domingo, 18 de setembro de 2016

Porque o comunismo tem que ser rápido ou A dialética do revolucionário e da revolução



Alcançadas as pré-condições objetivas e subjetivas do comunismo é  só a  superação do Estado como representante de uma classe o que resta destruir,fazendo a  maioria predominar sobre a minoria exploradora.
Eu já falei em outro artigo que este esquema está ultrapassado  com  a concepção ampliada do estado de Gramsci ,mas de um modo geral se ainda pensamos que numa sociedade futura é possível elevar tanto as forças produtivas,com trabalhadores altamente conscientes(cidadãos) ,num mundo homogêneo e solidário,é possível fazer com  que o Estado adquira ,na sua função administrativa pura e simples aquilo que é a sua destinação impossível  de realizar até agora,por causa da sociedade de classes:representar a todos.
Como Engels demonstrou, isto só será possível quando ele exercer apenas estas funções  meramente administrativas.
De outro lado,como corolário disto,não há necessidade de vanguardas garantidoras deste processo novo.As vanguardas revolucionárias ,quando se perpetuam se totalitarizam inevitavelmente.
É condição,como notara Trotski,de uma sociedade sem classes , comunista,humana geral,que a vanguarda se dilua,porque aí o que predominam são as formas velhas de política,notadamente o despotismo esclarecido.Era assim que  Stanislavski via a figura de Stálin e é assim que Stalin  construiu o seu regime ,como um protetor declarado das artes,às claras ,e um massacrador contumaz,às escondidas(seguindo Maquiavel no capitulo VIII de  “ O Princípe”).
O revolucionário acaba quando o comunismo se estabelece,quando a revolução triunfa de fato.A dialética do revolucionário e da revolução é bem “ estranha”.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O espírito revolucionário e a(-s) sua(-s)tragédia(-s)



Todo o revolucionário o é porque identifica no seu tempo de vida  injustiças tais que ele não admite não resolvê-las(às vezes sozinho...[kkk])nele.
Eduardo Galeano no filme “ Utopia e Barbárie” de Silvio Tendler,dá uma explicação muito parcial e distanciada da verdadeira natureza emocional do verdadeiro revolucionário,em qualquer época,mas especificamente o comunista radical:ele diz que a geração dele(de revolucionários supostamente)fora dominada por uma certa arrogância de querer resolver tudo de uma vez e que isto atenderia muito mais (insinua) Galeano,mas eu desenvolvo)aos anseios de vaidade e reconhecimento(dos jovens,ele insinua[como fora  ele])do que a uma adequação teórica à realidade e à uma sua real compreensão.
E podemos aduzir a isto as freqüentes afirmações da cabeça socialista brasileira que eu tenho reiterado aqui como tal,nestes artigos,Luiza Erundina,que faz afirmações análogas ao dizer que não dá para resolver o problema social num geração só.
Antes de entrar no mérito interpretativo e analítico destas afirmações não posso deixar de citar uma outra figura ,de sensato,que eu admito muito(por não  cair inclusive no conto do vigário do Chaves):Ferreira Gullar.Ele diz:” se nós somos finitos e não únicos ,a utopia(esta afirmação se dá no mesmo filme)é o outro,é para o outro.Por menos que seja o seu apoio,uma ajuda a alguém ou  a uma criança abandonada é  parte da utopia.
A tragédia de todo revolucionário(Che,por exemplo),e  também o comunista,percebida por Gramsci,é que existe uma discrepância (dir-se-á esquizofrênica)entre o coração e a  razão.
Eu gosto muito da série Cosmos de Carl Sagan e muitos que estarão me lendo agora já  a viram e tanto os que o fizeram como os que não,devem se dirigir ao terceiro episódio que é dedicado,na sua última parte a Kepler,o fundador da ciência moderna, o “ herói da ciência” segundo Marx(vocês verão  porque, lá)no qual  no final Sagan expõe o que é o espírito cientifico:’deixar de lado as nossas mais caras ilusões”,como fizera Kepler,que depois de errar em suas teorias ,aceitou uma que correspondia à verdade,mesmo permanecendo desconfiado.
Diante da miséria,o revolucionário que se baseia (supostamente)numa teoria e numa ciência não tem como aceitar que  ela não lhe dê esta resposta imediata,mas foi isto o que aconteceu com a geração de Galeano(e com a minha):uma coisa é querer que o mundo mude logo e a criança faminta se empanturre de comida.É neste sentido que o out door de Cuba “ Quinhentos milhões de crianças vão dormir na rua hoje,nenhuma delas é cubana” resume este desejo,seguido pela frustrante mas necessária  constatação de que o socialismo e a revolução não vêm da noite para o dia e que ele,revolucionário,não verá a utopia  nem de perto.
Esta constatação é o ponto de partida,a meu ver,do recomeço,possível,do movimento,mas para isto algumas conclusões radicais precisam ser feitas.
Não basta reconhecer o caráter geracional da utopia,como faz Erundina,mas há que lhe dar sentido real com atitudes corajosas,que normalmente a vanguarda comunista não toma,pelas mesmas razões do poder burguês que se  sente dono das coisas,do poder que com um toque torna tudo propriedade(dele).
A vanguarda comunista,que contradiz normalmente Locke,para quem a propriedade é fruto do trabalho de “ suas mãos”,usa o mesmo argumento.Na medida em que a vanguarda constrói o movimento não aceita deixar a sua liderança para outra geração.É bonito falar nas gerações,na finitude,mas reconhecer,em vida,a  obrigação de passar o bastão(olha as Olimpíadas aí...)é outra coisa...
Nunca senti orgulho pelo fato de pertencer a um partido (o Comunista Brasileiro)liderado por Prestes ,que que tinha 80 anos e mais de cinqüenta na vanguarda.Nunca vi tal coisa como mérito,mas descolamento total da realidade e das gerações futuras e também vi como desejo(psicótico)de poder,ilusão(ideológica)de ser dono do movimento.
O movimento comunista nasceu numa época em que predominava a visão científica ,em grande parte baseada na ética de Júlio Verne.Recomendo também que leiam com atenção o livro “ Viagem ao Centro da Terra”,onde  Verne expõe integralmente a sua ética cientifica.
A ciência para ele deveria unir os povos,na busca prazerosa do conhecimento,que muitas vezes não trazia benefícios ao investigador,imediatos e para sempre.No final do romance os aventureiros ,debaixo do vulcão,encontram o cadáver de Arne Saknussen apontando o local de saída do “ centro da terra”.Esta belíssima imagem me lembra a passagem do bastão(olha as olimpíadas[e o esporte junto com a ciência]de novo...)nas corridas de revezamentos.Cada um depende do outro para ganhar.Ainda que Arne tenha fracassado,ele pensou nos outros,nas novas gerações que podiam estar na busca do “ centro da terra” e que teriam mais chance do que ele de provar a sua existência.A geração...a outra geração,que me ajudaria no reconhecimento...pensou “ o grande Arne Saknussen”.
Na ciência ,como no esporte,perder pode significar descobrir erros que ajudarão os pósteros  a ganhar.Os erros de Fabiana Murer ajudaram Tiago a ganhar.A lentidão de José Carlos Pace ajudou a  nascer Fittipaldi.
É assim que deve prevalecer no revolucionarismo:a coragem de passar em vida o bastão é condição de construção da Utopia e não acumular forças no seu tempo para entregar a ninguém.
Eu fico pensando se a morte do Che ,em vias transversas,não é uma assomo de vaidade e arrogância(Galeano),por não aceitar que outro faça a revolução e não ele.Não sei se não existe neste sacrifício esta insuportabilidade psicótica e não sei  se o problema das vanguardas não é este.
Voltarei ao tema.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O que é o trotskismo?



No século XX formou-se uma corrente de pensamento anti-stalinista,que pretendeu ser a teoria do marxismo:o trotskismo.Mas como tenho colocado nos artigos anteriores,o que defende Trostky já estava no marxismo,na Ideologia Alemã.Não existe ,desde os primórdios ,no marxismo,algo como “ socialismo num só pais”.
Esta consigna do Stalin,para mim é falsa,é só uma cortina de fumaça,mas que teve uma conseqüência interna na Rússia prática:um imenso totalitarismo,justificado para defender o socialismo do cerco capitalista.
O socialismo num só país era a Rússia soviética se fechar,viver para si  mesma ,até que a revolução social mundial voltasse  e nisto não vai um pensamento stand by,porque a intenção provocativa desta revolução sempre foi parte da atividade política de Stalin e um dos episódios(se não o )que o provam é a Revolução fracassada no Brasil.
Isto é, havia uma aproximação(não fora a primeira vez)entre Stalin e Trotsky,até porque este último achava possível em futuro próximo reverter o quadro desastroso do socialismo nacional de Stalin,mas só que ,naturalmente,a sua perspectiva era provocar a mudança de fora,pela atividade do seu  movimento,que não era seu,mas do marxismo.
Pessoalente eu faço uma comparação ,em termos de vaidade,entre três figuras históricas:César,que  só se  referia a si mesmo ,em público,em terceira pessoa,como se fosse instituição;Napoleão Bonaparte ,que a todo momento gabava-se de suas qualidades político-militares e   Trotsky que o fazia só que com relação às suas virtudes intelectuais.Basta ler a sua autobiografia “ Minha Vida”,que tem valor histórico,mas para descortinar a mentalidade ,a psicologia de Trotsky;alguém que fora sempre contrário à revolução na Rússia,mas que,na minha  opinião,não quis tomar o caminho de Plekhanov e de Martov,mas participar do momento histórico e fazer o seu nome,que estava muito acima das convicções.Pagou um preço alto por isso.
No inicio do século XX,na cisão mencheviques e bolcheviques,Trotsky fez a interpretação certa,segundo o marxismo,de que a revolução na Rússia só seria possível com uma base forte e  segura na classe operária,que deveria ser forte e  segura numericamente também.
Lênin não era desconhecedor desta verdade,mas resolveu passar por cima da necessidade desta base já criada,para preconizar a  sua criação,um erro histórico de conseqüências que conhecemos.
Então nunca existiu o “ trotskismo”.A própria denominação deriva em grande parte destas considerações psicológicas sobre Trotski que se sentiu mais do que herdeiro de Marx,mas um recriador da teoria,o que não corresponde à verdade.


quarta-feira, 20 de julho de 2016

Achille Ochetto II



Na maior parte dos países,depois da Tchecoeslováquia em 68,os Partidos Comunistas,notadamente os vinculados com a o eurocomunismo(uma derivação da  doutrina da “ coexistência pacifica” do Kruschev),aventaram   a hipótese mais que provável do “ fim do comunismo”.
Até aqui no Brasil,por sinais que só a política  oferece e que só o bom observador percebe(porque a política não é discurso,mas sinais)houve alguém que se declarou não-comunista em 1970:Armênio Guedes.
Na época posterior à anistia,ele continuou com esta posição e eu não entendia,como militante,porque alguém que não se considerava mais como comunista,integrava os quadros do Partido.
Adentrando pelos anos 80 ouvi,no sindicato dos professores do rio de janeiro,de Carlos Nelson Coutinho,que ninguém mais na Europa se considerava  “ eurocomunista”,o que equivalia a dizer que ninguém mais era comunista.Ele citou o exemplo da esposa de Leonardo Page,para a  qual “ era incompreensível que ele permanecesse no PCI,já que não era mais comunista”.
Se a  maioria dos militantes já não comungava das idéias,porque esperar que o massacre da Praça Tian-a-men desencadeasse o “ fim do comunismo”,associando todas as experiências partidárias(ocidentais) aos crimes do chamado “socialismo real”.
Ao longo das décadas e principalmente na de 70(depois de 68)tanto a direita como a esquerda radical preconizaram ,em face do caráter totalitário evidente destes regimes,que os “ eurocomunistas” rompessem com eles.
Chegou-se a dizer em 1972 que o ultra stalinista PCF rompeu com o PCUS,quando imagens de campos de concentração foram mostradas nas televisões do Ocidente.
Na época do assassínio programado e inevitável de Aldo Moro toda a esquerda radical apoiou este crime porque ele evitou que o marxismo stalinista,tipo PCUS se implantasse na Itália,no contexto do “ compromisso histórico”.
Hoje eu me pergunto se não teria sido não só um ato de coragem dos partidos ocidentais este rompimento,mas uma necessidade para a  continuidade das lutas sociais dos trabalhadores(ainda que não na direção do comunismo ,que falhara realmente),que teriam muito a ganhar com a experiência destes partidos,que,com problemas,não possuíam as mesmas culpas dos crimes do socialismo real.
Se,como dizia o PCI ,o “ Partido é o que ele deve ser”,porque,no momento em que se vê que a maioria dos militantes não comunga dos ideais,não mudar o seu nome e o seu sentido,atualizando-o(dialeticamente)?Isto não traria,pela coragem da decisão e pela sua verdade,mais elementos para o movimento dos trabalhadores,dando continuidade a  uma tradição que não deveria morrer,já que  a questão social não morreu?Isto não preservaria esta experiência?
A verdade é que o pragmatismo político(que Ochetto representava),com sua preocupação eleitoreira cimentou este sentimento de culpa pelos crimes do comunismo,auto-critica que parecia ser mais eficiente diante das massas do que defender a sua tradição,ainda que solitária (todo revolucionário tem que admitir  a possibilidade de solidão).O pragmatismo de não ficar sozinho chancelou aquilo que já era prática dos partidos:não era questão de mudar a sociedade,mas de  sobreviver a qualquer custo.Era  a questão dos políticos sobreviverem a qualquer custo e os ideais que se danem.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Em torno a Guevara IX



Neste momento nós podemos fazer um balanço desta série sobre Guevara:alguns  conceitos e temas são essenciais para compreender a atividade deste revolucionário comunista que é o único que ainda permanece com uma certa credibilidade,pela  sua coerência e espírito de sacrifício que tem a ver com o que discutimos nestes artigos anteriores.Não  é que isto seja derivado da sua condição pessoal.Ela joga um papel,mas provém do entendimento correto que ele tinha da teoria do comunismo,que não se podia se construir nacionalmente,mas universalmente.
Muitos associam Guevara ao pensamento trotskista,como se isso fosse originalidade de Trotski,mas,como vimos,isto já está  em Marx,na " Ideologia Alemã".
Trotski ,seguindo o pensamento de Marx e dos mencheviques,aos quais pertenceu até a eclosão da Revolução de 17,escreveu um texto em 1903 ,em que interpretava corretamente,como Guevara,a  necessidade de existência de uma classe operária forte na Rússia para garantir o futuro do comunismo neste país.
Na minha opinião  a vaidade siderúrgica de Trotski em querer fazer história comprometeu a sua visão,contradizendo aquilo que ele disse,bem como Guevara ,a vida toda,prejudicando-a,que poderia ter tido muito mais influência se ele tivesse agido como Martov e Plekhanov,que,como também mencheviques,não apoiaram a revolução de 17.
Mas Guevara foi coerente como estes dois últimos,porque ele foi para a revolução mundial ,depois de criticar abertamente o caráter termidoriano e até imperialista da URSS e da China,países que visitou antes de ir morrer na Bolívia.
Tal coerência é o que o mantém como símbolo (e) sobrevivente quase único da ideologia.