quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Em torno a Guevara VI


Os  escritos  publicados em vida por Marx e Engels são 25% daquilo que ambos(mas principalmente Marx)publicaram em vida.O que não publicaram,manuscritos que só foram achados no século XX e publicados notadamente na URSS por Riazanov,são esboços ,segundo eles mesmos,do que queriam entender com mais clareza.
Estes manuscritos causaram uma celeuma bastante conhecida,mas hoje,no meu modo de ver,é preciso reconhecer que estes autores não publicaram estes textos exatamente porque não atribuíam um caráter completo a eles e só o faziam(quer dizer publicar)quando tinham certeza de que estavam fazendo ciência de fato.
Esta constatação traz  conseqüências.Em primeiro lugar é óbvio,e  isto fica claro quanto às questões sobre a Revolução na Rússia,que existe uma dubiedade e  uma oscilação nestes textos,admitidas pelos autores,na  busca da certeza.Isto torna estes textos incanonizáveis e dependentes dos textos publicados,pois estes  últimos são mais importantes.
Em segundo lugar,o princípio do comunismo de Marx  e Engels, a criação de uma sociedade livre da busca do lucro e capaz  de  criar a superanbundância de  bens ,que libertaria os homens da exploração,é algo que não pertence  a eles  nem a estes textos,podendo ser discutida por qualquer pessoa a partir dele(do princípio).
Vamos relembrar:

Desde a Mesopotâmia e  do Egito,com  a dissolução da comunidade primitiva,pelo incremento da agricultura,que aumentou o volume de produção desta  comunidade,foi preciso um Estado-administrador,que fizesse  a distribuição deste novo incremento.Esta distribuição não foi feita de forma igualitária,mas a   partir de  critérios de  classe,que favoreciam os setores armados e  ideológicos destas entidades ditas civilizadas,diferentes da comunidade primitiva.A divisão de classes correspondia a um nível de crescimento das forças produtivas.
Com o primeiro surto da revolução Industrial em 1750,ficou claro que a volume de produção poderia ser infinito(hoje não diríamos isto)e  um filósofo,Johan Gotlieb Lessing,em sua História da Humanidade afirmou que o incremento infinito dos bens ajudaria a  superar estas divisões.
Desta fonte Marx bebeu .Ele aderiu ao comunismo ,não  o criou,e  o seu princípio é este.O comunismo existe desde o século XIX e  é citado no filme “ A Missão”,com Robert De Niro.Na verdade alguns autores  dizem que a origem do comunismo moderno está nas reduções  jesuíticas do Paraguai e do Rio Grande  do Sul,pela junção do igualitarismo católico-jesuítico e  as novas realidades da sociedade industrial.
A superabundância superaria a  sociedade de  classes e  o estado.
Para Marx,seguindo estes  são antecessores,mas colocando outras questões, o comunismo deriva de uma sociedade já em grande parte   socializada,que é o capitalismo,em que as forças produtivas e  a luta dos trabalhadores são elementos  decisivos  e indispensáveis da sociedade comunista futura,que é criada pela revolução.Não é um ato religioso de  vontade igualitária,é um processo,que não prescinde da objetividade das relações sociais e produtivas,do seu desenvolvimento.
Quando Marx e  Engels apontam para a possibilidade de uma Revolução na Rússia eles  criam uma confusão muito grande  como eu demonstrei no artigo anterior.Mas como disse neste artigo,eles  revelam ambigüidades e oscilações em textos não publicados e  em cartas com interlocutores  europeus e russos ,como as que eu coloquei no artigo anterior,tiradas do excelente livro de Michel Lowy sobre “As Lutas de Classe na Rússia.Quer dizer não se deve levar estes conceitos dogmaticamente.
Neste livro se pode ver uma resenha de  toda esta discussão.Lowy mostra que toda esta discrepância  entre Marx e Engels acabou depois.Em 1877 Marx parece ter mudado a cabeça  de Engels,mas isto nao foi notado muitas vezes por seus seguidores ,inclusive na URSS,onde  manuais afirmavam que as posições de Engels eram as verdadeiras e seguidas por Marx.
E mais do que isto,no prefacio   da edição  do manifesto Comunista de  1882,Marx tem,junto com Engels uma atitude  mais prudente,que viria  a ser usada e pensada por Trotski(e por Lenin ) ,no conceito de  “ revolução  permanente”.Eles  dizem  neste prefacio: que  a Revolução na Rússia seria o sinal para uma revolução necessária na Europa.
Diante destas oscilações todos temos o direito de discutir tais temas sem aferramento dogmático aos textos.