Esclarecimentos necessários.
As minhas afirmações críticas sobre Marx e o
comunismo ensejam interpretações completamente estrambóticas,provindas de quem
não leu nada,de mim e do comunismo.
Com os meus estudos de pesquisador,hoje eu posso
afirmar com clareza que aquilo que Marx ,Engels e Lênin(além do seus
seguidores)entendiam(porque leram,se leram)por filosofia,era um amálgama de
ideologia,religião,politica,panfletos e outras coisas que tais.
Por isso Marx se voltou para o mundo antigo,onde a
filosofia era “ profissional”.Contudo ele só conheceu um filósofo deste jaez na
sua contemporaneidade:Hegel.
Eu sou muito crítico com Husserl e Heidegger,mas
não há como negar que estes
dois,sobretudo este último,” reprofissionalizaram” a disciplina,livrando-a
dos véus místicos,da discussão bizantina sobre “ alma/corpo”(embora ela possa
ser recuperada pelo conceito que ambos utilizam ,”lebensvelt”[mundo da
vida]{esfera da reprodução simbólica}).
O que os autores principais do comunismo moderno
leram foi algo muito diferente e confundiram o transcendente com o transcendental.A
experiência humana e o que está fora dela,respectivamente.
Na crítica que eu fiz há muito tempo ao “ Prefácio”
me referi ao erro de Lênin,expresso em
letras garrafais em “ Materialismo e Empirocriticismo”,de opor as idéias à
matéria.
Em 1912 exilado na Suíça e tendo que estudar,Lênin
leu outro livro discutível “ A Ciência da Lógica” de Hegel,no qual a dialética
é exposta de maneira completa.Ele afirmou que até então não entendera,como a
maioria dos revolucionários,o que era a dialética.Ora o livro “Materialismo e
Empirocriticismo” fora escrito e publicado em 1909,logo já tinha caducado!
Eu faço uma mea-culpa:sempre critiquei Lênin por
não ter lido Kant e mantenho em parte as suas razões,mas de certo modo se a estética transcendental separa o filósofo
alemão de Berkeley,a intenção de Kant é de
opor idéias metafísicas e transcendentais ao mundo real da experiência(já que
Kant não falava em materialismo).
O que Lênin ataca é o neokantismo,o criticismo
embutido em sua filosofia,mas aí também o seu erro ao fazer esta oposição
ocorre e poderia ter sido evitado se tivesse atentado mais para a
dialética,pois as idéias e a matéria se relacionam continuamente na experiência
humana.Isso se Lênin tivesse feito o mesmo que Marx:colocado a dialética de
Hegel sobre o chão e não deixado de cabeça para baixo.Hegel falava das idéias
como criadoras do mundo e não é (só)isto,mas ação, o trabalho, humanos.
A constatação de Marx em 1857,de que o Ser social
gera a consciência social é meramente tautológica,porque é óbvio,tano
individualmente,como coletivamente,que só há consciência quando há “individuos
concretos vivos”(Ideologia Alemã,parte de Feuerbach),mas isto não invalida o “
cogito ergo sum “ de Descartes,porque o existir humano se dá pela consciência e
autoconsciência,não havendo necessidade de uma ciência “ materialista histórica”,que
dê conta total das origens do Ser Social como condição de uma existência
plena,que só é possível,para ele,não só pela constatação desta tautologia,mas
pela revolução ,que libera este (novo) homem do processo de alienação em que está
inserido.
Entre o homem alienado e o libertado,o que
fica?Uma existência inautêntica?Sartre se confundiu muito aqui ao associar o
existencialismo ao marxismo,confiando na proximidade da revolução.A verdade é
que antes da utopia existe autenticidade e até felicidade,o que é inadmissível
para um anti-burguês qualquer.
A existência humana se define pela satisfação das
necessidades humanas,mas estas não são sua razão suficiente,pois os valores,as
idéias,os sentimentos continuam autônomos a exigir atenção,porque o homem,além
de tudo,não é (mais)animal.
É a música dos Titãs:” A gente não quer só só
comida,mas diversão,cultura e arte”.