segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Por que os crimes da esquerda não são julgados e analisados?



Porque de um lado muita gente na esquerda se veria em maus lençóis e do lado da  direita não é  conveniente fazer uma catarse histórica que eventualmente mostre que nem toda  a esquerda tem culpa,por exemplo,dos  crimes  de Stálin(mas de outros  também,Mao ,Pol Pot e assim por diante).Na  verdade  a  direita quer  manter estes  crimes intocados para poder sempre  no futuro ameaçar qualquer esquerda de ter algum tipo de  compromisso com eles.É uma estratégia semelhante àquela usada pelas mães da Europa na época de Napoleão:se você  não comer o mingau Napoleão virá devorá-lo,meu filho!.É o lobo-mau  da história.
Por estas razões,acho muito importante a  esquerda atacar de vez este  problema.Só muito raramente se vê um documentário ou uma discussão sobre estes  crimes,mas é preciso encará-los  de frente,mesmo porque eles foram sempre  denunciados dentro dos partidos comunistas .
Achille Ochetto
Uma  das críticas possíveis de se fazer  àquela declaração bombástica de  89 ,de Achille Ochetto,então (último)secretário-geral do Partido Comunista Italiano,” o comunismo morreu”,é  que ela associou esta constatação aos  acontecimentos da Praça Tia-na-men,” Praça da Paz Celestial”,quando a  trajetória  do comunismo chinês  fora sempre  diferente da  do italiano.
Desde a  década de  30 os comunistas italianos compreenderam a necessidade  do “ caminho italiano para o socialismo”.Isto era  uma atitude  óbvia e pragmática,pois  a Rússia não é até hoje a Itália,mas por debaixo desta  autonomização há a  constatação feita por Togliatti  dos problemas que  o stalinismo estava gerando no movimento comunista internacional,notados por  Gramsci na prisão.
Desde esta época até ao final do movimento sempre  ocorreram dissensões e críticas às formas totalitárias do socialismo.Quando Ochetto decreta o fim não leva em consideração que o público em geral não sabia das discussões  internas,teóricas,que levaram a  este termo e isto é  ruim,porque o público entendeu que era uma admissão dos crimes,o que é uma visão anti-histórica e  parcial do movimento comunista,o qual não é  diferente dos outros(talvez  por isso tenha caído),guardando dentro dele figuras sublimes  como o citado Gramsci e tiranos bárbaros  ,como o citado Stálin.
Assim como houve Enver Hodja,houve  Dolores Ibarruri,que denunciou o albanês como criminoso e exigiu a sua expulsão do movimento,o que ocorreu.Enver Hodja matou o seu oponente no Partido Comunista Albanês.
Assim como houve Janos Kadar,houve Imre Nagy,que quis liberalizar o comunismo húngaro,que  tinha no seu seio um dos maiores  intelectuais comunistas,Lukcács,que  foi preso,na chamada “ Revolução Húngara”.
Assim como houve partidos que  aceitaram cegamente as ordens de Moscou outros mostraram os desvios  lá ocorridos,como foi o caso do Partido Comunista Austríaco,que aconselhou Stálin a  fazer uma transição antes que enveredasse pelo caminho do totalitarismo.
Nenhum partido no mundo apoiou o Khmer Vermelho.
Um dos maiores próceres do “ eurocomunismo”,Santiago Carrilho ajudou a  manter a democracia espanhola nos momentos  mais difíceis e até hoje o PCE ajuda.
Nem se fale  no Chile,em que,apesar dos erros,os  comunistas se sacrificaram para provar que aceitavam a democracia.O grande  legado de Allende foi mostrar que era capaz de cumprir uma constituição democrática ao ponto de entregar a própria  vida.
E assim eu poderia aqui narrar uma pletora de exemplos:a carta famosa do comunista francês Lucien Henri,fuzilado dois dias antes da libertação de Paris,à  sua mãe  e  irmã,afirmando que aceitava a morte,o seu sacrifício,em nome  do bem-estar delas e do povo  francês.Pouca gente se dá  conta de que ,em muitas épocas, os comunistas salvaram nações(com a  burguesia  dentro),como foi em todos os lugares  da Europa,na Segunda Guerra.Antes ,a Comuna de Paris,não foi só um movimento dos  operários,mas um movimento para defender a França e Paris do ataque dos alemães.Os nacionalistas republicanos se  aliaram aos alemães de  Bismarck,contra a França.
Então quando Ochetto faz  esta afirmação,cria uma impressão  distorcida do papel histórico do comunismo,que foi deixado para trás  por razões teóricas e científicas,mas possui verdades(e  conquistas) que ainda precisam ser analisadas.
Nemesis
Estar num movimento em que estão Stálin e Mao,causadores de mortes,significa culpa?Wagner ser anti-semita significa que construiu os fornos crematórios?É a  velha  pergunta stalinista:pode-se  julgar a história pelo direito,pelo código penal?Pode-se  julgar a História pela  partícula condicional SE...?
Para mim ,se quisermos renovar o movimento de esquerda,o movimento social,a resposta tem que ser obrigatoriamente SIM.
Não é possível se afastar desta medida de justiça se houver necessidade de convencer os pósteros de que uma visão radical pode ser democrática ,de cabo a rabo,sem vacilações.
Isto é importante porque diante da autonomia dos Partidos Comunistas em diversas nações,muitas violências e injustiças foram cometidas em nome  do movimento internacionalmente considerado e  aparentemente  sem contra-facção,contradição.Aparentemente,porque  como dissemos acima,houve críticas sim.
Na  década de 70 setores do PCI afirmaram que a  questão não era só teórica,mas dos inúmeros  crimes  que haviam sido cometidos,porque no afã de renovar o movimento naquele período, era difícil convencer as pessoas de que  não haveria repetição destes crimes na Itália e em outros lugares.Era o grupo do “ Manifesto”.
Claro que o que  aconteceu na China influenciou a decisão de terminar o comunismo,mas culpa é  outra  coisa.Na medida em que os Partidos tinham autonomia, cada  um deles responde pelo que fez.Assim também,quando Hitler criou os campos de extermínio,em nome de Wagner(entre outros),ninguém foi ao túmulo do compositor ,em Bayreuth,para perguntar aos seus ossos,se concordavam com aquilo.
Há que ter muito cuidado com estas coisas e inaugurar uma nova fase de militância  só é possível se tivermos debaixo do braço a norma,o direito.
A maneira de continuar é  identificar a nemesis real daqueles que praticaram de fato crimes e tirar ,pela catarse das pessoas de bem esta mácula indevida,posta pela direita com a irresponsabilidade e interesse habituais.O medo da direita é que com esta catarse,fique claro,para todos,que muitos militantes,ontem e hoje,foram e são confiáveis,mesmo que,por razões científicas,o comunismo tenha acabado.É verdade sim que muitos comunistas se esconderam,muitos ainda estão aí para  serem expostos  em seus comprometimentos  ocultos,mas há que   jogar luz sobre estas ocultações se quisermos edificar o futuro e usar a experiência  do movimento,positiva e negativa,na sua construção.
Isto sem falar no direito das vítimas.Por causa da incompreensão dos militantes só a  direita defende estas pessoas,aproveitando para fazer narrativas dramáticas muito convenientes  aos seus interesses escusos ,nos dias de hoje e corremos o risco de isto acabar por favorecer o fascismo e outros ismos conservadores e francamente reacionários.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Pausa importante para falar um pouco sobre a dialética



Antes  de continuar  com este  trabalho heterodoxo com o  marxismo  devo  falar um pouco sobre a  dialética,resumindo,pelo  menos  as  minhas convicções diante  das  discussões  dos últimos  100 anos,convicções  que  eu acho que devem ser comuns  a  todos  que têm bom-senso.
O  que  ficou  para o militante de esquerda tradicional da  concepção dialética foi herdada  do “ Anti-Durinhg”  de  Engels,na  passagem  do século XIX  para o XX.Esta visão  ficou ainda  mais  “ firme” quando  do surgimento do marxismo soviético,suposto  guardião  da ortodoxia.
Pela  concepção de  Engels, a  natureza(e  a  sociedade)são  governadas  pelo  movimento  dialético,que estruturaria  de  modo  rígido  estes  dois  campos.Tem a  famosa  história  da vaquinha que  come o  mato,defeca  e  o cocô  unido  à  terra geraria a  flor que  comida  por  outra  vaquinha  daria  continuidade ao  movimento.
Este  seria o esquema  geral  da  dialética  A=não-B>síntese,quer  dizer  o mato como negação  da vaquinha se transforma  na  síntese ,o cocô,o qual  negado pela  terra se transforma  em flor e  assim por  diante.
Gerações  de marxistas  defenderam esta  idéia  contra a visão de David Hume,segundo a  qual as  leis  são hábitos  da  subjetividade,afirmação que serviu de base ao pensamento  crítico de  Kant.O  fato de a  luz  do  sol  bater na água não significa ,de  pronto,que  haverá  evaporação,mas se as  condições  forem  favoráveis  para  isso,sim.
A  natureza  não  é,segundo  Hume,” armadinha”,estruturadinha,mas   probabilística ,o que foi confirmado no século XX,com  o princípio da indeterminação de Heisenberg.A  certeza não é  absoluta.
Todos  nos lembramos  das  discutíveis  afirmações de  Lênin  no “ Materialismo e Empirocriticismo”,contra  Hume e  Kant,mas a verdade é  que  também a  dialética  é probabilística,indeterminada.
O esquema  supracitado de  Engels  não  é  perfeito,nem universal,mas localizado,particular.Se a vaca  defeca  em outro  lugar,numa  rocha  ,por exemplo,o resultado,a  síntese,vai ser outra.Mas  vão me  contestar,haverá  uma  outra  síntese,e  o  movimento geral e universal  continua.Absolutamente.
O esquema de Engels serve  para  um  movimento continuo  biológico localizado em determinadas  condições,mas ele  não é  base universal de explicação da natureza  e  da  sociedade.
Esta  visão  remonta ao  jusnaturalismo,à  concepção de um Deus racional,que estrutura  a natureza  e a sociedade.Para  o  jusnaturalismo,as  leis naturais seriam um padrão transcendente,transepocal:comer,fazer sexo,querer  sobreviver,mas estas  leis  também são localizadas,condicionadas,podendo não ocorrer ou de  forma  diferente(principalmente o item sexual).O  Jusnaturalismo de  São Tomás de  Aquino,por  exemplo,consagrava  que  na natureza só existia  o sexo entre  elemento  fecundante e fecundado,mas na  Idade Média,em  que  ele  vivia,não se conhecia  a partenogênese,o  hermafroditismo.Hoje  se  sabe  que  as  circunstâncias da  evolução impuseram o sexo,mas se  as  circunstâncias  fossem outras, a partenogênese  poderia  predominar.
Mesmo o jusnatualismo é  mais que  questionável e  o modelo  natural  para a  sociedade  mais  ainda.Uma  vez  Gramsci  afirmou  que  Marx(e  Engels)possuíam “  incrustações  positivistas”,mas eu digo  que  ,por  este  pensamento de Engels,por  este esquema  dialético,tanto o positivismo de Comte  como o pensamento  marxista são  formas de cientificismo do século XIX,por  colocarem este  modelo  natural  sobre a  sociedade.Assim o comportamento desviante(anti-científico[anti-natural])seria  aquele  que transgrediria  o que está na natureza.Todas as perversões  viriam desta transgressão.
Com  o crescimento das disciplinas  sociais  no século XX,a  partir de  Freud,ficou  cada vez  mais claro que  as “ leis “  sociais  são  diferentes  das  naturais,porque  autônomas,subjetivas,guardando uma variabilidade que  não condizia  com a  concepção da natureza.Digo  não condizia porque  a  natureza  ,como vimos , é probabilística e  as  suas “  leis”  não são  rígidas,universais ou imutáveis  como pensavam os  grandes pensadores,do século  XVI(ciência  moderna)até o XIX.
Quando Sartre  afirma  ,em sua “ Crítica da Razão Dialética”,que  a  dialética  é produto da consciência ,do pensamento,da  subjetividade,  está  consagrando estas  verdades.
Engels,ao  expor  em sua  “ Dialética da Natureza” ou no citado “Anti-Duhring”,as  leis  do movimento dialético não se  deu conta  de  que  o que  ele  fazia era escolher determinados  elementos  diante dos  conhecimentos adquiridos em sua época.
Se o cocô da vaca fosse  colocado no  vácuo o  movimento  acabaria.
Do século XVI ao XVIII  o  movimento  fisico foi admitido(contra o mundo antigo e  medieval)e  reconhecido,bem como estruturado pela  ciência  física.A partir  do século XVIII a idéia  do movimento na natureza ,na  biologia,  foi  posto como  hipótese na  zoologia,admitindo  que  as espécies  poderiam mudar,contra o que dizia  a Bíblia(com a Arca de Noé).A resposta  positiva da  Darwin  cristalizou o  movimento na  biologia.
Contudo a  sobrevivência  da religião no pensamento  científico,bem como do jusnaturalismo(que no fundo  é  também uma sobrevivência da crença  em Deus[São Tomás de Aquino])manteve  esta  visão  rígida  e universalista  no pensamento dos autores  supra citados,com consequências não só para a ciência(que  se tornou ideologia  em grande  parte[como consciência falsa])mas também  para  a politica.
O  grande    culpado”  desta “ universalização”(falsa) foi Isaac  Newton,com o princípio  da “ unicidade da natureza”,pelo  qual  as  leis  que  ocorrem  no plano terreno  valem para todo o universo(naturalmente isto dava mais força à “ sua”  lei da gravitação universal...).
Hoje  ,pelo que  já foi dito,tal assertiva não tem validade.Até mesmo  a invariabilidade da velocidade da luz(como Einstein afirmou)é  posta  em dúvida,em consequência  da “ indeterminação”(Heisenberg ).O que  ocorre no plano  terreno não necessariamente se  repete no espaço,no universo inteiro.Nós vemos que o universo apresenta elementos de caos,como é  o caso da possibilidade de  cair um meteoro destruidor em nosso planeta.
Quando esta “ indeterminação” foi admitida ,ou suposta,pelos  cientistas(contra  Einstein[“ Deus não joga  dados  com o mundo”])a  arte  intuiu  o fato de  que o ser humano não tem certezas e precisa  considerar que a natureza  não é feita para ele e que a  atitude racional é de  admitir  esta probabilística e  se  prevenir.Ficou  famoso o quadrinho  de Flash Gordon,”No Planeta Mongo”,que começa  com o perigo da  queda de um meteoro na  terra e a humanidade desprevenida,por  sua s certezas  sem saber  como reagir...
Na  questão social e  politica ,a  dialética,concebida como movimento universal,trouxe  danos ainda maiores,porque ela se  colocou como modelo objetivo( a  dialética de Hegel era  idealista a de Marx [e Engels]materialista),que deveria ser seguido pela  subjetividade,num dogma que  foi tido  como obrigatório para  os que eram marxistas e  para  os  que não eram.
Assim se  criou uma  falácia marxista segundo a  qual existe uma  “ciência burguesa “  e uma “  ciência  socialista”,sendo esta melhor  do que aquela por  conhecer e  usar a dialética.A  ciência  burguesa  não se  movimenta,a  socialista  sim.Se Gregor Mendel,um modesto monge,não conhecia  a dialética,sua  ciência não tinha  validade,sendo  “ burguesa” e “medieval”.
Em  compensação  os soviéticos  tinham o grande  Lyssenko que  criou as vacas  socialistas,usando a  dialética.As vacas socialistas eram as melhores   por  causa  disto.Vê-se  um reflexo desta besteira  no episódio do Touro Rosafé em Cuba,na  década de 70,citado e narrado por Fernando Morais  no livro “ A ilha”.Por  ser um touro marxista-leninista  ele tinha tudo para desenvolver,sozinho ,a pecuária daquele  país.Mas ele não aguentou  cobrir  as vaquinhas todas...
Também se destrói uma visão  vulgar da  dialética pela  qual  o  ser se  define  por  tudo o que é não é  ele,numa  irresponsável  atribuição de  relação dialética a  tudo o que existe,chegando às raias do anedótico.Bronowski,que  detestava  Hegel(entre outras coisas por  isto),cita em seu “ Evolução do Homem” episódio  da  vida  do filósofo,dando conta  de  que  certa  vez  alguém o perguntou  como ele explicava,pela  dialética, o fato de existirem(naquele tempo)7  planetas e  não  mais  e  ele teria  dito “ dialeticamente  falando e  confirmando a sua validade,só existem 7 planetas porque não existem 8  ou 6”.
Luckács,na  sua última entrevista,em 1970,também reprovava esta visão vulgar ,dizendo que  o homem  não podia ser definido por  não ser um barbeador elétrico ou uma  vaca.O não ser do homem  não era tudo,não era  qualquer coisa.
A  dialética permanece  como um produto da  consciência ,um método de  prospecção do diálogo,do outro de razão,de  sentimento.Assim ela  sobrevive  como método democrático,de  extração de  pluralidades  autênticas e legítimas.Trabalhar com a oposição,com o outro é  uma  tarefa  que a dialética  pode  ajudar a  fazer.
Pensar dialeticamente assim é admitir  que só pode  haver integração entre  dois  discursos porque  cada um tem uma  identidade própria. A dialética  só se  sustém enquanto admite o diferente(e  a  identidade) como parte do processo de compreensão do mundo e de  sua modificação.
O dogma supra referido se sustentava no falacioso  critério objetivo pelo qual só se integrando a  subjetividade  no movimento se podia dar-lhe  sentido,mas o sentido  da subjetividade é ela própria como identidade real que  busca na relação (dialética)com o outro ,formas de  relação,plurais  e enriquecedoras.
Por isso  esta  visão cientificista,da dialética objetiva,  ajudou o stalinismo em seus horríveis crimes:como o modelo do movimento objetivo significava  progresso era  justo  suprimir a  subjetividade;era justo um poder  politico totalitário exigir  isto,porque esta era a forma   de integrá-la  no movimento(dialético)do progresso,a  sua destinação(universal).
O  stalinismo é o sujeito-não  sujeito,a perversão da  dialética,o sujeito que se comporta não em si mas fora  de  si,ou por  fora  de si,contra  tudo e todos.è  este  individuo que em  nome  da ciência(ou da  ideologia  cientificista)destrói o outro.
O  stalinismo(e  Pol-pot,Mao et al)faz  o mesmo que a  Igreja  católica medieval e inquisitorial.Como intercessores da verdade,dominando  a ciência,o conhecimento (de Deus[o Deus=ciência]),tutelam a  subjetividade,porque mais do que  ela  ,conhecem a sua destinação e  por  isso teriam o “ direito’  de  conduzi-la  ao seu caminho(pela  força  inclusive).
Tanto o stalinismo como a  Inquisição  conduzem a  subjetividade  para seus(deles,igreja e  Stalin)  respectivos Deuses.
Depois  de ela pagar a sua “culpa”,a  dialética  pode sair da  prisão e respirar novos  ares.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Qual o papel possível do materialismo histórico hoje?



Neste sentido ,além da  desmistificação da  realidade  social,(que é  afinal,a  maior  contribuição  materialista de Marx  e  Engels,o seu  novo  materialismo),qual  a  maior  utilidade  ou  utilidades  do  materialismo  histórico,hoje ,entendido  o    materialismo” como,também,experiência  subjetiva  humana?
Tirando de  lado  o  dogmatismo  heterodoxo,o  materialismo  histórico é um método de prospecção de discursos  variados ,como  aqueles  a  que  eu me referi  no  artigo anterior,sempre  na  perspectiva de desvelar  o véu místico  que cobre,não  raro,estes  discursos,bem como  a realidade  social  em  si mesma.
Nós  poderíamos acrescentar  outras  possibilidades  de  discurso,por  exemplo,na  minha opinião,o  diálogo  percebido  por Erich  Fromm   entre  Marx e  Freud,é  mais  que  válido,ainda,mesmo  que  ambos  não  concordassem e  estivessem  ,no  mínimo desinteressados  disto.
Mas  é  a transcendência do  conhecimento,da  ciência,das  ciências  sociais  ,que  governa  o  trilhar este  caminho complexo,mas  cheio de  grandes  aberturas.
Visto  o  materialismo  histórico  como algo  mais  que a pura  constatação da  realidade(despojamento do véu  místico,ideológico),mas  como  conhecimento  transcendente,pode-se  fazer  muitas  aplicações  sobre a psicologia,as  ciências em  geral,sociais e  naturais.
Nas  ciências  naturais  avulta em  importância  o reconhecimento  do  movimento de transformação que ocorre  no plano da  vida e  que sempre  inspirou  grandes  descobertas ,mas  também  grandes  erros.
A  aufhebung  materialista  deriva  da  biologia moderna.Depois  que o  movimento  foi “ descoberto” pela física,a  transformação  ,na  vida, trouxe  muito  mais  do que a simples  concepção de  transformação entre  forma  e conteúdo,ou antes,substância,presente  na  filosofia  de  Aristóteles(modelo,em  muitas  coisas, de  Marx).
Dentro deste  novo  materialismo  histórico é  possível pensar  que as  idéias têm precedência ou,no mínimo,estejam  pari  passu  ,com o  movimento da  sociedade?Penso  que sim,principalmente no  que tange  à  superação  histórica da escravidão,por exemplo(assunto  para  um  próximo artigo).
A  questão do papel  da  Arte,o da  Filosofia  mesmo,enfim,o materialismo histórico  é um método de descoberta,alternativo, de verdades  concretas  que  podem enriquecer a experiência  humana.Nem sempre  com a  concordância de  seus fundadores.e sempre dentro d a divisa:” A verdade é  concreta”.