terça-feira, 7 de abril de 2015

Sobre o conceito de fascismo



Para  a esquerda  a  Segunda  Guerra  e o  Fascismo  são  mais  do  que  fatos  históricos.Eles  representam  a  confirmação de  dogmas  incontestáveis e  que,portanto,valem  até  aos  dias  de  hoje.Um  dos  mais  renitentes  é  o de que  o  Fascismo apoiava  a conciliação de  classes e que  a  esquerda  a  ruptura.Com  base  nisso  a  conciliação  é de  direita  e  a luta de  classes  democrática.Junta-se  a  isto  o  nacionalismo  e  o  internacionalismo:o  nacionalismo  é  fascista e  de  direita  e o  internacionalismo  ,democrático e de  esquerda.
 que  ninguém    que  o  Fascismo,sob  qualquer  das  versões, também  trabalhava  com a  ruptura de classes ,com  um  elemento de  dissensão,que  deveria   impulsionálo    em defesa  de certos  valores.
No caso  do  Fascismo  italiano ,os  sindicatos e os  trabalhadores deveriam  ser  contidos    por  uma  estratégia  de cooptação.Através  de benefícios  ela  não  deveria  desejar  o lugar  da burguesia.
Na  busca  do “  novo  império romano”  as potências  ocidentais(Inglaterra  e  França)eram  inimigas.
Do  ponto de  vista  da  cooptação,aparentemente,  os  dogmas  da  esquerda  teriam  razão,porque  ela  desviaria  os  trabalhadores  do inevitável  e  único  caminho  que  os  aguardava,o  comunismo,o  socialismo e  o  comunismo.
Neste  sentido    a  jornada  de  8  horas  patrocinada  por Mussolini  seria  de  direita,mas  hoje  este  é  um  ganho  da  esquerda,reivindicado  por  ela.Seria um  ganho  de  direita ou de  esquerda?Fascista  ou  comunista?Conciliatório  ou  rupturista?
É  fácil  destruir  dogmas  da  esquerda,destruir  ilusões  infantis.
Se  nós  olharmos  o  nazismo  está    um  conceito  rupturista,dir-se-ia  divisivo:o  racial,anti-semítico.
Portanto  ,como  somos  ,nós  os  macacos  e humanos  descendentes  de um mesmo  tronco,o  socialismo  e  o  fascismo  também e  é  preciso  ter  cuidado  em  não olhar  os  fenômenos  históricos  relacionados  com  eles de  forma retrospectiva,como se fossem  anacronismos.
Depois  do  genocídio e  da  segunda  guerra  é  que  nacional  passou a  ser reacionário  enquanto  internacional  progressista(respectivamente  de direita e  de esquerda).
Quem vê  o  fascismo  ,observa  que  ele  é  internacional,europeu  e  a  URSS,durante  muito  tempo,nacional (e  nacionalista).
Quem  observa  o  desenvolvimento  das  nações  ,do  lado  da esquerda,acha  que  a tendência inelutável do  capitalismo é  se tornar  imperialista e  fascista,como  dizia  ,erradamente,Lênin.Mas  o  capitalismo  criou os conceitos de  cidadania e república  modernos,que  permitiram  o crescimento  da  Ciência  Moderna e  muitos  países  francamente  capitalistas  não  seguiram  este  caminho  inevitável.Aliás  ,estes,nunca  participaram  do imperialismo e  são  citados  mais  abaixo.
Igualmente  a  postura  imperialista  se    na  relação  entre  países comunistas e  países  comunistas  desenvolvidos e  subdesenvolvidos,num “ internacionalismo”  perverso.
Então  não  é  verdade  que  ser  nacional é  ser  fascista ,que  defender  a  relação  entre  as  classes  é  fascista e  ser  internacionalista e  rupturista,progressista.
Engels  errou  em  dizer  que a “ violência  é  a parteira  da  história”,porque existem  momentos  em  que  a história  avança  na  conciliação e  por  outros  fatos  que  não podem  ser tidos  como violentos  ,como é o caso das  grandes  navegações e  as  migrações  dos  povos,pelos  mais  variados motivos.
Não existe  principio  absoluto  em  política,fórmula  acabada,cabendo a  quem  a analisa  não  cair  no  dogma.
Levando  em  conta  o  critério  ético  exigível de  que  a  conciliação   causa  menos  mortes  de  pessoas inocentes  do  que  os  processos  violentos,temos  que  preferi-lo  aos  procedimentos  rupturistas,mesmo porquê  ,no  horizonte,não    perspectiva  de soluções  utópicas  seguras,as  quais,quando  tentadas  ,provocaram  danos  iguais  ou  maiores  do  que  aqueles  atribuídos  ao  capitalismo.
A  menos  que  alguém    ache  que os  países  divididos  em classes e em  paz ainda  assim,como os  nórdicos  e a Suíça,sejam comunistas , ou  que  tenham  chegado a  esta posição  por  pressão  do  socialismo e  do comunismo.
É  possível  fazer  uma  sociedade  progressista  sem a  luta  de classes.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Nacional,mas sem nacionalismo



O  único  caso  em  que o  nacionalismo  é  bem vindo  é quando    a necessidade  de  defender ,por  alguma  razão,os  interesses  nacionais.Fora  isso  nacionalismo é  idealização(de  direita)que  serve  aos  propósitos  conhecidos de manipulação  das massas.
Não    nenhuma  teoria  capaz  de  dar  conta  de  todas  as nações  do  mundo. Quanto  mais  eu estudo  esta  questão  mais  me  convenço de que  Marx e  Engels  ,quando  falavam  em  comunismo  ,se referiam à  Europa  Ocidental,industrialmente  desenvolvida.Para  eles,e  isto  se  verifica  na  abordagem  que  os  dois  fizeram  sobre a  América  Latina(Bolívar),os  outros  povos  eram    sem  história”,povos  caudatários  da Europa  Ocidental.
Eles  padeciam  dos  mesmos  problemas de muitos intelectuais  europeus  de  sua época:o eurocentrismo.
Hoje,no  entanto,o  mundo  possui  125  países,prontos  para  crescer  e  se  desenvolver e  a  questão  da  difusão  do comunismo  sofre uma  modificação,mas  não    quanto  à  complexidade  das  nações.Quanto,também  ao  fato de que o espaço  nacional  não  foi considerado pelos  fundadores  do  marxismo.
Dentro  da  concepção   materialista  ,somente  a  mediação  do  trabalho  era  o    local”  de  libertação  do  homem.Marx  e Engels,como   seus seguidores,não  tinham  noção da autonomia  da  cultura e  das  idéias  como  igualmente  mediações  inelutáveis  de libertação.
Embora , como eu já  disse  antes,tivessem  consciência  da necessidade de  preparação  dos  trabalhadores , esta  só se  referia  aos ganhos reais  que preparavam a  revolução,não  havendo  por  parte  deles  uma  visão  cotidiana  dos  valores,a  cultura  como  finalidade  em si,que  poderia  jogar  um  papel  muito  maior do  que  eles  imaginavam,podendo ,inclusive,barrar a revolução.
Gramsci aprendeu a duras  penas  o  significado  decisivo  da  nação também  para os  trabalhadores,quando  atuava  no jornal  “Ordine  Nuovo”.Certa  ocasião,no  contexto de uma  greve,ele  disse  que  o espaço  nacional  do  proletariado  era a  fábrica.Que a  fábrica  reunia  os  elementos  de  vivência  cultural  dos operários  ,o  que ficou  imediatamente desmentido(causando  danos  à  sua  liderança),quando  os  mesmos  foram  para  casa  resolver  as  suas necessidades  materiais  e culturais.
Progressivamente o  movimento  comunista  notou  que  não    os  operários  deveriam  considerar a  nação  como campo de luta,mas  que  ele  não era  só uma  mediação tática,mas uma  finalidade ,porque  não era mais possível  desconsiderar  os  valores  contidos  na  nação,as  relações  entre  as  classes  e  que  não  haveria  revolução  se  não se  considerasse  o  problema  nacional.
Mudar  a penas  as  relações  de  trabalho  não    conta  das  complexas  realidades  nacionais de cada  país.
Nós  vimos  como  as  relações  sino-soviéticas  azedaram  por  causa  de  questões  nacionais.Na  hora H  as  exigências  de  legitimação interna  dos comunistas chineses  foram  mais  importantes  do quem  a teoria,que exigia  uma   reavaliação do papel d e Stálin.
O s  caminhos  da  URSS,de Cuba e  da China,mostram  que  a exigência  de  legitimação  de  poderes  repressivos,totalitários,recorre  inevitavelmente  ao  nacionalismo,à  idealização.Mas esta seria de  direita?
Para  mim esta  idealização  atende  aos  interesses de  legitimação  política ,num  contexto de  exacerbação  do  programa  social e  por  isso ele  guarda  diferença  com  o   nacionalismo de  direita.Mas  ambos  são ruins.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Em torno a guevara IV



Esta  frase,do  último  artigo,é  de  Guevara.Ganha  a  batalha  da  Revolução  Cubana,havia,segundo  ele,que construir o    homem  novo,sem o  quê   a  Revolução  não  teria  sentido”.
Contudo,no  pensamento de  Marx,a  revolução  começa,tanto no  plano  subjetivo  como  no  objetivo,no  interior  da  sociedade  capitalista.O  Partido  Social-Democrata  Alemão preparou a  classe  operária  para  o  momento da tomada  do  poder.Esta  preparação    não  é  apenas  quanto à  técnica  da  Revolução,mas  é  uma  mudança  na  consciência  dos  trabalhadores não    na  direção  de reconhecer  o  seu estado de exploração,mas  também  para se preparar  para  o  usufruto  da  sua  libertação.
De  nada  adianta  chegar  ao comunismo  com  uma  mentalidade  distorcida,quiçá  influenciada  pela  visão  dinheirista e  antisolidária  que  o  capitalismo  incute  muitas  vezes  no  operário.Não  adianta  chegar  ao  comunismo  sem  ter  uma  visão  consequentemente solidária,construida  na  luta,nos  anos  anteriores.
Deste  modo, fazer uma  revolução sem  esta  preparação  prévia  é  reproduzir  no  interior  dela  os  problemas  do  capitalismo  que    deviam  estar  superados  e  que uma  vez  que  continuam,  atrapalharão a  marcha  para  o  comunismo,senão  mesmo a  impedirão.
A experiência  demonstra  que  as  revoluções  comunistas(na  minha  opinião  não  o  são-falarei  em outro  artigo),para  prosseguirem  diante  desta dificuldade  essencial,usaram  dos  mesmos  aparelhos  repressivos  do  antigo  regime,o  que  as  descaracteriza  como  revoluções,mas  modalidades  do  fenômeno  a  que  eu já  me referi  antes,a  reação  termidoriana.
Uma  das  modalidades  é  esta,mas  existem  outras,que  eu  considero  mais  afeitas a  definir  no  que  se  tornou a  Revolução  Cubana.Cuba  não é  igual  à Rússia  ou  à  China.Ela  descambou  para  uma  solução  nacional.Às  vezes  ,diante  da  falta de  fundamentos,a  queda  no  antigo  regime  se  faz  em termos  de  um  nacionalismo,que  pode  pender  para a  direita ou  para  a esquerda,podendo  ser  simplesmente  autoritário  ou  francamente  totalitário.
O  nacionalismo de  Getúlio  foi da  direita  para a  esquerda.O  de  Perón  ficou  sempre  à  direita.O  nacionalismo Chinês  é de esquerda,embora  com  francas  concessões  ao capitalismo.
Em  Cuba  nós  vemos um  nacionalismo totalitário,tipicamente  latino-americano.Aqueles  intérpretes   que  vêem  o  nacionalismo  como  reacionarismo,chamam  este  tipo  de  situação de    contra-revolução” e dentro  dos  critérios  que  eu coloquei  no  artigo  sobre  o  Termidor,eu  devo  discordar.
Cuba  é  uma exacerbação  do  pensamento de esquerda.Ele  pode  ,eventualmente,  favorecer à  contra-revolução,mas  indiretamente,pelos  erros  de  uma  politica de cima  para  baixo,um  programa  popular de  cima  para baixo.Ela  está  mais  afeita  ao Stalinismo.
É  justo  e  de  se ressaltar  que  nenhuma  criança  durma  na  rua,mas  quando  crescer  esta  criança  protegida  pelo  estado  vai  viver num  nível de  pobreza  que  viveria  num  país  capitalista  e neste sentido  ,como  eu  falei,indiretamente,os  excessos  acabam  por  provocar  as mesmas  mazelas do  capitalismo.
Se  se olhar  aquele  mesmo  artigo,veremos  os  elementos de análise    que  mostram como  não  existe  no pensamento  de  Marx,”  Revolução Nacional”.A  queda  neste  nacionalismo apresenta  os  mesmos  problemas de  uma  tal  “ Revolução”(que  para  mim  não  o é  também).
A  impossibilidade  do Che  de  fazer  a  industrialização  de  Cuba  é  explicada  por  todo  este  caminho  tortuoso.A  necessidade de  exercer um  governo  totalitário  para preservar  a    Revolução”,diminui  um  elemento decisivo  de  todo  o  progresso  material:a  liberdade  espiritual e  educacional de  criar,de  inventar.
Nós  vemos  que  no desenvolvimento altamente  cruel  da  sociedade  industrial  ocidental,apesar  das excudências,que  devem  ser  denunciadas,a  liberdade  para  qualquer  um  inventar  existia(até  Marx reconhecia isto).Os exemplos  são  muitos:Papin,James  Watt,Edison,todos  analfabetos  que  ,inventando  ,produziram  progresso  material e espiritual.
Fazer  uma  revolução  sem  os  paradigmas  básicos,  causa  estes impasses  e ,embora Guevara  fosse  um  dos  mais  consequentes  revolucionários  marxistas,faltava  a ele  ainda  uma  coisinha  a  mais,que nem  a  capacidade de investimento  da  URSS  seria  capaz  de  solucionar.
A  uma  revolução  feita  assim  é  preferível  uma  atitude  nacional,de compreensão  das  necessidades  nacionais,sem  nacionalismo.