Nós não
podemos,como ensinava Tancredo Neves,o liberal,deixar de viver ,apesar das
crises.A vida continua,apesar das turbulências.Então eu continuo fazendo os
meus artigos e o meu trabalho profissional e a minha crítica ao marxismo e ao
comunismo ,neste blog.
No artigo
anterior eu tinha falado sobre a semelhança da relação dos comunistas
renitentes com os ex-comunistas(como eu) e a shindo-remei e o Japão pós-segunda
guerra.
O imperador
Hiroito determinou a rendição do Japão para preservá-lo,diante de uma nova arma
que poderia destruí-lo.Os japoneses que vieram para o Brasil,para fugir da fome
em seu país,apenas obedeceram ao seu Imperador,que queria desafogar o seu
país,mergulhado na miséria.
A ação da
shindo-remei para exigir destes “exilados”
fidelidade ao país,crença de que não havia perdido e que o Japão teria sua revanche,naturalmente,como qualquer coisa,tem
a sua justificativa,no esforço de não dispersar as forças do Japão.Contudo a
contradição com o Imperador e a sua ordem é evidente,demonstrando a complexa
teia de relações entre as nações e os seus respectivos regimes políticos.Para
defender a nação japonesa é preciso passar por cima do Imperador,mas os
nacionalistas se colocavam do lado de Hiroito e de sua condição divina, a qual
deveria ser recuperada.
Em tudo isto o
que avulta em importância é o caráter empedernido do dogmatismo,qualquer um.É o
caráter de crença voluntária numa idéia(monismo)capaz
de,supostamente,solucionar e deslindar as relações sociais.
A decisão de por
fim ao comunismo foi de Achille Ochetto,no momento mesmo do massacre da Praça
Tia-na-men.
Existem muitas
discussões em torno desta decisão e eu tenho as colocado nos meus artigos
frequentemente.Mas agora o que eu quero ressaltar é que a responsabilidade
coletiva dos comunistas nunca houve,ou
melhor só houve até ao advento de Kruschev.
A relação entre
os comunistas soviéticos e os demais ,do mundo todo,foi definida por Lênin na
fundação da III Internacional.Esta relação era de comprometimento com a revolução comunista mundial.No stalinismo,a
perspectiva de um nacionalismo grão-russo,que o sustentava,estabeleceu uma
hierarquia URSS e demais partidos, dos quais se exigia obediência absoluta.
No degelo de Kruschev o policentrismo foi
admitido:cada país buscava o seu caminho para o socialismo,principalmente
porque os crimes de Stalin revelados implicavam numa responsabilização de todos
os outros partidos.Na busca de cada caminho nacional próprio os meios de
legitimação eram buscados nos locais,não numa relação com outros países,em que
violências e crimes tinham sido cometidos.Isto é,os crimes de Stálin não podiam
ser atribuídos aos outros partidos,como não se pode culpar o Papa Francisco pelos
desatinos de Torquemada.
Como dizia José Paulo
Netto,as viúvas do stalinismo,os crentes num internacionalismo ideal,certos de
sua própria culpa não aceitaram e não aceitam estas mudanças e estes
conceitos.Mais do que isto encaram estas coisas como traição a um projeto humanista dos trabalhadores.
Neste sentido
estas viúvas raciocinam sobre a
atividade dos comunistas nos termos da época de Stalin,de subserviência.Quando
Achille Ochetto disse que o comunismo morreu não determinou que os partidos se
diluíssem ou coisa parecida,mas apenas que o PCI não participava mais do
movimento e sendo ele o mais prestigiado dos partidos comunistas o impulso
geral diminuía ou acabava,mas ninguém estava impedido de buscar,ainda,outros
caminhos.
Só que a decisão
de Ochetto já era consenso dentro do maiores partidos desde a Invasão da
Tchecoeslováquia em 68(assunto para um artigo que eu estou fazendo)e consagrou
o fim do movimento de fato.
Quando a URSS
acabou, um general se suicidou e deixou um bilhete assim:” tudo pelo que lutei
a vida inteira ruiu”.Esta morte expressa o caráter do militante dogmático(como
do japonês fanático):ele empenha a sua vida na militância,na ideologia.Ou
melhor identifica a sua vida com ela.Quando a ideologia fracassa ou ele vai
junto ou não admite o erro,o fim.Para ele a vida não continua,porque não há
vida sem a ideologia.Mas a ideologia ,como qualquer discurso,não é maior do que
o mundo,do que a vida.A pessoa é sempre uma esperança na continuidade da vida e
por isso não há porque não se renovar.Mas para isto há que aceitar a derrota,como
qualquer adulto faz.
Eu não aceito patrulheiro
de direita ou de esquerda.Mudar de idéia não é sinal de fraqueza ou covardia e em
outro artigo ressaltei que o movimento
comunista é o único que fez duas auto-críticas públicas,a segunda definitiva e
que ninguém é obrigado a continuar na sua trajetória.
Eu pessoalmente
não me considero mais comunista,mas o fato de eu falar sobre Marx e o comunismo
significa para certas direitas boçais por aí(youtube e radio)que eu ainda estou
lá.Porque não considerar o católico perigoso também?Já que a Igreja dele
teve a Inquisição?Quanta gente foi morta em nome de Deus?Por isto toda a pessoa
que acredita em Deus é perigosa?