitentes com os ex-comunistas(como eu) e a shindo-remei e o Japão pós-segunda guerra.
O imperador Hiroito determinou a rendição do Japão para preservá-lo,diante de uma nova arma que poderia destruí-lo.Os japoneses que vieram para o Brasil,para fugir da fome em seu país,apenas obedeceram ao seu Imperador,que queria desafogar o seu país,mergulhado na miséria.
A ação da shindo-remei para exigir destes  “exilados” fidelidade ao país,crença de que não havia perdido e que o Japão teria  sua revanche,naturalmente,como qualquer coisa,tem a sua justificativa,no esforço de não dispersar as forças do Japão.Contudo a contradição com o Imperador e a sua ordem é evidente,demonstrando a complexa teia de relações entre as nações e os seus respectivos regimes políticos.Para defender a nação japonesa é preciso passar por cima do Imperador,mas os nacionalistas se colocavam do lado de Hiroito e de sua condição divina, a qual deveria ser recuperada.
Em tudo isto o que avulta em importância é o caráter empedernido do dogmatismo,qualquer um.É o caráter de crença voluntária numa idéia(monismo)capaz de,supostamente,solucionar e deslindar as relações sociais.
A decisão de por fim ao comunismo foi de Achille Ochetto,no momento mesmo do massacre da Praça Tia-na-men.
Existem muitas discussões em torno desta decisão e eu tenho as colocado nos meus artigos frequentemente.Mas agora o que eu quero ressaltar é que a responsabilidade coletiva  dos comunistas nunca houve,ou melhor só houve até ao advento de Kruschev.
A relação entre os comunistas soviéticos e os demais ,do mundo todo,foi definida por Lênin na fundação da III Internacional.Esta relação era de comprometimento com a  revolução comunista mundial.No stalinismo,a perspectiva de um nacionalismo grão-russo,que o sustentava,estabeleceu uma hierarquia URSS e demais partidos, dos quais  se exigia obediência absoluta.
No degelo de Kruschev o policentrismo foi admitido:cada país buscava o seu caminho para o socialismo,principalmente porque os crimes de Stalin revelados implicavam numa responsabilização de todos os outros partidos.Na busca de cada caminho nacional próprio os meios de legitimação eram buscados nos locais,não numa relação com outros países,em que violências e crimes tinham sido cometidos.Isto é,os crimes de Stálin não podiam ser atribuídos aos outros partidos,como não se pode culpar o Papa Francisco pelos desatinos de Torquemada.
Como dizia José Paulo Netto,as viúvas do stalinismo,os crentes num internacionalismo ideal,certos de sua própria culpa não aceitaram e não aceitam estas mudanças e estes conceitos.Mais do que isto encaram estas coisas como traição a um projeto  humanista dos trabalhadores.
Neste sentido estas viúvas raciocinam sobre  a atividade dos comunistas nos termos da época de Stalin,de subserviência.Quando Achille Ochetto disse que o comunismo morreu não determinou que os partidos se diluíssem ou coisa parecida,mas apenas que o PCI não participava mais do movimento e sendo ele o mais prestigiado dos partidos comunistas o impulso geral diminuía ou acabava,mas ninguém estava impedido de buscar,ainda,outros caminhos.
Só que a decisão de Ochetto já era consenso dentro do maiores partidos desde a Invasão da Tchecoeslováquia em 68(assunto para um artigo que eu estou fazendo)e consagrou o fim do movimento de fato.
Quando a URSS acabou, um general se suicidou e deixou um bilhete assim:” tudo pelo que lutei a vida inteira ruiu”.Esta morte expressa o caráter do militante dogmático(como do japonês fanático):ele empenha a sua vida na militância,na ideologia.Ou melhor identifica a sua vida com ela.Quando a ideologia fracassa ou ele vai junto ou não admite o erro,o fim.Para ele a vida não continua,porque não há vida sem a ideologia.Mas a ideologia ,como qualquer discurso,não é maior do que o mundo,do que a vida.A pessoa é sempre uma esperança na continuidade da vida e por isso não há porque não se renovar.Mas para isto há que aceitar a derrota,como qualquer adulto faz.
Eu não aceito patrulheiro de direita ou de esquerda.Mudar de idéia não é sinal de fraqueza ou covardia e em outro artigo  ressaltei que o movimento comunista é o único que fez duas auto-críticas públicas,a segunda definitiva e que ninguém é obrigado a continuar na sua trajetória.
Eu pessoalmente não me considero mais comunista,mas o fato de eu falar sobre Marx e o comunismo significa para certas direitas boçais por aí(youtube e radio)que eu ainda estou lá.Porque não considerar o católico perigoso também?Já que a Igreja dele teve a Inquisição?Quanta gente foi morta em nome de Deus?Por isto toda a pessoa que acredita em Deus é perigosa?