Os  escritos  publicados em vida por Marx e Engels são 25%
daquilo que ambos(mas principalmente Marx)publicaram em vida.O que não
publicaram,manuscritos que só foram achados no século XX e publicados
notadamente na URSS por Riazanov,são esboços ,segundo eles mesmos,do que
queriam entender com mais clareza.
Estes manuscritos causaram uma celeuma bastante
conhecida,mas hoje,no meu modo de ver,é preciso reconhecer que estes autores
não publicaram estes textos exatamente porque não atribuíam um caráter completo
a eles e só o faziam(quer dizer publicar)quando tinham certeza de que estavam
fazendo ciência de fato.
Esta constatação traz 
conseqüências.Em primeiro lugar é óbvio,e  isto fica claro quanto às questões sobre a
Revolução na Rússia,que existe uma dubiedade e 
uma oscilação nestes textos,admitidas pelos autores,na  busca da certeza.Isto torna estes textos
incanonizáveis e dependentes dos textos publicados,pois estes  últimos são mais importantes.
Em segundo lugar,o princípio do comunismo de Marx  e Engels, a criação de uma sociedade livre da
busca do lucro e capaz  de  criar a superanbundância de  bens ,que libertaria os homens da exploração,é
algo que não pertence  a eles  nem a estes textos,podendo ser discutida por
qualquer pessoa a partir dele(do princípio).
Desde a
Mesopotâmia e  do Egito,com  a dissolução da comunidade primitiva,pelo
incremento da agricultura,que aumentou o volume de produção desta  comunidade,foi preciso um
Estado-administrador,que fizesse  a
distribuição deste novo incremento.Esta distribuição não foi feita de forma
igualitária,mas a   partir de  critérios de 
classe,que favoreciam os setores armados e  ideológicos destas entidades ditas
civilizadas,diferentes da comunidade primitiva.A divisão de classes
correspondia a um nível de crescimento das forças produtivas.
Com o
primeiro surto da revolução Industrial em 1750,ficou claro que a volume de
produção poderia ser infinito(hoje não diríamos isto)e  um filósofo,Johan Gotlieb Lessing,em sua História
da Humanidade afirmou que o incremento infinito dos bens ajudaria a  superar estas divisões.
Desta
fonte Marx bebeu .Ele aderiu ao comunismo ,não  o criou,e 
o seu princípio é este.O comunismo existe desde o século XIX e  é citado no filme “ A Missão”,com Robert De
Niro.Na verdade alguns autores  dizem que
a origem do comunismo moderno está nas reduções 
jesuíticas do Paraguai e do Rio Grande 
do Sul,pela junção do igualitarismo católico-jesuítico e  as novas realidades da sociedade industrial.
A superabundância
superaria a  sociedade de  classes e 
o estado.
Para
Marx,seguindo estes  são antecessores,mas
colocando outras questões, o comunismo deriva de uma sociedade já em grande
parte   socializada,que é o
capitalismo,em que as forças produtivas e 
a luta dos trabalhadores são elementos 
decisivos  e indispensáveis da
sociedade comunista futura,que é criada pela revolução.Não é um ato religioso
de  vontade igualitária,é um processo,que
não prescinde da objetividade das relações sociais e produtivas,do seu
desenvolvimento.
Quando
Marx e  Engels apontam para a possibilidade
de uma Revolução na Rússia eles  criam
uma confusão muito grande  como eu
demonstrei no artigo anterior.Mas como disse neste artigo,eles  revelam ambigüidades e oscilações em textos
não publicados e  em cartas com
interlocutores  europeus e russos ,como
as que eu coloquei no artigo anterior,tiradas do excelente livro de Michel Lowy
sobre “As Lutas de Classe na Rússia.Quer dizer não se deve levar estes
conceitos dogmaticamente.
Neste
livro se pode ver uma resenha de  toda
esta discussão.Lowy mostra que toda esta discrepância  entre Marx e Engels acabou depois.Em 1877 Marx
parece ter mudado a cabeça  de Engels,mas
isto nao foi notado muitas vezes por seus seguidores ,inclusive na
URSS,onde  manuais afirmavam que as posições
de Engels eram as verdadeiras e seguidas por Marx.
E mais do
que isto,no prefacio   da edição  do manifesto Comunista de  1882,Marx tem,junto com Engels uma
atitude  mais prudente,que viria  a ser usada e pensada por Trotski(e por Lenin
) ,no conceito de  “ revolução  permanente”.Eles  dizem  neste prefacio: que  a Revolução na Rússia seria o sinal para uma revolução
necessária na Europa.
Diante
destas oscilações todos temos o direito de discutir tais temas sem aferramento dogmático
aos textos.

